BAFAFÁ HOJE NO SANTANDER !
Mais de 70 pessoas num salãozinho, muitos em pé, chegando mais gente, tudo travado, maior converseiro em celulares: de receita culinária à ameaça de morte. E duas crianças correndo e gritando, atormentando a todos.
Um idoso chiou, e NADA! O guarda chamou a atenção dos fedelhos, e, menos ainda! A avozinha das ferinhas só no proseio com uma gorducha no melhor estilo “Moby Dick sexy”. Até que alguém deu o esbregue:
ESBREGANTE: - OLHA ESTAS CRIANÇAS AQUI! COLOQUEM NUMA JAULA ACÚSTICA!
E o pau comeu!
MOBY DICK: - Por que? São criancinhas! Não podem brincar?
ESBREGANTE: - Estão incomodando muita gente! Aqui não é lugar de gritaria! Não incomodo ninguém, por que tenho que aturar crianças mal criadas alheias?
MOBY DICK: - Temos que ter paciência! O Sr. é muito estressado! Por que não implicou com aquela outra criança ali?
ESBREGANTE: - Porque aquela criança está quieta! E a Sra. é muito “espaçosa”, também com a paciência dos outros! Gosta de algazarra? Pegue-as e vá brincar com elas lá fora!
PAI DA CRIANÇA QUIETA: - A minha filha tem educação!
E o povão aderiu!
POVÃO: - Isso aí! Alguém tem que falar! Não dá educação pras crianças e os outros é que pagam! Deixa em casa! Também somos mães e avós, e as nossas são educadas! Estamos com o Sr. que reclamou! A gorda que segure as crianças no colo..!! Ninguém educa, por isto este país está uma bosta..!!!
MOBY DICK: - AIIII !!! Tenho que aturar essa gentinha !! (e chacoalhou o cabelo alisado na chapinha).
POVÃO: - Vai quebrar a cadeira! O carnaval já passou Rei Momo! Levas as criança pra tua casa!
Aí, o gerente da agência correu e atendeu de imediato a avozinha com as criancinhas, e veio nova onda de protestos:
POVÃO: - Faz coisa errada e ainda é premiada! Vou trazer as crianças lá da vila! Vamos reclamar no Procon e fechar essa agência de m....!!!
Aí, saiu a avozinha com as crianças da área fechada do caixas e furiosa enfrentou o povão:
AVOZINHA:- Oiem aqui! Eu já cuidei de creche, e ficou tudo bem educada! Teve um até que virou juiz! JUIZ! Oceis num tem paciência!
POVÃO: - Não temos culpa se um virou juiz! Deve tá soltando bandido! E leva essas crianças mal criadas pra lá!
Aí, foi chamado o número do Esbregante, que, ao passar pela Moby Dick, ouviu dela: - Estressado! – E, a medindo respondeu: -
- Qual foi? Não consegue mais correr no meio das cadeiras?
E o povão riu! Animadinha a agência. Vou abrir conta lá!
***
Esta crônica é o relato do deveras sucedido. Qualquer semelhança com pessoas conhecidas não é mera coincidência.
O OLHO ROXO –
A
paz e a tranquilidade, a completar a harmonia daquela noite de domingo, foram
balouçadas pelo lúgubre informe:
-
Querido! Tenho dentista amanhã às 09:00 horas! Talvez já seja feita a cirurgia.
Vamos dormir cedo!
-
Sim, “razão da minha existência”! A
levarei e buscarei, você ficará aqui, para que eu possa te cuidar. Fica bom?
- Fica
bom sim, mas depois temos que passar e pegar a Tekinha (nome da caninus familiae). E não seja irônico..!
-
Sim, minha querida! Como achar melhor!
*
- Fofê pode fir me
fuscar? Afafou a firurfia!
- To indo, querida,
to indo....
*
- CREDO! Tá parecendo rocambole de carne moída! To brincando!
To brincando! Me diz o que você precisa! Eu te cuido, eu te cuido!
- Quando eu farar,
fofê me faga! Caipora!
*
Hora mais tarde,
confortavelmente instalada na penumbra, caninus
familiae acomodada ao lado, medicada, bolsa de gelo aplicada, tudo conforme
manda o figurino!
