Romances & Sátiras

As canções, poesias, e os lugares pertencem à quem os vive naquele momento, e lhes dá a interpretação e significado próprios que lhe vão no íntimo.  Nada é de alguém e nem para sempre! 
 

***

 

POR QUE O NOSSO ADEUS TEM QUE SER TRISTE?


Sabe, agora que o fim se aproxima rapidamente, eu quero lhe dizer algumas palavras, e peço desculpas antecipadas se não conseguir expressar corretamente o que sinto.

Você foi um sonho que acalentei por muitos anos, e confesso meu medo em realizá-lo. Não foi fácil vencê-lo, mas eu consegui.

Eu a escolhi e procurei com critérios, carinho e modéstia, buscando suas qualidades intrínsecas, muito além de modismos, fama e aparência. Você percebeu a cada silencioso sorriso meu, a confiança e orgulho por tê-la junto a mim.     

Sempre soube o que você é! Suas boas qualidades e defeitos, seus perigos. Aceitei e assumi os riscos conscientemente. Houve respeito e prudência entre nós. Não pedi o que você não pode dar e reconheci, de pronto, que muito do que você oferece está acima da minha capacidade.    

Muita gente diz que as relações têm um começo, meio e dane-se! Não penso que a despedida obrigatoriamente deva ser assim.

Penso que as boas lembranças devem ser guardadas em nossos corações e memórias. Foram pedaços das nossas vidas que partilhamos, e naqueles momentos vividos fomos felizes um com o outro.

Não é porque não mais teremos vida em comum e seguiremos caminhos diferentes, que precisamos renegar o que foi vivido, e diminuir-lhes o significado e importância.

Cada paixão, amor e pedaço de vida, tem seu lugar próprio em nossos corações e mentes, que são grandes, e comportam a todos. Nada e nem algo precisa ser excluído.

Ao lembrar e falar sobre nós, eu direi com orgulho: Nós vivemos! E no nosso espaço próprio, continuarei afirmando: - Você é a melhor!

Acontece que a mudança é a Lei do Universo. Coisa alguma permanece estática e imutável. É assim que ocorre o que é chamado de evolução.

A vida mudou, eu mudei! Não há mais o que tínhamos entre nós, temos que reconhecer este fato inegável. Nós fomos nos distanciamos, e somos honestos o suficiente para isto admitir.

Os sonhos que realizamos juntos ficarão para sempre na memória, na nossa história e no coração. Os que não conseguimos realizar morreram, alguns por inviáveis, outros por perda do encanto.

Não maculemos o que restou de belo, por tolo sentimento de obrigação de mostrarmos que ainda somos os mesmos. Já não somos “nós”, mas sim, as individualidades de você e eu!

Não podemos e nem devemos insistir num caminho comum que poderá nos trazer infelicidade irreversível e apagar tudo o que houve de bom entre nós! É sábio reconhecer isto.

Vou me despedir agora de você, desejando que você viva com outrem, momentos tão bons e até melhores dos que os que tivemos.

Amanhã ou depois, farei sem dor e com respeito, o que é preciso para romper os laços que ainda nos unem. E quando se for, linda e imponente na sua modéstia, já se adaptando a outrem, eu a olharei se perdendo na distância, passando a nossa vida em comum para a esteira do tempo.

E então, agora lhe digo: - Muito obrigado pelos bons e inesquecíveis momentos! Seja bem cuidada: 







Terei outra? Ainda que semelhante, próxima ou parecida com você? Acho muito difícil, porque as circunstâncias que ajudam a nos separar tendem a se acentuar.

Talvez, eu esteja apenas voltando para outra casa minha. Se é em definitivo ou não, também não sei. Mas eu sei que não há nada de errado em retornar àquilo que um dia fez feliz e que o coração chama de volta, quando presentes as condições para tanto.

Não se sinta usada e traída! Tudo tem seu tempo e medida. Para você, é hora de estradas. Para mim, é hora de mares!






Porém, deixo uma última observação: A beleza de estradas e mares, novos ou os mesmos, está nos olhos de quem os vê!


 VAYA CON DIÓS MI AMIGA, Y MUCHAS, MUCHAS GRACIAS!  

 

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   - VAI CAÇAR SAPO...!!!

 

Cada cabeça, uma sentença; cada fase, uma prioridade! Pelos efeitos chega-se à causa; pelos sintomas na doença! Amor sem sexo é amizade, e sexo sem amizade é apenas desejo! E se me perguntarem o que é amor sem amizade, eu direi que é platônico, e amizade sem amor é mera simpatia ou conveniência de momento. 

