Crônicas



BAFAFÁ HOJE NO SANTANDER !

Mais de 70 pessoas num salãozinho, muitos em pé, chegando mais gente, tudo travado, maior converseiro em celulares: de receita culinária à ameaça de morte. E duas crianças correndo e gritando, atormentando a todos.

Um idoso chiou, e NADA! O guarda chamou a atenção dos fedelhos, e, menos ainda! A avozinha das ferinhas só no proseio com uma gorducha no melhor estilo “Moby Dick sexy”. Até que alguém deu o esbregue:

ESBREGANTE: - OLHA ESTAS CRIANÇAS AQUI! COLOQUEM NUMA JAULA ACÚSTICA!

E o pau comeu!

MOBY DICK: - Por que? São criancinhas! Não podem brincar?

ESBREGANTE: - Estão incomodando muita gente! Aqui não é lugar de gritaria! Não incomodo ninguém, por que tenho que aturar crianças mal criadas alheias?

MOBY DICK: - Temos que ter paciência! O Sr. é muito estressado! Por que não implicou com aquela outra criança ali?

ESBREGANTE: - Porque aquela criança está quieta! E a Sra. é muito “espaçosa”, também com a paciência dos outros! Gosta de algazarra? Pegue-as e vá brincar com elas lá fora!

PAI DA CRIANÇA QUIETA: - A minha filha tem educação!

E o povão aderiu!

POVÃO: - Isso aí! Alguém tem que falar! Não dá educação pras crianças e os outros é que pagam! Deixa em casa! Também somos mães e avós, e as nossas são educadas! Estamos com o Sr. que reclamou! A gorda que segure as crianças no colo..!! Ninguém educa, por isto este país está uma bosta..!!!

MOBY DICK: - AIIII !!! Tenho que aturar essa gentinha !! (e chacoalhou o cabelo alisado na chapinha).

POVÃO: - Vai quebrar a cadeira! O carnaval já passou Rei Momo! Levas as criança pra tua casa!

Aí, o gerente da agência correu e atendeu de imediato a avozinha com as criancinhas, e veio nova onda de protestos:

POVÃO: - Faz coisa errada e ainda é premiada! Vou trazer as crianças lá da vila! Vamos reclamar no Procon e fechar essa agência de m....!!!

Aí, saiu a avozinha com as crianças da área fechada do caixas e furiosa enfrentou o povão:

AVOZINHA:- Oiem aqui! Eu já cuidei de creche, e ficou tudo bem educada! Teve um até que virou juiz! JUIZ! Oceis num tem paciência!

POVÃO: - Não temos culpa se um virou juiz! Deve tá soltando bandido! E leva essas crianças mal criadas pra lá!

Aí, foi chamado o número do Esbregante, que, ao passar pela Moby Dick, ouviu dela: - Estressado! – E, a medindo respondeu: -

- Qual foi? Não consegue mais correr no meio das cadeiras?

E o povão riu! Animadinha a agência. Vou abrir conta lá!


***


Esta crônica é o relato do deveras sucedido. Qualquer semelhança com pessoas conhecidas não é mera coincidência.





O OLHO ROXO –





A paz e a tranquilidade, a completar a harmonia daquela noite de domingo, foram balouçadas pelo lúgubre informe: 



- Querido! Tenho dentista amanhã às 09:00 horas! Talvez já seja feita a cirurgia. Vamos dormir cedo!



- Sim, “razão da minha existência”! A levarei e buscarei, você ficará aqui, para que eu possa te cuidar. Fica bom? 



- Fica bom sim, mas depois temos que passar e pegar a Tekinha (nome da caninus familiae). E não seja irônico..!



- Sim, minha querida! Como achar melhor! 







*

- Fofê pode fir me fuscar? Afafou a firurfia!

- To indo, querida, to indo....

                                               *    



- CREDO! Tá parecendo rocambole de carne moída! To brincando! To brincando! Me diz o que você precisa! Eu te cuido, eu te cuido!

- Quando eu farar, fofê me faga! Caipora!