- Bão fosso fastifar!
- Eu faço uma
sopona de feijão, com macarrão, carne moída, batatas, tudo bem amassadinho, ou
quer outra coisa?
- Tá fom afim! E
não ri de mim..!
*
E planeja que
planeja o sopão, corre que corre ao mercado, escolhe que escolhe ingredientes,
tira criança e véia do caminho, encena
mancar e entra na fila de deficientes, avia a moça do caixa, e apressa que
apressa na volta, escapando das rajadas
dos pombos nas árvores.
E capricha que
capricha, e coloca ventilador p/ esfriar a sopa, e assopra que assopra, e
experimenta que experimenta.
*
- Não fou fair
assim! To feia! Fofê leva a dog bra
fafer xixi! E não ri de mim!
- Sim, querida!
*
E então, naquele
Calçadão, local de tantas e variadas emoções, o inevitável encontro com os incontáveis
conhecidos, que sempre aparecem nas horas mais indiscretas.
- Nossa! Que
cachorrinha liiinnda ! Uma graça essas fitinhas cor de rosa! HHuuummmmmmm
...!!!
- Eu sabia..! EU
SABIA..!!! Aquela panca toda de motoqueiro selvagem, de advogado briguento, é
só fachada!
- Saiu do armário...!!
E cata que cata
cocô, levanta que levanta a dog para
evitar briga com outros cães, disfarça que disfarça, desperdício danado de sorrisinho amarelo.
*
- Já esfou bem!
Posso andar junto com focês! To feia, mas quero sair um fouco!
- Você está sempre
linda querida! Nem se percebe...
E lá se foram os
três. Anda que anda, olha que olha, cata que cata cocô, e escutam que escutam
os comentários:
- Você viu o olho
daquela pobre mulher? Aquilo foi murro que ela levou! As mulheres são massacradas,
o de sempre!
- Sim, o cara tem
jeito de nervosinho! Lei Maria da Penha nele!
- Covarde! Por que ele
não vai espancar um negão mau humorado?
*
E olha vitrine que
olha vitrine, e levanta que levanta a dog,
e não encontra nenhum dos conhecidos da véspera, para redimir a honra e a
imagem.
- Querido! Por que
aqueles policiais estão nos encarando tanto?
- Não sei, querida!
Veja, estão se aproximando!
- Boa noite! Nós
somos policiais, está tudo em ordem com vocês? A Sra. Sofreu algum “acidente”?
- Não, Sr.! Fiz uma
cirurgia dentária ontem!
- Qualquer
problema, especialmente quanto a segurança, também doméstica, estaremos à
disposição! É só discar 190, que nós buscamos
o agressor em domicílio! Boa noite!
- Boa noite!
*
- Nossa, querido!
Por que será que olharam tão feio para você?
- Nem faço ideia,
meu amor! Mas acho melhor você avisar a todos da família, que a cirurgia deixou
esta pequena marquinha, antes que eu
seja linchado!
*
E assim transcorreu a vida, voltando a normalidade
aos poucos, restando sempre a curiosidade e resmungos dos retardatários:
- Bom dia, vizinho!
Ouvimos uma barulhada aqui no prédio, estão dizendo que teve: grito, tiro,
fumaça, pancadaria.
- Vimos a tua noiva
machucada! Caíram de moto, ou foi o que, hein...?
- CAFAJESTE! Ordinário! Deviam colocar na cadeia
e jogar a chave fora...!
*
- Estou quase boa,
querido! Quero te dizer que não te perdoei aquela piadinha do “rocambole”! E tem mais: notei que o
pessoal do prédio te olha agressivamente. Você precisa ser mais simpático com
as pessoas! Ou será que aprontou algo que AINDA não sei...???
Com olhar perdido
no horizonte, ele dirigiu o pensamento para o infinito e permaneceu em
silêncio.
***
Síntese do script da próxima novela das 21:00 hs: “SOCORRO!”