 

Teoria sem prática é conhecimento inútil, e prática sem teoria é mecanicidade. 

 

Contudo, nada mais enfadonho do que gente complicada que disseca cada vez mais sobre cada vez menos, chegando ao ápice quando pensa saber tudo a respeito de nada. Entretanto, a recíproca não é verdadeira, porque o máximo da sofisticação é a simplicidade, e nada existe de mais puro e verdadeiro que o sorriso espontâneo que ilumina todos ao derredor.

 

Se pensar é o divertimento mais complexo que existe, nada mais cansativo do que o pensar a cada momento, policiando palavras, expressões e comportamentos. A repressão e a limitação traduzem medo de perda, e por  lastro o receio de rejeição. É o cúmulo do desgaste, a trazer por si o afastamento e a ocorrência do temido.

 

Muito cá entre nós, e com o devido respeito aos esforçados e sapientes: Policiamento destrói a essência, e pensar cansa!

 

O resumo da arenga toda?   Nada mais gostoso que ação e aceitação ao natural. É fonte inesgotável de diversão e felicidade, a gerar mais naturalidade e espontaneidade, mais convívio e mais alegria em tê-lo. 


Quer coisa mais saudável e gratificante do que uma noite de sono bem dormido a dois? Gente desdormida é o que há de mais cansativo e de mau humorado.  Não há paixão e policiamento que resistam! 

 

Quer familiaridade mais gostosa do que o "teste do picapau", um a olhar para os cabelos espetados do outro ao acordarem, e começarem o dia rindo?  

 

Que dizer dos comentários sobre os roncos e acontecimentos noturnos, que resultam em guerra de travesseiros


*

Muitos vão discordar do meu entendimernto e acrescê-lo, perguntando e falando da tal "paixão que tira o fôlego", em nome do que tudo é possível - e  das tantas besteiras que são feitas. 

 

Responderei com outra pergunta: - Que nome se dá ao sentimento que faz  rir sozinho(a), ao lembrar das conversas e piadas particulares de ambos?  Que nome se dá ao riso profundo de bem estar, quando um deles responde a piada infame com um: 


- VAI CAÇAR SAPO!

 

 

 

 

Neste sentido figurativo, sapo é bom para ser caçado, pois o momento, tom e de quem partiu o ordenamento, disse: - Eu te gosto!

 

Caçar sapo para fins de beijo matrimonial também é válido, conforme dizem as entendidas,  pois relação afetiva e amorosa obrigatoriamente é fonte de alegria e felicidade, e por isso, "engolir sapo" está fora de questão! 

 

Continuando o assunto, que nome se dá à certeza de que são companhias indispensáveis, um ao outro?

 

E na sequência,  se emendará com outra gostosa risada, lembrando do sábio e simples ensinamento dos antigos, que ela tão bem transmitiu: 

 

- Eu não deixo meu véio solto não! Vai que não volta...! Então, se é moto, é moto! Se é acampar, é acampar! Estou em todas! 


E ele se dará uma bronca, por não respondido à ela imediatamente: - E quem disse que eu quero ficar sem a minha véia? 

 



*      

 

E de pensar e penar que tem gente que prefere situações tensas, inseguras e complexas...! 

 

Da minha parte? Esqueçamos, desde muito,  discussões, digressões e confusões!  Prefiro obedecer e ir caçar sapo, mesmo porque, antigamente me mandaram  lamber sabão!

 

      

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A CULTURA DA TRANSA!

 

Estava eu proseando com um casal de amigos, e o assunto era "cantadas", e defendi o ponto de vista, de que, quando há interesse, não há necessidade alguma de aplicar a tal cantada, porque em termos de comportamento, homens e mulheres são muito mais parecidos do que se pensa. 

 

Se a mulher tem interesse no cara, ela vai sinalizar. De uma forma ou de outra, ela sinaliza. Não há necessidade alguma de criar situação constrangedora, e nem de provocar o vexame da portada na cara.

 

A recíproca não é verdadeira, porque ainda vivemos a cultura da cantada! É forte o ranço da arcaica mentalidade que traduz: - Marmanjo está em contínua atitude de conquista e cantada; Mãe é mãe, o resto é puta; mulher deu mole, cai matando! Tem mais é que ser garanhão e "traçar todas"!