                                               *

Hora mais tarde, confortavelmente instalada na penumbra, caninus familiae acomodada ao lado, medicada, bolsa de gelo aplicada, tudo conforme manda o figurino!

- Bão fosso fastifar!

- Eu faço uma sopona de feijão, com macarrão, carne moída, batatas, tudo bem amassadinho, ou quer outra coisa?

- Tá fom afim! E não ri de mim..!

*

E planeja que planeja o sopão, corre que corre ao mercado, escolhe que escolhe ingredientes, tira criança e véia do caminho, encena mancar e entra na fila de deficientes, avia a moça do caixa, e apressa que apressa na volta, escapando das rajadas dos pombos nas árvores.   

E capricha que capricha, e coloca ventilador p/ esfriar a sopa, e assopra que assopra, e experimenta que experimenta.




*

- Não fou fair assim! To feia! Fofê leva a dog bra fafer xixi! E não ri de mim!

- Sim, querida!

                                               *

E então, naquele Calçadão, local de tantas e variadas emoções, o inevitável encontro com os incontáveis conhecidos, que sempre aparecem nas horas mais indiscretas.

- Nossa! Que cachorrinha liiinnda ! Uma graça essas fitinhas cor de rosa! HHuuummmmmmm ...!!!

- Eu sabia..! EU SABIA..!!! Aquela panca toda de motoqueiro selvagem, de advogado briguento, é só fachada!

- Saiu do armário...!!

E cata que cata cocô, levanta que levanta a dog para evitar briga com outros cães, disfarça que disfarça, desperdício danado de sorrisinho amarelo.




*

- Já esfou bem! Posso andar junto com focês! To feia, mas quero sair um fouco!

- Você está sempre linda querida! Nem se percebe...




E lá se foram os três. Anda que anda, olha que olha, cata que cata cocô, e escutam que escutam os comentários:

- Você viu o olho daquela pobre mulher? Aquilo foi murro que ela levou! As mulheres são massacradas, o de sempre!  

- Sim, o cara tem jeito de nervosinho! Lei Maria da Penha nele!

- Covarde! Por que ele não vai espancar um negão mau humorado?  

                                       *

E olha vitrine que olha vitrine, e levanta que levanta a dog, e não encontra nenhum dos conhecidos da véspera, para redimir a honra e a imagem.  

- Querido! Por que aqueles policiais estão nos encarando tanto?

- Não sei, querida! Veja, estão se aproximando!

- Boa noite! Nós somos policiais, está tudo em ordem com vocês? A Sra. Sofreu algum “acidente”?

- Não, Sr.! Fiz uma cirurgia dentária ontem!

- Qualquer problema, especialmente quanto a segurança, também doméstica, estaremos à disposição! É só discar 190, que nós buscamos o agressor em domicílio! Boa noite!

- Boa noite! 




*

- Nossa, querido! Por que será que olharam tão feio para você?

- Nem faço ideia, meu amor! Mas acho melhor você avisar a todos da família, que a cirurgia deixou esta pequena marquinha, antes que eu seja linchado!

                                               *

 E assim transcorreu a vida, voltando a normalidade aos poucos, restando sempre a curiosidade e resmungos dos retardatários:

- Bom dia, vizinho! Ouvimos uma barulhada aqui no prédio, estão dizendo que teve: grito, tiro, fumaça, pancadaria.

- Vimos a tua noiva machucada! Caíram de moto, ou foi o que, hein...?

-  CAFAJESTE! Ordinário! Deviam colocar na cadeia e jogar a chave fora...!

*

- Estou quase boa, querido! Quero te dizer que não te perdoei aquela piadinha do “rocambole”! E tem mais: notei que o pessoal do prédio te olha agressivamente. Você precisa ser mais simpático com as pessoas! Ou será que aprontou algo que AINDA não sei...???

Com olhar perdido no horizonte, ele dirigiu o pensamento para o infinito e permaneceu em silêncio.
 

***

Síntese do script da próxima novela das 21:00 hs: “SOCORRO!”