A estória, com os mais “bombadões
(onas)” da TV, com muita paisagem bonita, se passa nos cenários
pátrios: Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e Londrina, dentre outras, tendo
por contexto básico:
1 – A
população pede e o exército cerca e fecha as sedes dos 3 Poderes, e prende a
todos. Sai “bolacha” para todos os lados. Levandovski, Toffoli, Sarney,
Calheiros, Collor, Lula e Dilma apanham em público.
2 - São
presos também, todos os notoriamente safados, e aqueles com processos “engavetados
e enrolados”. Todos os “da ativa” são exonerados, sem qualquer pagamento.
3 - Aplicam
pentotal em todos os presos, que confessam os crimes e contam onde está
escondida a grana roubada, que é recuperada.
4 - Toda
a grana doada para outros países é cobrada e trazida de volta.
5 - São
fechados todos os Ministérios, e após meticulosa análise, o número de
funcionários é reduzido ao mínimo para 6 secretarias básicas, comandadas por
especialistas: Educação, Saúde, Agricultura, Justiça, Exterior, e, Transportes.
6 - Auditoria em todas as empresas de participação pública, com apuração de responsabilidades.
7 - Extensão
do sistema aos âmbitos estaduais e municipais.
8 - São
imediatamente substituídos os “Bolsas e Auxílios” por folhetos educativos: “Procure
Trabalho”.
9 - O BOPE invade as favelas e morros e não sobra um bandido.
10 - São
criados presídios únicos em ilhas de grande porte, com 3 regras básicas: 1) Se
não plantar e não colher, não come; 2) 30 dias de solitária para a 1ª.
infração, e “morte em fuga” para a 2ª. infração, 3) aproveitamento de órgãos para
atender a demanda interna.
11 - Ao
pessoal dos “Direitos Humanos” será obrigatório e gratuito o trabalho de “assistência
aos presos”.
12 - Maioridade penal máxima aos 14 anos, ou menos, caso haja
delinquência em menor idade. São extintos os órgãos de proteção ao delinquente juvenil.
Vai para as ilhas.
13 - Cai a despesa pública e a corrupção, e começam a baixar os impostos.
14 - Volta a ser ministrada: Educação Moral e Cívica nas escolas, desde
cedo, com as crianças aprendendo: cordialidade, urbanidade, obediência e
respeito aos mais velhos.
15 - Os gays são deixados em paz, e o “pessoal da festiva ideológica” é
instruído a procurar satisfação sexual.
16 - 50 chibatadas, aplicadas na hora, para quem não “der seta” no
trânsito em Londrina.
***
QUEM FEZ ARROZ NO MEU FOGÃO E USOU A MINHA PRIVADA?
O luar semi-encoberto
pelas nuvens esparsas estremeceu ao som lúgubre das aves noturnas que anunciaram
desgraças. Ao longe, um cão uivou como lamentando a morte do dono fiel.
No torreão em
silêncio sepulcral, ao redor da távola, ainda em caráter premonitório, os
olhares se encontraram, transmitindo o código há meio século conhecido:
- ELE aprontara
novamente!
A acusação era por
demais grave, já que infringira o sagrado direito de propriedade; vilipendiara
o Código da Tradição e Bons Costumes; confirmara a História, e caracterizara Ato de Desrespeito.
Conscritos e
circunspectos dirigiram-se cada qual ao seu reduto, para os paramentos exigidos
ao mister sagrado da Ordem.
Novamente reunidos,
as vestes talares a esconder-lhes as feições, foram proferidas pelo Prior as
palavras fatais:
- Está instalado o
Santo Ofício, a Inquisição!
Pela ordem foi
apresentada a peça acusatória, que contem a relação dos graves crimes
cometidos: a) invasão e utilização de solo e recinto sagrados sem autorização;
b) porcalhonice, c) ocultação dos delitos.
Na sequência, foram
apreciadas as provas cabais: a) a investigação e inquirição sobre a autoria dos
crimes; b) a delação e imputação diretas; c) o corpo de delito consubstanciado em
partículas de arroz espalhadas por sobre o fogão; papel higiênico usado no
cesto do banheiro, bebida alcoólica e refrigerante na geladeira.
Não havia dúvida
alguma, como se não bastassem a imputação da autoria dos crimes e a História: -
ELE aprontara DE NOVO!
