DR. ARMANDO RHOLLUS - II

Dr. Armando Rhollus

    Um personagem, um pseudônimo que me distrai, revela meu lado criativo, a mente que viaja por onde concebe histórias, estórias, ficções, causos, e vira notícia aqui!

        Os causos narrados são obras de pura ficção, não se referindo à qualquer pessoa da vida real, e qualquer semelhança com nomes, apelidos, fatos e condutas será mero acaso.  
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Dr. Armando Rhollus em: 


NA BANDA DA BANDA, O BANDO NÃO DEBANDA, SE ABANDA, SEM DAR BANDA!


Naquela ensolarada manhã de segunda feira, depois de meses de ausência, o velho causídico reassumia o comando da sua tenda de trabalho, nos momentos inglórios chamada de pelourinho.

Enquanto para ela se dirigia, o céu azul e a temperatura amena remetiam seus pensamentos para os distantes lugares que conhecera, à guisa de cursos de especialização.

A clientela aumentava, o Bando já assumira porte e feição de Instituição, o que, “trocado em miúdos”, significava substancial aumento de confusões, que quase sempre, terminavam nas barras dos Tribunais.

Safo de maligna “rajada” de fezes das pombas londrinenses, recambiou a mente de Vancouver para a realidade diuturna, e corajosamente adentrou no local de trabalho, onde, com urbanidade cumprimentou a antiga secretária:

- Bom dia, Dona Laciva! Como tem passado? Por aqui, tudo na forma regulamentar?

- Bom dia, Dr. Armando! Tenho passado mal, já que o ferro de passar que o meu salário permitiu comprar, enguiçou! E não tem mais nem regimento por aqui! O Delon deixou uma pilha de papéis na sua mesa, e SUMIU!

Condignamente aboletado, resignado o advogado encetou o exame da pasta e subpastas do Bando: a) nada de novo com os Fraga – o Sr. Fraga aprontando as “de sempre”, e a Sra. Ilde se desforrando nos cartões de crédito; b) o Ed (Sargento Tainha) e o Bad (Sherek) e respectivas esposas continuavam sumidos; c) os Fritas (Al e Fá), ocupados com a nova piada (a da loira no motel), e com disposições atléticas à buscar em vão mais adeptos.  

Porém, as subpastas seguintes deixaram o causídico estarrecido: a) o Sr. Abdhalla lançara sua candidatura à Presidência da República, e necessitava da documentação necessária; b) o Delon pretendia casar-se e solicitava a revisão do “pacto antenupcial com separação parcial de imbróglios”, e mais: “notificação desenrolatória da noiva enroscada”.

Buscando uma visão geral do cenário, e por demais absorvedores os assuntos anteriores, o causídico abriu a subpasta intitulada: “Adesões e Prescrições”.    

- UAU! CONTINGENTE DE PRIMEIRÍSSIMA !!! TEM ATÉ JUIZ E MILITAR GRAÚDO!  – Exclamou o causídico, que por segundos, abandonou suas lendárias serenidade e discrição.

- To precisando de um “coronel” para pagar minhas contas e de um juiz para colocar um “pessoalzinho forgado nos eixos”! -  Berrou Dona Laciva, lá da sua saleta.

Utilizando-se do interfone, o Dr. Armando Rhollus solicitou à indiscreta secretária o comparecimento na sala dele, onde, lhe fez singela advertência:

- Caso a Sra. não tenha percebido, estou de volta juntamente com todas as normas do nosso contrato de trabalho, dentre elas: os assuntos dos clientes não são comunitários! A Sra. pode se retirar.

Voltando à interessante subpasta, o causídico folheou os cadastros: a) Rak – a corajosa noiva do Delon; b) Coronela e Lu -  ela calma e centrada, ele causídico de combativa fama, o que injetava adrenalina no Bando; c) De Nise – uma psicóloga loira, o que traduz complicação em dose dupla, d) Vas e a Ferele juiz, ela professora de inglês, o que emprestava classe internacional ao Bando.   

- Well !!  Se com mais um advogado, mais uma psicóloga, uma coronela e um juiz, uma professora, o Delon casado, ainda assim o Bando não se comportar, pode esquecer a sanidade mental.

E chamou Dona Laciva pelo interfone, que ressabiada compareceu:

-  Deixaram mais algum documento, fizeram algum comentário?

- O Sr. Delon deixou este recado por escrito! Entregou aberto, por isso, não pude deixar de ler. Disse que tem prazo vencendo, e por isto não pode detalhar os assuntos pessoalmente, mesmo porque, é obrigação sua a narrativa! O Sr. pode me explicar o que significa o recado, se não for confidencial?