 

Existem muitos marmanjos que vivem neste estágio, porém boa parte das mulheres, em variadas gerações, também a tem: - Homem é tudo igual, não presta. Se deixar, te pega mesmo! Só pensam "naquilo"!

  

E por assim pensarem e sempre agirem, muitas vezes as pessoas que se aproximam amistosamente, buscando uma boa amizade, e até mesmo companhia - gregários que somos, encontra a parede invisível, a dizer-lhe em letras garrafais: - Nem tente!

*

Esta  "mistura de estações" ainda gera muita confusão? Sem dúvida que sim.

 

Há quem confunda o sorriso de "quero ser tua amiga", com o de  "estou interessada em ter um caso contigo". E há quem interprete um oferecimento de amizade, uma cortesia ou cavalheirismo como: na minha casa, na sua, ou no motel?

 

Esta cultura da transa é tão forte que cria contradições estranhas. As pessoas bem se vestem e se arrumam para serem vistas, inclusive na rua, quando transitam. Mas desviam imediatamente o olhar quando miradas, dizendo claramente com a atitude: - Não sou para o teu bico!

 

Em mera gozação, poderíamos dizer que, dirigir-lhes o olhar é que nem folhear a revista do National Geographic: estamos vendo lugares que nunca visitaremos. Em nível mais sério, diríamos que apreciamos o que é bonito: carros, telas, mangalarga mineiro (o marchador), e nem por achá-los belos os queremos para nós.    


São duas as situações que me divertem: a da cantada mal sucedida, e a afetada reação à interpretada intenção de cantada que não houve.   

 

Em ambos os casos houve erro de avaliação e conclusão, além de imodéstia.


No primeiro caso, a "portada na cara" foi mais que merecida, e no segundo, deveria ser previamente considerado que:  se a atitude foi no exercício da "Cultura da Transa", mantida a "classe" em qualquer circunstância, que houvesse ao menos o tradicional convite para "jantar e conversar num local mais sossegado e privativo".         


Tem interesse em alguém, seja lá para qual for o fim? Forme um clima agradável com a tua presença! 

 

Em termos de interesse para romance os sinais são claros e inequívocos. Se não foram dados, artimanhas e cantadas são inúteis. 

 

*** 

 

 O APÓSTOLO DA LIBERDADE X DIA DE FAXINA!

 

Tempos  atrás, escrevi que as pessoas clamam por amor, companheirismo, tecem juras de convivência eterna, e criam lindas frases sobre o amor e velhinhos em silêncio na frente da lareira, mas que, no entanto, só querem o lado bom do relacionamento, da convivência, e que, por coerência e lógica, deveriam permanecer em nível de Pinto (ou Perereca) amigo(a), relacionamento que os gringos chamam de "amizade com benefícios".

 

- Pra que adquirir um porco se podemos ir no mercado e comprar o quanto queremos de presunto já fatiado, e com garantia de origem e qualidade?

 

Por tamanha irreverência e desrespeito, por que não dizer heresia,  algumas pessoas ficaram um mês sem falarem comigo, e na continuidade das represálias, me bombardearam com o triplo das frases melosas e de efeito, criadas para a ocasião.

 

Hoje, por continuar a observar, noto que, o sistema em questão, e que anunciei no meu livro: Descoberta Vida Após o Divórcio, e no escrito anterior, está na mais franca explosão:

 

É cada um na sua casa, com seu sistema, familiares, bens, abacaxis e  programas individuais, sem que isto impeça afeto, solidariedade,  camaradagem e companhia na dose desejada!  

 

Por divulgador do sistema (apenas falei o que muitos só pensam), num encontro de amigos me chamaram de: Apóstolo da Liberdade. 

 

É claro que, expertizes do ramo já sabem o cêntuplo disso, há décadas! Sou apenas um reles mortal que vive, observa e relata suas conclusões.

*

 

Morar só tem encantos próprios, dentre eles, manter a arrumação ou desarrumação do jeito que você gosta, dando importância e prioridade ao que é importante para você, e não para outrem. 

 

Aqui, cabe uma ilustração sobre gostos e valores: conheço um pobre diabo, como ser humano, que aceita e sustenta a amante (e respectivos familiares) da esposa, porque esta: mantém a casa e as roupas dele arrumadinhas.

 

E conheço uma mulher que deixava apodrecer fraldas sujas de fezes em baldes d'água, se dando o mesmo com panelas de comida velha em cima do fogão. 

 

Assim, é de esperar de tudo neste mundo. 