Contudo, nesses
tristes e desordeiros tempos de falácias sobre direito de defesa, e visando
oferecer ao acusado o direito de salvamento da alma em troca da confissão e
morte, determinou o Grande Inquisitor:
- Obtenha-lhe a
confissão e saibamos a extensão dos crimes para a gradação da pena! Este
Tribunal é JUSTO! Não podemos apenar bunda indigna em privada sagrada com o
mesmo rigor que sexo impuro em leito santo.
E os do Santo Ofício,
unânimes, com as mãos sobre o Livro de Antecedentes Criminais, a História,
bradaram uníssonos:
– ELE PAGARÁ!
O encarregado
requereu precisas instruções ao Grande Inquisitor, sobre os métodos de obtenção
da confissão:
- O rapazinho gosta de cozinhar? Fritemo-lo vivo?
- É chegadinho em “serrar um privilegiozinho”? Serremo-lo
pois?
E o Grande
Inquisitor determinou:
- Use o método que ELE
mais detesta! Seja simpático e indireto! Faça com que ELE perceba que já foi
descoberto, e que a única forma de amenizar a tortura e abreviar a morte é a
confissão! A sessão está suspensa até final confissão, digo, apuração dos
fatos!
E todos, mais uma
vez, com as mãos sobre a História, bradaram:
- ELE PAGARÁ!
*
Tempo depois, reunido
em concílio, o Santo Ofício:
- Obtiveste a
confissão? – Indagou o Grande Inquisitor.
- ELE teve a audácia de negar todos os delitos! Teve
a cachimônia de se defender! Mas foi
sempre assim, e nunca nos fez diferença alguma! - Retorquiu o encarregado.
- Precisamos saber
com exatidão, para que ELE jamais subestime a CAPACIDADE e o PODER desse
Tribunal! Encontraram mais evidências?
- Ao contrário! A
bebida alcoólica é a tal de Amarula, cujo fino paladar e baixo teor etílico não
condiz com a rudeza da intemperança DELE, que debochadamente disse preferir
cachaça e cerveja!
E os do Santo
Ofício, debruçados sobre a História, procuraram freneticamente por antecedentes
infracionais dalém cerveja e cachaça.
- ENCONTRAMOS, GRANDE
INQUISITOR! ENCONTRAMOS! Aqui consta: “Nos idos de 1.980, ELE esvaziou algumas
garrafas de licor de pequi”. O fato foi comprovado pela subsequente diarreia!
E então, o Grande
Inquisitor decidiu:
- Este Tribunal é
JUSTO! Irei pessoalmente colher o depoimento de quem fez a acusação! Nada menos
que a CONFISSÃO do feitio de arroz no fogão e uso da privada da INSTITUIÇÃO me
satisfará! Aos delitos supra descritos, será acrescido o de mentir à Inquisição!
- E o que faremos
quanto ao riso herege e debochista DELE?
E então, as mãos de
todos se crisparam sobre a HISTÓRIA, os olhares fuzilantes se encontraram a
despedir mil raios, e as vozes soturnas de mil pragas rugiram:
- ELE PAGARÁ!
***
2.013? 2.014...
2.013? 2.014...
Como foi o ano de
2.013?
Sem muitas firulas
e perfumismos, eu digo que foi um ano marcante, em que a tônica foi a mensagem:
a maior parte do que precisamos e
queremos depende de nós.
Foi o ano em que
verdades duras foram reconhecidas e ditas sem meias palavras. Foi o ano das perdas
necessárias encaradas sem medo da usual pirotecnia.
Mas foi o ano em
que se deu uma perda imensa, que eu consegui compreender, mas não consigo
aceitar. Um pedaço do mundo e o último elo com uma época deixaram de existir.
Repito o que te
disse tantas vezes, velho amigo: - Larga
de ser sacana! Você apronta e sou eu quem paga! Você morreu e quem ficou sem melhor
amigo fui eu!
Também foi o ano em
que a real capacidade foi aferida, sem ilusões e confetes em causa própria, mas sem qualquer tipo de
autopiedade.
E muito menos, de atitudes
derrotistas e deprimentes.
Foi um ano de
atitudes individuais e coletivas.