A estória, com os mais “bombadões (onas)” da TV, com muita paisagem bonita,  se passa nos cenários pátrios: Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e Londrina, dentre outras, tendo por contexto básico: 

1 –    A população pede e o exército cerca e fecha as sedes dos 3 Poderes, e prende a todos. Sai “bolacha” para todos os lados. Levandovski, Toffoli, Sarney, Calheiros, Collor, Lula e Dilma apanham em público.

2 -     São presos também, todos os notoriamente safados, e aqueles com processos “engavetados e enrolados”. Todos os “da ativa” são exonerados, sem qualquer pagamento.  

3 -     Aplicam pentotal em todos os presos, que confessam os crimes e contam onde está escondida a grana roubada, que é recuperada.

4 -     Toda a grana doada para outros países é cobrada e trazida de volta.

5 -     São fechados todos os Ministérios, e após meticulosa análise, o número de funcionários é reduzido ao mínimo para 6 secretarias básicas, comandadas por especialistas: Educação, Saúde, Agricultura, Justiça, Exterior, e, Transportes.

6 -     Auditoria em todas as empresas de participação pública, com apuração de  responsabilidades.  

7 -     Extensão do sistema aos âmbitos estaduais e municipais.

8 -     São imediatamente substituídos os “Bolsas e Auxílios” por folhetos educativos: “Procure Trabalho”.

9 -      O BOPE invade as favelas e morros e não sobra um bandido.
 
10 -     São criados presídios únicos em ilhas de grande porte, com 3 regras básicas: 1) Se não plantar e não colher, não come; 2) 30 dias de solitária para a 1ª. infração, e “morte em fuga” para a 2ª. infração, 3) aproveitamento de órgãos para atender a demanda interna.

11 -     Ao pessoal dos “Direitos Humanos” será obrigatório e gratuito o trabalho de “assistência aos presos”.

12 -   Maioridade penal máxima aos 14 anos, ou menos, caso haja delinquência em menor idade. São extintos os órgãos de proteção ao delinquente juvenil. Vai para as ilhas.

13 -    Cai a despesa pública e a corrupção, e começam a baixar os impostos. 

14 -   Volta a ser ministrada: Educação Moral e Cívica nas escolas, desde cedo, com as crianças aprendendo: cordialidade, urbanidade, obediência e respeito aos mais velhos.

15 -   Os gays são deixados em paz, e o “pessoal da festiva ideológica” é instruído a procurar satisfação sexual. 

16 -   50 chibatadas, aplicadas na hora, para quem não “der seta” no trânsito em Londrina.  
  

***



QUEM FEZ ARROZ NO MEU FOGÃO E USOU A MINHA PRIVADA?


O luar semi-encoberto pelas nuvens esparsas estremeceu ao som lúgubre das aves noturnas que anunciaram desgraças. Ao longe, um cão uivou como lamentando a morte do dono fiel.

No torreão em silêncio sepulcral, ao redor da távola, ainda em caráter premonitório, os olhares se encontraram, transmitindo o código há meio século conhecido:

- ELE aprontara novamente!

A acusação era por demais grave, já que infringira o sagrado direito de propriedade; vilipendiara o Código da Tradição e Bons Costumes; confirmara a História, e caracterizara Ato de Desrespeito.

Conscritos e circunspectos dirigiram-se cada qual ao seu reduto, para os paramentos exigidos ao mister sagrado da Ordem.

Novamente reunidos, as vestes talares a esconder-lhes as feições, foram proferidas pelo Prior as palavras fatais:

- Está instalado o Santo Ofício, a Inquisição!

Pela ordem foi apresentada a peça acusatória, que contem a relação dos graves crimes cometidos: a) invasão e utilização de solo e recinto sagrados sem autorização; b) porcalhonice, c) ocultação dos delitos.

Na sequência, foram apreciadas as provas cabais: a) a investigação e inquirição sobre a autoria dos crimes; b) a delação e imputação diretas; c) o corpo de delito consubstanciado em partículas de arroz espalhadas por sobre o fogão; papel higiênico usado no cesto do banheiro, bebida alcoólica e refrigerante na geladeira.