*   

 

Já na área do improviso e criatividade, tenho um amigo que, quando morava sozinho, secava as meias numa cafeteira. Eu já fiz a experiência no ventilador de teto. 


 

Tem gente  que não cozinha e come mal, porque não quer sujar panelas e fogão. Eu já sou "de lua": há fases em que cozinho bastante, e há aquelas em que vou de pão com mortadela. 

 

 

 Porém, seja qual for o teu grau de sanidade ou falta dela, o teu estabelecimento necessitará de um mínimo de ordem e limpeza para receber alguém. 

 

Por mais que se entenda e desculpe a "descontração e informalidade, e homem não liga pra casa", há um limite sim para a porquice, e uma cucaracha pode estragar um fim de semana.

 

 * 

 

Se à cada direito e liberdade corresponde um dever e responsabilidade, isto nos traz por consequência, que cada um terá que providenciar a habitabilidade do seu estabelecimento, considerando a regra social da retributividade, que dispõe: se você aceita convites, deve fazê-los!

 

São apenas duas alternativas:  ou você faz, ou paga para fazerem!

 

Para mandar fazer, você tem que saber fazer, a fim de que não seja solenemente tapeado. Ou seja: mais cedo ou muito mais cedo, voce vai ter que encarar o batente. 

 

 As mudanças na legislação trouxeram ainda mais riscos para quem pretende tão somente serviços esporádicos. No restante do mundo, impera a negociação, e aqui se impõe a adoção, sendo o maior beneficiado, o próprio instituidor da norma legal. 

 

Portanto, ou registra como funcionária, ou terá diarista uma vez por semana. E sugiro cuidado, porque em breve os conceitos legais mudarão. 

 

Disse uma pessoa conhecida: trabalho muito, para pagar quem faça os serviços que detesto em casa! Cada cabeça uma sentença, cada gosto um bolso! 

*

 

Aqui, eu tenho a D. Sueli! Mulata de 100 kgs., forte, cara feia, nenhuma prosa, meio chegada a locomotiva: começa bem devagar e vai embalando, e o meu maior cuidado (depois de esconder tudo o que quebra), é não atravessar o trajeto dela, pois ela é muito ruim de freio, atropela mesmo.

 

O meu ritual começa com vários dias de antecedência, com agendamento do dia, redistribuição de tarefas profissionais, e  na véspera, providencio todo o material necessário. 

 

Escondo tudo o que não pode desaparecer e me preparo espiritualmente para não me aborrecer. E então:

 

 Assim se cumpra e assim se faça! AMÉM

 

 *

 

 Qual a conclusão que se tira de tudo isto? As pessoas não precisam de mais aborrecimentos do que aqueles que já têm! A questão é só escolher de qual aporrinhação você não conseguirá escapar! 

 

A minha escolha? 

 

FAXINA JÁ!

 

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A CURVA DA MORTE & CARA DE "DR"

 

Na sua motóca, pela estrada à fora,  lá se foi o "boy geriátrico", o "old boy", o cowboy do asfalto, o último biscoito do pacote.

 

Tão embevecido com seu poderio e novos amiguinhos, que fez a tomada da "curva da morte", a quase 90 km/h. 

 

Dianho de motóca maluca,  que escorrega a frente,   "solta a bunda" e se pôe a sambar, bem na horinha que a curva fecha mais do que aparenta, e na pista contrária vem o "FENEMÊ", tão próximo e nítido, que visíveis as marcas de ferrugem no parachoques e o palitar de dentes do pachorrento condutor.

 

Num átimo, os instintivos reduzir de marcha e suave acionar do freio dianteiro, a por cobro parcial no desatinado bailar, e o indispensável estacionar para do susto recobrar, e num desabafo exarar: 

 

- PQP! QUE M....  ESTOU FAZENDO AQUI? PODERIA TÃO BEM ESTAR FAZENDO ALGO DE ÚTIL: PROCESSANDO ALGUÉM; COMETENDO ADULTÉRIO, CASO CASADO FOSSE; FAZENDO UM TIROTEIO NA ZONA...!!!

 

- MOTÓCA GAFANHOSA! TE DIREI ADEUS! VOU NAMORAR SERIAMENTE; IR NA FEIRA DE MÂOS DADAS; FAZER ALMOÇO; ATURAR A FAMÍLIA DELA LEVAR NO "SHÓPIS"!