*
Vejo 2.014 se aproximar com características
de continuidade do que foi iniciado e semeado em 2.013.
O espero sem ilusões
simplistas e nada de euforia sem lastro.
O aguardo com
simpatia e otimismo sereno.
Com pensamentos direcionados
para valores e atitudes sérios, sem perder jamais o bom humor.
Em resumo:
*
Porém, encerro
2.013 com agradecimentos por uma benção que ilumina e aquece o sol. E me faz ir
adiante sem hesitar.
Se o que queremos e
precisamos depende na maior parte de nós mesmos, que eu tenha aprendido e
consiga bem cumprir minha parte para tê-la comigo para sempre.
Nosso pensamento
sempre se voltará para o que mais marcou, e assim, rindo e feliz, eu digo:
- 2.013! OBRIGADO POR
MINHA ORQUÍDEA!
***
MINHA ORQUÍDEA
Estava
eu sentado no banco do bosque da vida, sob frondosa árvore, pitando meu
cigarrinho, olhando os canteiros de tão variadas flores. A permissão que me foi
concedida para comigo ter e cultivar no coração é restrita a um exemplar.
No
meu campo de visão havia um canteiro de rosas, com botões e abertas, de cores
vivas, chamativas. Ocultos pela vivacidade e beleza, os espinhos medonhos.
-
Não é para mim! – Concluí, e olhei para outro canteiro.
Vi
um de violetas, belas por singelas, a não suportar o sol forte e o
vento agreste.
-
Também não é para mim! – Pensei, e continuei a busca.
Descobri
flores dos mais diversos formatos, cores e aromas, cada qual com seu encanto, e
cada uma com seu cuidado.
Desatento,
quase pisei num plantio de urtigas, pois assim como tudo, as urtigas também
possuem seus apreciadores.
Nada
é perfeito! E se a perfeição existisse, seria monótona!
Confabulei
intimamente, que talvez me fosse destinado somente olhar os canteiros, mas eu
não consigo permanecer inerte diante de situações que penso exigirem atitude.
A
ansiedade me fez preferir outro raciocínio: - O horizonte não acaba onde minha
vista alcança!
Ao
levantar os olhos para despedir-me da sombra protetora, avistei os primeiros
contornos daquela que eu sempre soube existir. Não estava em canteiros e nem
exposta, porque é única.
Com
o sorriso tranquilo de quem não apressa a chegada ao destino enfim encontrado e já
avistado, observei as cores definidas, jamais gritantes, com que ela se
identifica sem receios, e a denotar determinação; os tons do degradê a mostrar
suavidade e doçura na modulação da vida; a diversidade nas cores a mostrar as
variações alegres do seu jeito de ser.
Notei
a suavidade e harmonia das formas, a conotar infindáveis belezas.
Senti
a bondade nata que vem da ausência de amargura, da doação livre, amorosa e
generosa de si.
Força
digna foi o resultado que lhe trouxe a superação das secas e intempéries, cujas
marcas espalhavam-se ao derredor, e que não lhe macularam a essência.
Constatei,
a presença calma e segura do ser que protege aqueles a quem ama, atenta aos
menores detalhes.
Estabanado
por humano que sou, até pensei em saber mais e depressa sobre a minha orquídea
recém descoberta, quando as alegres emanações dela advindas me disseram: -
Calma! Não apresse o rio, ele corre sozinho!
E
também porque dos seres amados não se apossa, os guardamos no coração, a olhei
com ternura e lhe transmiti: - Seja bem vinda! A casa é toda sua!
Alan – 02.12.13
***
A BALADA!
Penso que a humanidade pouco mudou
nos últimos 10.000 anos. As três últimas grandes invenções foram: diarista, marmitex, e o controle remoto. Um dos
itens que não mudou foi resolver pessoalmente, “tête-a-tête”, quando se quer algo e meios outros não solucionaram
satisfatoriamente.
Há nisto, muitas vezes, questão de
orgulho próprio, de sentir-se capaz e preconceito, o que muitas vezes é tolice.