Não havia dúvida alguma, como se não bastassem a imputação da autoria dos crimes e a História: - ELE aprontara DE NOVO!

Contudo, nesses tristes e desordeiros tempos de falácias sobre direito de defesa, e visando oferecer ao acusado o direito de salvamento da alma em troca da confissão e morte, determinou o Grande Inquisitor:

- Obtenha-lhe a confissão e saibamos a extensão dos crimes para a gradação da pena! Este Tribunal é JUSTO! Não podemos apenar bunda indigna em privada sagrada com o mesmo rigor que sexo impuro em leito santo.

E os do Santo Ofício, unânimes, com as mãos sobre o Livro de Antecedentes Criminais, a História, bradaram uníssonos:    

– ELE PAGARÁ!

O encarregado requereu precisas instruções ao Grande Inquisitor, sobre os métodos de obtenção da confissão:

- O rapazinho gosta de cozinhar? Fritemo-lo vivo? 




- É chegadinho em “serrar um privilegiozinho”? Serremo-lo pois? 





E o Grande Inquisitor determinou:

- Use o método que ELE mais detesta! Seja simpático e indireto! Faça com que ELE perceba que já foi descoberto, e que a única forma de amenizar a tortura e abreviar a morte é a confissão! A sessão está suspensa até final confissão, digo, apuração dos fatos!

E todos, mais uma vez, com as mãos sobre a História, bradaram:

- ELE PAGARÁ!

*

Tempo depois, reunido em concílio, o Santo Ofício:

- Obtiveste a confissão? – Indagou o Grande Inquisitor.

-  ELE teve a audácia de negar todos os delitos! Teve a cachimônia de se defender!  Mas foi sempre assim, e nunca nos fez diferença alguma!  - Retorquiu o encarregado.

- Precisamos saber com exatidão, para que ELE jamais subestime a CAPACIDADE e o PODER desse Tribunal! Encontraram mais evidências?

- Ao contrário! A bebida alcoólica é a tal de Amarula, cujo fino paladar e baixo teor etílico não condiz com a rudeza da intemperança DELE, que debochadamente disse preferir cachaça e cerveja!

E os do Santo Ofício, debruçados sobre a História, procuraram freneticamente por antecedentes infracionais dalém cerveja e cachaça.

- ENCONTRAMOS, GRANDE INQUISITOR! ENCONTRAMOS! Aqui consta: “Nos idos de 1.980, ELE esvaziou algumas garrafas de licor de pequi”. O fato foi comprovado pela subsequente diarreia!

E então, o Grande Inquisitor decidiu:  

- Este Tribunal é JUSTO! Irei pessoalmente colher o depoimento de quem fez a acusação! Nada menos que a CONFISSÃO do feitio de arroz no fogão e uso da privada da INSTITUIÇÃO me satisfará! Aos delitos supra descritos, será acrescido o de mentir à Inquisição!

- E o que faremos quanto ao riso herege e debochista DELE?

E então, as mãos de todos se crisparam sobre a HISTÓRIA, os olhares fuzilantes se encontraram a despedir mil raios, e as vozes soturnas de mil pragas rugiram:

- ELE PAGARÁ!  





***

2.013? 2.014...





Como foi o ano de 2.013?



Sem muitas firulas e perfumismos, eu digo que foi um ano marcante, em que a tônica foi a mensagem: a maior parte do que precisamos e queremos depende de nós.



Foi o ano em que verdades duras foram reconhecidas e ditas sem meias palavras. Foi o ano das perdas necessárias encaradas sem medo da usual pirotecnia.










Mas foi o ano em que se deu uma perda imensa, que eu consegui compreender, mas não consigo aceitar. Um pedaço do mundo e o último elo com uma época deixaram de existir.



Repito o que te disse tantas vezes, velho amigo: - Larga de ser sacana! Você apronta e sou eu quem paga! Você morreu e quem ficou sem melhor amigo fui eu!  











Também foi o ano em que a real capacidade foi aferida, sem ilusões e confetes em causa própria, mas sem qualquer tipo de autopiedade.










E muito menos, de atitudes derrotistas e deprimentes.