Intrigado, o velho advogado leu o recado, que dizia: 

NA BANDA DA BANDA, O BANDO ABANDA E NÃO DEBANDA, SEM DAR BANDA!  

Apenas sorriu e pensou nas interpretações que cada um daria ao recado, e terminou:

- Dona Laciva! Telefone a todos, A TODOS, dando as boas vindas e expressando o desejo de uma amizade contínua, forte, leal e unida, pois amigos são bênçãos que nos concedem!

- Dr.! O Delon disse uma frase que não entendi também: - A divindade que se cuide, porque DOBROU!


E o sorriso do velho advogado foi se esvaindo em resignação.....





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Dr. Armando Rollus (II) Parabeniza a Srta. Terezinha Molleta, e lhe oferece: A Feiticeira!



O Dr. Armando Rhollus encarava filosoficamente o frio que se abatia sobre a região, com pessimistas previsões de geada e reclusão, enquanto se dirigia para o sacrossanto templo laboral.   




Lúgubre neblina encobria a cidade, a Pequena Londres, emprestando-lhe por poucos dias, o sinistro mistério do fog original, com suas tramas e magias. 




Cumprimentou a Dona Laciva, que encorujada em sua cadeira, aparentava imigrante do Polo Ártico:




 E só então percebeu que,  macambúzio e sorumbático na sala de espera, o aguardava o colega Delon Drina.

- Bom dia, preclaro colega! Em que posso lhe ser útil? – Indagou o calmo e sereno advogado.

- Bom dia, insigne mestre! Tenho um problema sui generis que necessita da ministração do seu acurado tirocínio, para reparo opportuno tempore ou finalmência receber. Em apertada síntese, lhe digo: - Adentrou no Bando uma feiticeira! – Despejou o Delon, sabedor do amor a brevidade que cultivava o velho causídico.


- Em que ponto específico as qualidades e atividades extra normais da nova integrante do Bando são objeto de injurídico? Existe algum ritual ou prática que produza danos,  mesmo que apenas induza temor? – Indagou o Dr. Armando Rhollus.




 - Ela é uma feiticeira do bem! Distribui alegria por onde leva sua simpatia, sinceridade e sorriso! É uma mulher forte, direta,  determinada, inteligente, doce, e com sorriso de criança. Ela me apinchou uma mandinga:

  



- Pois colocou ordem no meu cafôfo, e eu nem reagi. Durante a demolição, ela disse: - Some daqui, que "coisa véia" vai tudo pro lixo! E obedeci rindo. E ainda SUMIU com um monte de apetrechos seminovos, e eu nem infartei! Até paguei a diarista sem reclamar: 





-  E não uso minha amada jaqueta perto dela! Tenho perdido pança,  comparecido banhado, barbeado, bem arrumadinho e até cheiroso! Desse jeito, vou acabar me degenerando num cara comportado! Terei que consultar terapeutas, mas isto farei depois!   – Noticiou o Delon!






- Em que pese meu profundo espanto com os poderes quase divinais da feiticeira do Bando, a Eza, é assim que o colega a nominou? Mas, não vejo onde possamos agir, visto que, houve sua livre, e até alegre concordância em tudo o que tem sido feito por ela. Onde está o ilícito então? – Disse o Dr. Armando Rhollus.

- É que alguns benzimentos dela têm operado milagres, muito benéficos, aliás! Consertou minha coluna vertebral, tirou minha tensão e está me transformando num cara ainda mais bem  humorado. E isto está deixando alguns integrantes do Bando, muito enturmadinhos! – Relatou o Delon. 





- Compreendo! Trata-se então de assédio dela por esses indivíduos! Se é isto, a parte legítima, titular do direito ofendido é ela, e não o caro colega. A não ser que tenha havido ilícito que autorize ação penal pública.  – Emitiu parecer, o Dr. Armando Rhollus.

- Em verdade, nobre colega, o préstimo que solicito é em resguardo deles, pois, um deles está em profundo sofrimento com um abscesso em local pudendo, aparecido dias depois das enturmações – Iniciou as explicações, o Delon:




- Outro deles, por ainda enfermo de grave acidente motoquístico, tem se mantido comportado, o que já é um milagre: 




- O pior deles, no entanto, não entendeu o meu significativo olhar: 

- O rapaz já recebeu o primeiro alerta, consubstanciado em engasgamento com pimenta. Imagino os resultados da saída da pimenta:




- Portanto, como o nobre e experiente colega é advogado e consultor de alguns do Bando, poderá preservar-lhe a integridade e a paz. – Finalizou o Delon.