Temos momentos de rebeldia contra a sobriedade dos programas clássicos:
cinemas, teatros, exposições, que nos soam como: jogar dominó com os netos (se
é que eles topariam), usar sandálias franciscano
com meias, visitar asilos, conversar política na praça com idosos e assistir
Domingão do Faustão. Seria assumir o FIM! E assim, em franca rebelião
enfrentamos a atualidade com nossos meios, esperando que a experiência de vida
nos ajude em algo.
Neste mundo há de tudo na maioria
dos lugares. Temos que visitá-los em procura do que queremos, e muitos de nós
não perceberam que o tempo passou e os costumes de antes, embora parecidos com
os atuais, não são iguais. Antigamente, não se devia paquerar a mulher do próximo. Hoje isto se aplica também à mulher
da próxima, e pode render atritos e
processos. Até me lembro de quase ter apanhado de uma marmanja, mas isto já é outra
história.
Percebe-se também substancial
modificação no gosto musical, nós íamos além do: - TUM! PISTUM, PISTUM! TUM,
TUM TUM! (bis), e no que é consumido:
bebido, cheirado, injetado e comido. Lá atrás, quando nada se conseguia na
noitada, recorríamos ao chiken in e
dizíamos filosoficamente ao garçom: - Eu gostaria de uma mulher, na falta me
contento com cerveja e galinha frita! Fumávamos Minister, cheirávamos bons
perfumes femininos e tínhamos sérias restrições ao que era injetado e onde tal
se dava.
Como tantos pré-históricos, não
tenho tatuagem, nem piercing, e nem
uso distintivo de tribos; não uso
tênis; não jogarei grana fora com sapatênis; sapato social com calça jeans fica
esquisito, e de terno e gravata me confundiriam com agente do Conselho Tutelar
ou com os “seguranças” dos locais. Isto, sem se falar na amarga recordação de engravatado, ter dirigido sedutor “oi” para uma moçoila e ela haver me perguntado as horas me chamando de “tio”. Mas isto já é outra história.
Se for de moto e conhecer alguém
interessante que use saia (original de
fábrica), o impasse estará criado, e nem seria justo que, depois de tanto perrengue
perder por um táxi, pois vai que a distinta
no trajeto mude de ideia. E se chover ou esfriar? E se ela não gostar de moto? Se for de carro,
além do rodante estar muito
desatualizado, sabe-se do resultado de cair numa blitz: além do vexame, as multas e apreensão da minha viatura.
O remédio universal de convocar um
amigo para enfrentamento conjunto da empreitada daria efeito contrário, pois os
tempos mudaram, e o que antigamente era visto como dois caçadores em ação, nos
dias de hoje é interpretado como um casal gay in love. Além do mais, certos fracassos requerem a ausência de
testemunhas, como foi naquele caso da casa de danças, mas isto já é outra
história.
Com todos estes elementos e dúvidas
em mente, e mais a ausência dos informes sobre destino e comportamento nas
noitadas atuais, ditas baladas,
iniciei a insana peregrinação na esperança de que o acaso favorecesse e
premiasse tamanhos esforços. Por via das dúvidas, foi bem memorizado o endereço
atual do chiken in.
Trânsito lento e intenso na frente
de locais badalados é de se esperar e
querer, já que é o reconhecimento do campo
de batalha, não se admitindo buzina e palavrões. Não se pode mandar o guri
do carro ao lado diminuir o volume do:- TUM! PISTUM, PISTUM! TUM, TUM TUM! Pois
não é uma atitude sociável e muito menos de entrosamento com o meio.
Enfim, o acaso anunciou que estava
cooperando na forma de uma vaga para estacionar a menos de 1 quilômetro, debaixo
de uma árvore, desmentindo a promessa com cocô de passarinho na única jaqueta moderninha e no pobre veículo.
Afinal estava na balada, com o olhar displicente e
avaliativo das multidões circulando nos points
visitados, a buscar sem sucesso fisionomias conhecidas e decodificação do
idioma utilizado, e a balouçar os ombros ao ritmo do: - TUM! PISTUM, PISTUM!
TUM, TUM TUM!
Parado em meio às multidões, que ocupadas
em seus burburinhos me deferiram a mesma atenção que se dá àqueles cones
sinalizadores no meio da pista a entupir passagem. A irritação ao ouvir pela
centésima vez: - Com licença, SR! Igualava-se ao insistente pensamento: - O que
estou fazendo aqui? Parece daquela vez que me perdi da ex, na Rua 25 de Março, mas isto já é outra história!