Foi um ano de atitudes individuais e coletivas.





*


Vejo 2.014 se aproximar com características de continuidade do que foi iniciado e semeado em 2.013.

O espero sem ilusões simplistas e nada de euforia sem lastro.




O aguardo com simpatia e otimismo sereno.





Com pensamentos direcionados para valores e atitudes sérios, sem perder jamais o bom humor.




Em resumo:





*

Porém, encerro 2.013 com agradecimentos por uma benção que ilumina e aquece o sol. E me faz ir adiante sem hesitar.

Se o que queremos e precisamos depende na maior parte de nós mesmos, que eu tenha aprendido e consiga bem cumprir minha parte para tê-la comigo para sempre.

Nosso pensamento sempre se voltará para o que mais marcou, e assim, rindo e feliz, eu digo:


- 2.013! OBRIGADO POR MINHA ORQUÍDEA!





***
 

MINHA ORQUÍDEA


Estava eu sentado no banco do bosque da vida, sob frondosa árvore, pitando meu cigarrinho, olhando os canteiros de tão variadas flores. A permissão que me foi concedida para comigo ter e cultivar no coração é restrita a um exemplar. 



No meu campo de visão havia um canteiro de rosas, com botões e abertas, de cores vivas, chamativas. Ocultos pela vivacidade e beleza, os espinhos medonhos.

- Não é para mim! – Concluí, e olhei para outro canteiro.

Vi um de violetas, belas por singelas, a não suportar o sol forte e o vento agreste.

- Também não é para mim! – Pensei, e continuei a busca.

Descobri flores dos mais diversos formatos, cores e aromas, cada qual com seu encanto, e cada uma com seu cuidado.

Desatento, quase pisei num plantio de urtigas, pois assim como tudo, as urtigas também possuem seus apreciadores.

Nada é perfeito! E se a perfeição existisse, seria monótona!

Confabulei intimamente, que talvez me fosse destinado somente olhar os canteiros, mas eu não consigo permanecer inerte diante de situações que penso exigirem atitude.

A ansiedade me fez preferir outro raciocínio: - O horizonte não acaba onde minha vista alcança!

Ao levantar os olhos para despedir-me da sombra protetora, avistei os primeiros contornos daquela que eu sempre soube existir. Não estava em canteiros e nem exposta, porque é única.

Com o sorriso tranquilo de quem não apressa a chegada ao destino enfim encontrado e já avistado, observei as cores definidas, jamais gritantes, com que ela se identifica sem receios, e a denotar determinação; os tons do degradê a mostrar suavidade e doçura na modulação da vida; a diversidade nas cores a mostrar as variações alegres do seu jeito de ser.




Notei a suavidade e harmonia das formas, a conotar infindáveis belezas.

Senti a bondade nata que vem da ausência de amargura, da doação livre, amorosa e generosa de si. 

Força digna foi o resultado que lhe trouxe a superação das secas e intempéries, cujas marcas espalhavam-se ao derredor, e que não lhe macularam a essência.

Constatei, a presença calma e segura do ser que protege aqueles a quem ama, atenta aos menores detalhes.

Estabanado por humano que sou, até pensei em saber mais e depressa sobre a minha orquídea recém descoberta, quando as alegres emanações dela advindas me disseram: - Calma! Não apresse o rio, ele corre sozinho!



E também porque dos seres amados não se apossa, os guardamos no coração, a olhei com ternura e lhe transmiti: - Seja bem vinda! A casa é toda sua!


Alan – 02.12.13




***

A BALADA!

Penso que a humanidade pouco mudou nos últimos 10.000 anos. As três últimas grandes invenções foram: diarista, marmitex, e o controle remoto. Um dos itens que não mudou foi resolver pessoalmente, “tête-a-tête”, quando se quer algo e meios outros não solucionaram satisfatoriamente.