 

 Pensando e agindo, fez o retorno no afã de para o lar retornar, quando acometido foi, de salutar empirismo, lastrado em inconteste cientivismo:

 

- A fisionomia pétrea feminina, indicando  iminente tempestade, e o desdizer:  "Não é nada"! Seguido em minutos da declaração: - Voce sabe muito bem o que foi! Temos que conversar sobre alguns pontos do nosso relacionamento! Assim, como está, não dá...!!!  

   

 Novo  estacionar, outro retorno a entabular, para, veloz, o rumo original retomar.

 

A curva da morte mais uma vez se aproxima. Para os olhos experimentados pelas luzes de mil confrontos, não há mistérios. Os ouvidos calejados pelo som de milhares de destemperos, bem dimensionam os giros do motor. 


Com a ousadia do conquistador, leveza do bailarino, precisão do esgrimista  e cautela do ourives, a curva da morte foi encetada e vencida a mais de 110 km/h. 

 

De tudo, restou o cafezinho no destino e a saudável lição de cunho pedagógico: 

 

Em seara de curvas com motóca e DR conjugal:

 

"TITUBEATUS SUNT, ENTERRATUM EST !"    

 

  ***

 

O olhar do coração! 

 

Dizem que os olhos são o espelho d'alma. Eu acredito! Principalmente porque a alma reflete o que vai no coração!


Os olhos transmitem tudo, até mesmo a falta ou vontade do que transmitir.


Dentre todos os olhares, um deles se destaca: não pela opacidade da indiferença; o metálico da ira; o rutilar da alegria; o calor da paixão e do desejo; a frieza do desencantamento, e nem o sarcasmo do desprezo e o gume da advertência.


O olhar de que falo é raro, porque dificilmente é oferecido, e  porque só é percebido por corações em comunhão. 

*

Falo do olhar que desnuda a alma que ama, e que se mostra por inteiro,  livre de medos e convenções, despojada de tudo o que não seja o amor livremente oferecido. 


É um olhar puro, límpido, macio,  intenso, sereno; úmido pela imensidão do sentimento de comunhão, e a tristeza pelo limite existente entre dois seres.


Digo da ternura infinita que transmite; da doçura sem fronteiras; do aconchego com que acolhe e envolve o ser amado, da proteção que respeita a individualidade.


Se este olhar pudesse ser explicado em palavras, seria entendido com o coração, nesta frase que não é minha, mas de alguém que soube amar:

 

E o amor muito amado fala manso!  

 

*** 

 

Tu me encantas e sacias, mas não me rendo a ti!


Mais uma vez, levados pelo desejo ardente, nos encontramos para nossos desígnios celestiais, traduzidos na satisfação dos instintos viscerais. 

 

Meus braços te  retiveram e conduziram, meu corpo ao teu se amoldou, para o cálido acolher, e juntos, trespassamos as fronteiras do indivisível.    


Do teu corpo ardente evolaram ondas tórridas a me chamuscar, e os teus gemidos em gritos se converteram, à cada sôfrego solicitar. 


Te torceste e contorceste, mas unos, contido foi o meu desejo de levar-te aos extremos, e retida  a tua fúria por quatro jornadas, e quando enfim, no manso arfar da quinta etapa nos entregamos, a subir e descer, a virar e revirar, ora brandos, ora abruptos, demos novos significados às conhecidas emoções e familiaridade  às novas.    


Mais uma vez não me rendi ao fascínio dos teus encantos, e nem embotados permiti fossem os meus sentidos, pois sei que, quando contigo, sou teu e de mais nada e ninguém. Possessiva, tu sentes, pressentes e te ressentes, de  qualquer átimo de perda de cuidados e atenção que te são únicos.


Tu me encantas e sacias, feiticeira! Sei que me tentarás! Mas não me rendo à tua magia, pois fui a ti sabendo quem tu és, e meus limites não te darei a conhecer!

 

 Eu to falando dela:

 


 ***

 

   A QUE HÁ DE VIR



Aquela que dormirá comigo todas as luas
É a desejada de minha alma.
Ela me dará o amor de meu coração
E me dará o amor de sua carne.

Ela abandonará pai, mãe, filho, esposo
E virá a mim com os peitos e virá a mim com os lábios
Ela é a querida de minha alma
Que me fará longos carinhos com os olhos
Que me beijará longos beijos nos ouvidos
Que rirá no meu pranto e rirá no meu riso.