De tão confortável quanto sentado em
almofada de alfinetes e entrosado como uma pedra nadando, só restou dizer, mais
para mim, e aos indiferentes garçons: - Estou procurando alguém! Já vi que não
está aqui, grato!
Ao fim da inútil romaria, recorri ao
infalível reduto, e no último esforço para manter o bom humor e galhardia,
disse ao apático garçom do chiken in: -
Eu gostaria de uma mulher do meu planeta, na falta me contento com cerveja e
galinha frita! Embale para viagem!
Enquanto aguardava, imaginei a enigmática
fisionomia e sorriso a serem ostentados durante a semana, quando me perguntarem
como foi a incrível balada do fim de
semana.
Alan – 07.10.13
***
RECOMEÇAR?
Escarrapachado no almofadão predileto, instalado
estrategicamente no meu paraíso terrestre,
ou seja, na frente da TV – no momento desligada, e perto da cozinha, revejo minha vida como se
fosse um filme, que aliás, nem sei como o catalogaria na minha pequena filmoteca, mas com certeza o guardaria
próximo da seção de comédia, na vizinhança de “Os 3 Patetas”.
O desassossego que me acomete é muito diferente da
inquietude que se cura com viagens, aventuras, adrenalina, como atestam os
espalhados equipamentos da moto, lancha, folhetos de agências de turismo,
mochila semidesfeita e o envelope com a fatura do cartão de crédito que ainda
não tive a coragem suficiente para abrir.
Há muito, aprendi que estar só, de vez em quando, é
uma Lei da Natureza destinada a reorganização interna, ou quando o cansaço é
extremo e precisamos de muito sono.
Mais que isto, sobra individualidade e faltam assuntos internos. Parece
que cansamos da nossa pessoa quando só temos a ela por companhia.
Olhei com desânimo para o computador e senti a velha gastura, sintoma do mais puro tédio, só
de recordar das horas e horas trocando as velhas mensagens, rindo das mesmas
piadas, fazendo as mesmas abordagens e tomando as mesmas cautelas, quando não,
fugindo rapidamente de algo ou alguém totalmente fora do minimamente aceitável.
Pensei em estar com uma das amigas que conheço, e que
buscam somente encontros esporádicos, mas a sensação de vazio e solidão por
decorrência que vêm depois do embate é inesquecível.
Cogitei em juntar-me ao grupo de amigos, famílias, mas
lembrei-me de que a maioria deles está naqueles programas familiares, dos quais
pensei encontrar distância e salvação no meu paraíso terrestre, depois do meu divórcio.
Sair de casa em missão
de balada, sem rumo, destino e vontade, nada mais é que cansativa afirmação
de liberdade e de mais alguma coisa, o que inclusive, contraria minhas
convicções filosóficas e comodismo.
Quis buscar refúgio na minha derradeira e muitas vezes
salvadora alternativa: fazer uma janta do meu agrado e assistir um bom
filme. Não funcionou! O único acréscimo
que tenho obtido é no tamanho da minha barriga.
Diante das nada agradáveis perspectivas e ausência de
solução, procurei na memória e encontrei correspondência entre o que se passa
comigo e com aqueles a quem conheço, e que um dia se encontraram na mesma
situação.
Minhas recordações os mostram de mãos dadas andando
pelo shopping e namorando vitrines; sentados numa pizzaria debatendo os sabores,
cochichando segredos e traçando planos; trocando olhares maliciosos e cúmplices, risos
e sorrisos que só eles entendem, viajando
noite afora para uma escapada de fim de
semana.
E então, o filme da minha vida enroscou na parte boa
do período em que fui casado, e o velho e conhecido conflito interno se
instalou, e tive mais uma péssima discussão comigo mesmo sobre o tal assunto,
pois não consigo me enganar por muito tempo.
- Eu já fiz isto e muito mais, e olha no que deu! –
Gritou o meu lado azedo.
- Quer parar de enrolar,
porque você sabe a resposta há muito tempo? – Berrou meu lado prático!