Há nisto, muitas vezes, questão de orgulho próprio, de sentir-se capaz e preconceito, o que muitas vezes é tolice. Temos momentos de rebeldia contra a sobriedade dos programas clássicos: cinemas, teatros, exposições, que nos soam como: jogar dominó com os netos (se é que eles topariam), usar sandálias franciscano com meias, visitar asilos, conversar política na praça com idosos e assistir Domingão do Faustão. Seria assumir o FIM! E assim, em franca rebelião enfrentamos a atualidade com nossos meios, esperando que a experiência de vida nos ajude em algo.

Neste mundo há de tudo na maioria dos lugares. Temos que visitá-los em procura do que queremos, e muitos de nós não perceberam que o tempo passou e os costumes de antes, embora parecidos com os atuais, não são iguais. Antigamente, não se devia paquerar a mulher do próximo. Hoje isto se aplica também à mulher da próxima, e pode render atritos e processos. Até me lembro de quase ter apanhado de uma marmanja, mas isto já é outra história.

Percebe-se também substancial modificação no gosto musical, nós íamos além do: - TUM! PISTUM, PISTUM! TUM, TUM TUM! (bis), e no que é consumido: bebido, cheirado, injetado e comido. Lá atrás, quando nada se conseguia na noitada, recorríamos ao chiken in e dizíamos filosoficamente ao garçom: - Eu gostaria de uma mulher, na falta me contento com cerveja e galinha frita! Fumávamos Minister, cheirávamos bons perfumes femininos e tínhamos sérias restrições ao que era injetado e onde tal se dava.

Como tantos pré-históricos, não tenho tatuagem, nem piercing, e nem uso distintivo de tribos; não uso tênis; não jogarei grana fora com sapatênis; sapato social com calça jeans fica esquisito, e de terno e gravata me confundiriam com agente do Conselho Tutelar ou com os “seguranças” dos locais. Isto, sem se falar na amarga recordação de engravatado, ter dirigido sedutor “oi” para uma moçoila e ela haver me perguntado as horas me chamando de “tio”. Mas isto já é outra história.

Se for de moto e conhecer alguém interessante que use saia (original de fábrica), o impasse estará criado, e nem seria justo que, depois de tanto perrengue perder por um táxi, pois vai que a distinta no trajeto mude de ideia. E se chover ou esfriar?  E se ela não gostar de moto? Se for de carro, além do rodante estar muito desatualizado, sabe-se do resultado de cair numa blitz: além do vexame, as multas e apreensão da minha viatura.

O remédio universal de convocar um amigo para enfrentamento conjunto da empreitada daria efeito contrário, pois os tempos mudaram, e o que antigamente era visto como dois caçadores em ação, nos dias de hoje é interpretado como um casal gay in love. Além do mais, certos fracassos requerem a ausência de testemunhas, como foi naquele caso da casa de danças, mas isto já é outra história.       
   
Com todos estes elementos e dúvidas em mente, e mais a ausência dos informes sobre destino e comportamento nas noitadas atuais, ditas baladas, iniciei a insana peregrinação na esperança de que o acaso favorecesse e premiasse tamanhos esforços. Por via das dúvidas, foi bem memorizado o endereço atual do chiken in.

Trânsito lento e intenso na frente de locais badalados é de se esperar e querer, já que é o reconhecimento do campo de batalha, não se admitindo buzina e palavrões. Não se pode mandar o guri do carro ao lado diminuir o volume do:- TUM! PISTUM, PISTUM! TUM, TUM TUM! Pois não é uma atitude sociável e muito menos de entrosamento com o meio.

Enfim, o acaso anunciou que estava cooperando na forma de uma vaga para estacionar a menos de 1 quilômetro, debaixo de uma árvore, desmentindo a promessa com cocô de passarinho na única jaqueta moderninha e no pobre veículo.

Afinal estava na balada, com o olhar displicente e avaliativo das multidões circulando nos points visitados, a buscar sem sucesso fisionomias conhecidas e decodificação do idioma utilizado, e a balouçar os ombros ao ritmo do: - TUM! PISTUM, PISTUM! TUM, TUM TUM!