Ela só verá minhas alegrias e minhas tristezas
Temerá minha cólera e se aninhará no meu sossego
Ela abandonará filho e esposo
Abandonará o mundo e o prazer do mundo
Abandonará Deus e a Igreja de Deus
E virá a mim me olhando de olhos claros
Se oferecendo à minha posse
Rasgando o véu da nudez sem falso pudor
Cheia de uma pureza luminosa.

Ela é a amada sempre nova do meu coração
Ela ficará me olhando calada
Que ela só crerá em mim
Far-me-á a razão suprema das coisas.
Ela é a amada da minha alma triste
É a que dará o peito casto
Onde os meus lábios pousados viverão a vida do seu coração

Ela é a poesia e a minha mocidade
É a mulher que se guardou para o amado de sua alma
Que ela sentia vir porque ia ser dela e ela dele.

Ela é o amor vivendo de si mesmo.

É a que dormirá comigo todas as luas
E a quem protegerei contra os males do mundo.

Ela é a anunciada da minha poesia
Que eu sinto vindo a mim com os lábios e os peitos
E que será minha, só minha, como a força é do forte e a poesia é do poeta.

Vinícius de Moraes


***


AMAR É NÃO TER JAMAIS QUE PEDIR PERDÃO!


O plúmbeo azimute em declíneo, semiencoberto por esparso nubiloso, o brisar a invitar recolhimento e aconchego alcovitar, e o chilrear a indefinir cotovia ou rouxinol, demarcou interregno no nenúfar acariciar.

Os destinos próprios de duas individualidades, almas que se tocam, que se unem, mas não se fundem, senão temporariamente, os fez interromper o melífluo pipilar, e atentar para o tênuo limite entre elas, quiçá, por desídia da Divina Improvidência, que, se criou o amor, não proveu os meios e estados espirituais para vivê-lo a cada quão momento.  

E do amor criou-se o escândalo, numa explosão atlântica, pela utilização da mais tradicional expressão no vernáculo pátrio, a indicar adversidade e quejandos: 

- Querido! Temos que tratar de um assunto sério e chato! 

A adiabática no tom, termos e assunto, de pronto, desenfunou as velas das vestimentas, até então fomentadas por alísios, deixando-as em estado de inércia, qual em lapso de monção. Contudo, a sanidade muitas vezes questionada, o impeliu instintivamente para a merecida atenção e encômios à ela devidos:

- Dizei-me, óh! Dama por quem me aflijo! E à quem sempre suplico que consintais, com que eu introduza "o com que mijo, no por onde vós mijais"! (essa é do Juca Chaves), onde e de que forma posso amenizar seu profundo penar, nos recôndidos do seu límbico cerebrar? 

E ela, com o perolar sorriso a contrastar com a férrea expressão no olhar, lançou-lhe a pecha acusatória: 

- Estávamos debatendo o meu não ir ao seu residir, para sequência darmos ao porvir, quando, por plúveo coquetismo, advindo da extremada estima que vos devoto, indaguei-te se da minha pessoa sentirias falta, e dos possíveis benefícios que do meu parco afastar adiviriam. E vós, energúmena azêmola, assim me respondeste: - Assim poderei utilizar-me das instalações sanitárias sem do mundo isolar-me e para tabaquear, nas frias adjascências serviçais não necessitarei me quedar!   

Assim tendo exposto e fundamentado, passou a varoa a sentenciar:

- Afastai-vos do meu leito e presença, vil e abjeta criatura, até que eu entenda por cumprida a sentença que hei por bem fixar, e que, fala-ei executar, ainda que por mal, e  entenda por redimidas tuas aleivosias, entraves, descortesias, indelicadezas e insensibilidades. 

Cabisbaixo e meditabundo, verdadeiramente macambúzio e sorumbático, o varão (não mais em estado de vergalhão), olhou-a, como pela primeira vez, lembrando-se da ausência de cores a marcar momentos separatícios, a saber que, o cerrar da porta aleijaria a comunhão  de ardores e contubérnio, pelo lapso temporal indispensável ao flagelar expiatório.

E então, no ápice do desespero, sem rumo e alento vislumbrar, atirou-se ao noturno vagar, em lento caminhar, nem cogitando em sedativo eficaz (ou genérico), pois amputaria era um tempo do verbo que não conjugaria. 

Submisso, mas não resignado, recorrendo ao poder de síntese, externou em voz alta, para os caninos e felinos pelas ruas também a vagar, a essência do que lhe ía n' alma e quimbas: - EXCREMENTO DE VIDA!  

***