- Se é para voltar àquela vida que eu tive, prefiro me
jogar daqui, do 8º andar! – retorquiu o lado azedo.
- Não se faça de desentendido! Você sabe muito bem que é uma questão de
encontrar a pessoa certa, e que, ou você levanta a bunda do almofadão e vai à
luta, ou vai comprar uns remedinhos para curar o teu desassossego! - Respondeu o lado prático.
- Esta prosa já encheu! Vou buscar minha janta! - Encerrou o lado azedo.
- Pode ir! Mas saiba que a insatisfação e desassossego
estarão aqui te esperando! Já escolheu que filme vai assistir? – encerrou o
lado prático.
Alan – 05.10.13
***
SOLIDÃO!
Uma vez escrevi que considero
solidão a ausência de convívio com pessoas que nos querem bem, e das quais
gostamos. Creio que é daí que vem aquela famosa frase: Sozinho em meio a
multidão.
Em outra vertente, quantas mil vezes
ouvimos as pessoas reclamarem de que quando acabam as festividades, voltam
tristes para suas reclusões, o que protelam o máximo possível.
Num grau mais elevado, muito mais
próximo do que se pensa, vemos os casos de tristeza profunda, perda de
objetivos e esperança na vida, depressão e suicídio.
Estou cada vez mais convicto de que
a solidão vicia e mata!
Muitos se satisfazem com a companhia
de familiares e mesmo de amigos. Se assim são felizes, que assim continuem. O
que realmente importa é ser o mais feliz possível, e isto é um critério
pessoal. Não ferindo a outrem, está tudo bem.
Lamentavelmente se tornou moda:
viver só, propalar autossuficiência, ridicularizar e baratear o amor e uniões.
Talvez seja defesa contra o que não consegue ter ou não soube lidar, sendo
claro que: cada caso é um caso!
Entretanto, a reclamação que mais continuo
ouvindo é a ausência de um amor de casal, onde exista: atração, admiração, propósitos
em comum e formas de viver semelhantes, e mais ainda: confiança plena,
cumplicidade e prazer de conviver.
Nunca duvidei de que a base do amor
entre o casal seja uma grande amizade, que traduz desde logo, alegria naquela
companhia e companheirismo. Muitas vezes discordei de críticas a casais
apontados como “grude”. Em vários casos, um é o melhor amigo do outro, com
conhecimento e confiança mútuos e irrestritos.
Em muitos casais que vejo e até nos filmes
que assisto, observo o carinho e a intimidade
de atitudes entre o casal, como por exemplo: o relaxante dependurarem-se um no
outro sempre que possível; a familiaridade com que ela o faz carregar bolsas e
sacolas; a refeição que ela encomenda ao garçom para ele, sem ao menos consultá-lo,
que a devora sem qualquer comentário; o barbeador dele que ela não se esquece
de comprar; as palavras sonolentas que trocam antes de adormecerem, com os pés já
entrelaçados a transmitir a companhia de um ao outro durante o sono.
Penso que a intimidade entre o casal
vai além: é um saber exatamente o que o outro está pensando diante de uma
determinada situação, e quando muito, rápido olhar entre eles confirma o
veredito. Em seara de olhares entre eles, sempre haverá a mensagem: - Estou
aqui!
Muito denominam, correta ou
incorretamente, a falta desse amor de: SOLIDÃO!
Pretendo continuar sorrindo e
abençoando os casais, quando vejo um atravessar o país para estar com o outro
no fim de semana, distante por força de trabalho.
Fiquei feliz por um casal, quando os
vi na maior pendenga, pois ele comprou o carro dos seus sonhos e insistiu para
que ela o usasse no dia a dia, e ela não aceitou porque quis vê-lo aproveitar o
sonho realizado.
Com “ar de paisagem rural”, ouço as bravatas de pseudos convictos das
vantagens de “não terem que dar satisfações a alguém”, pois sei que a frase
pode ser invertida para: - Não terem alguém para quem darem satisfações!
Uma orquídea digna da realeza!!! nem mil rosas, margaridas ou bromélias, tem sua beleza...
ResponderExcluirSim, ela é a realeza por alma e coração.
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