Parado em meio às multidões, que ocupadas em seus burburinhos me deferiram a mesma atenção que se dá àqueles cones sinalizadores no meio da pista a entupir passagem. A irritação ao ouvir pela centésima vez: - Com licença, SR! Igualava-se ao insistente pensamento: - O que estou fazendo aqui? Parece daquela vez que me perdi da ex, na Rua 25 de Março, mas isto já é outra história!     

De tão confortável quanto sentado em almofada de alfinetes e entrosado como uma pedra nadando, só restou dizer, mais para mim, e aos indiferentes garçons: - Estou procurando alguém! Já vi que não está aqui, grato!

Ao fim da inútil romaria, recorri ao infalível reduto, e no último esforço para manter o bom humor e galhardia, disse ao apático garçom do chiken in: - Eu gostaria de uma mulher do meu planeta, na falta me contento com cerveja e galinha frita! Embale para viagem!  

Enquanto aguardava, imaginei a enigmática fisionomia e sorriso a serem ostentados durante a semana, quando me perguntarem como foi a incrível balada do fim de semana.  

Alan – 07.10.13

***
 

RECOMEÇAR?


Escarrapachado no almofadão predileto, instalado estrategicamente no meu paraíso terrestre, ou seja, na frente da TV – no momento desligada, e perto da cozinha, revejo minha vida como se fosse um filme, que aliás, nem sei como o catalogaria na minha pequena filmoteca, mas com certeza o guardaria próximo da seção de comédia, na vizinhança de “Os 3 Patetas”.  



O desassossego que me acomete é muito diferente da inquietude que se cura com viagens, aventuras, adrenalina, como atestam os espalhados equipamentos da moto, lancha, folhetos de agências de turismo, mochila semidesfeita e o envelope com a fatura do cartão de crédito que ainda não tive a coragem suficiente para abrir.



Há muito, aprendi que estar só, de vez em quando, é uma Lei da Natureza destinada a reorganização interna, ou quando o cansaço é extremo e precisamos de muito sono.   Mais que isto, sobra individualidade e faltam assuntos internos. Parece que cansamos da nossa pessoa quando só temos a ela por companhia.



Olhei com desânimo para o computador e senti a velha gastura, sintoma do mais puro tédio, só de recordar das horas e horas trocando as velhas mensagens, rindo das mesmas piadas, fazendo as mesmas abordagens e tomando as mesmas cautelas, quando não, fugindo rapidamente de algo ou alguém totalmente fora do minimamente aceitável.



Pensei em estar com uma das amigas que conheço, e que buscam somente encontros esporádicos, mas a sensação de vazio e solidão por decorrência que vêm depois do embate é inesquecível.



Cogitei em juntar-me ao grupo de amigos, famílias, mas lembrei-me de que a maioria deles está naqueles programas familiares, dos quais pensei encontrar distância e salvação no meu paraíso terrestre, depois do meu divórcio.



Sair de casa em missão de balada, sem rumo, destino e vontade, nada mais é que cansativa afirmação de liberdade e de mais alguma coisa, o que inclusive, contraria minhas convicções filosóficas e comodismo.  



Quis buscar refúgio na minha derradeira e muitas vezes salvadora alternativa: fazer uma janta do meu agrado e assistir um bom filme.  Não funcionou! O único acréscimo que tenho obtido é no tamanho da minha barriga.     



Diante das nada agradáveis perspectivas e ausência de solução, procurei na memória e encontrei correspondência entre o que se passa comigo e com aqueles a quem conheço, e que um dia se encontraram na mesma situação.



Minhas recordações os mostram de mãos dadas andando pelo shopping e namorando vitrines; sentados numa pizzaria debatendo os sabores, cochichando segredos e  traçando planos;  trocando olhares maliciosos e cúmplices, risos e sorrisos que só eles entendem,  viajando noite afora para uma escapada de fim de semana.



E então, o filme da minha vida enroscou na parte boa do período em que fui casado, e o velho e conhecido conflito interno se instalou, e tive mais uma péssima discussão comigo mesmo sobre o tal assunto, pois não consigo me enganar por muito tempo.



- Eu já fiz isto e muito mais, e olha no que deu! – Gritou o meu lado azedo.



- Quer parar de enrolar, porque você sabe a resposta há muito tempo? – Berrou meu lado prático!



- Se é para voltar àquela vida que eu tive, prefiro me jogar daqui, do 8º andar! – retorquiu o lado azedo.



- Não se faça de desentendido! Você sabe muito bem que é uma questão de encontrar a pessoa certa, e que, ou você levanta a bunda do almofadão e vai à luta, ou vai comprar uns remedinhos para curar o teu desassossego! -  Respondeu o lado prático.   



- Esta prosa já encheu! Vou buscar minha janta! -  Encerrou o lado azedo.



- Pode ir! Mas saiba que a insatisfação e desassossego estarão aqui te esperando! Já escolheu que filme vai assistir? – encerrou o lado prático.



Alan – 05.10.13

 ***




 SOLIDÃO! 

Uma vez escrevi que considero solidão a ausência de convívio com pessoas que nos querem bem, e das quais gostamos. Creio que é daí que vem aquela famosa frase: Sozinho em meio a multidão. 

Em outra vertente, quantas mil vezes ouvimos as pessoas reclamarem de que quando acabam as festividades, voltam tristes para suas reclusões, o que protelam o máximo possível.   

Num grau mais elevado, muito mais próximo do que se pensa, vemos os casos de tristeza profunda, perda de objetivos e esperança na vida, depressão e suicídio.

Estou cada vez mais convicto de que a solidão vicia e mata!   

Muitos se satisfazem com a companhia de familiares e mesmo de amigos. Se assim são felizes, que assim continuem. O que realmente importa é ser o mais feliz possível, e isto é um critério pessoal. Não ferindo a outrem, está tudo bem.

Lamentavelmente se tornou moda: viver só, propalar autossuficiência, ridicularizar e baratear o amor e uniões. Talvez seja defesa contra o que não consegue ter ou não soube lidar, sendo claro que: cada caso é um caso!

Entretanto, a reclamação que mais continuo ouvindo é a ausência de um amor de casal, onde exista: atração, admiração, propósitos em comum e formas de viver semelhantes, e mais ainda: confiança plena, cumplicidade e prazer de conviver.  

Nunca duvidei de que a base do amor entre o casal seja uma grande amizade, que traduz desde logo, alegria naquela companhia e companheirismo. Muitas vezes discordei de críticas a casais apontados como “grude”. Em vários casos, um é o melhor amigo do outro, com conhecimento e confiança mútuos e irrestritos.  

Em muitos casais que vejo e até nos filmes que assisto, observo o carinho e a  intimidade de atitudes entre o casal, como por exemplo: o relaxante dependurarem-se um no outro sempre que possível; a familiaridade com que ela o faz carregar bolsas e sacolas; a refeição que ela encomenda ao garçom para ele, sem ao menos consultá-lo, que a devora sem qualquer comentário; o barbeador dele que ela não se esquece de comprar; as palavras sonolentas que trocam antes de adormecerem, com os pés já entrelaçados a transmitir a companhia de um ao outro durante o sono.

Penso que a intimidade entre o casal vai além: é um saber exatamente o que o outro está pensando diante de uma determinada situação, e quando muito, rápido olhar entre eles confirma o veredito. Em seara de olhares entre eles, sempre haverá a mensagem: - Estou aqui!   

Muito denominam, correta ou incorretamente, a falta desse amor de: SOLIDÃO!

Pretendo continuar sorrindo e abençoando os casais, quando vejo um atravessar o país para estar com o outro no fim de semana, distante por força de trabalho. 

Fiquei feliz por um casal, quando os vi na maior pendenga, pois ele comprou o carro dos seus sonhos e insistiu para que ela o usasse no dia a dia, e ela não aceitou porque quis vê-lo aproveitar o sonho realizado.   

Com “ar de paisagem rural”, ouço as bravatas de pseudos convictos das vantagens de “não terem que dar satisfações a alguém”, pois sei que a frase pode ser invertida para: - Não terem alguém para quem darem satisfações!

2 comentários:

  1. Uma orquídea digna da realeza!!! nem mil rosas, margaridas ou bromélias, tem sua beleza...

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