- O colega quer dizer que, poderá interferir de alguma maneira, de forma que ocorra algum mal para a pessoa em questão? Trata-se de uma ameaça, ainda que de apinchação de mandinga ou rogação de praga, ao meu amigo e cliente?

 – Perguntou o Dr. Armando Rhollus, com a voz macia que prenunciava seus revides.  

- Nobre colega! A feiticeira é do bem, e qualquer mal que eu quisesse causar ao indivíduo em questão, jamais se aproximaria do exemplamento que a esposa poderá propiciar-lhe. Só a fisionomia dela ao olhá-lo, atemoriza, afinal: - QUEM AMA, EDUCA! - Sentenciou o Delon Drina. 




*

E então, o velho advogado, raposa matreira na arte da vida, com sua voz calma e fisionomia serena, disse:

- Quando o caro colega encontrar uma mulher a moda antiga, que olha nos olhos quando fala e diz o que lhe vai no coração e n’alma; amiga, cúmplice, companheira e amante; que digna, coberta de razão aponta as próprias falhas  - reais ou imaginárias; que é forte e firme quando necessário, sem ser rude ou impositiva,  e,  generosa de si busca o acerto e demonstra: - Conte comigo!

- Então, meu jovem colega: preste muita atenção, se ocupe tão somente em cultivar e retribuir, porque é muito provável que, para você também, as buscas tenham terminado, o que lhe desejo de coração!  – Encerrou o causídico.   

*

- Minha querida amiga Terezinha Molleta! Feliz aniversário, tudo de bom e de melhor nesta vida, porque você faz por merecer! Um grande abraço e enorme beijo do Dr. Armando Rhollus e de todos nós do Bando!


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Dr. Armando Rhollus em: Agência “Reset” – O Reencontro!


Por força do entrelaçamento das relações profissionais, o experiente causídico tornou-se consultor e advogado das famosas agências de casamentos:  “Só Love” no norte do Estado, e mais recentemente da “Reset”, situada no sul do Estado.

O velho causídico sabia tratar-se tão somente de questão de tempo, para que as agências fizessem interagir seus clientes, o que trará sérios problemas, pois não se mescla impunemente as etnias “Leite Quente” com “Pé Vermelho”.

*

Conhecedor da natureza humana, sobre a qual enciclopédias são escritas, mas em nada lhe modifica a essência, e tão somente se lhes aplica rótulos e disfarces, o advogado se ocupava sistematicamente em criar e aperfeiçoar sistemas destinados a impedir fraudes, erros e simulações, em outras palavras: evitar que os(as) clientes engolissem gato(a) por lebre!




- Tudo é relativo, nos ensinou Einstein! E existe mercado para gatos(as) e lebres! Contudo, naquele tempo não havia o Código de Defesa do Consumidor, e prevenção é quase tudo! Porém, prevenção excessiva inviabiliza qualquer atividade! Relatividade e equilíbrio, eis a questão! – Raciocinou o causídico.

*

Naquela bonita tarde de inverno, o advogado analisava os documentos que trouxera da agência “Reset”, onde estivera em reunião com a Diretoria e Chefes dos Departamentos Técnicos: Recauchutagem e Ajeitações; Psicologia e Cinergética, e, Fotoshop e Vendas Avançadas.

A acurada análise tinha por fito aferir riscos de ações judiciais contra a empresa, diante de uma determinada situação ocorrida, bem como, adjutorar na eficácia do sistema “antifuros”.

De fato, a sequência de fotos e documentos atestava que a cliente passara por: rigorosas dietas e readequações alimentares; academias de ginásticas;  seções de “despelancamento e esticações”; “pegara uma cor” em bronzeamento artificial;  “desengruvinhamento e tintura do pixaco”; aprendera a falar ocultando o raciocínio; a tornar-se sedutora; fora fotografada nos “melhores ângulos” , e aprendera a bem se valorizar, trocar e comportar numa relação. 

Para incremento da reforma: aulas de bom gosto no vestir e “banho de lojas”!

O mesmo se deu quanto a ele, também cliente da agência, com os complementos do implante de cabelos, eliminação da pança e do apego ao “pão durismo” .

Aprenderam sobre simpatia, educação e simplicidade. Em turmas diferentes foram enviados ao norte do estado para perderem o “ar de quem cheirou pum”.  

Até a dançar e o gosto pela “balada” aprenderam.  Estavam prontos para uma nova vida!

Verdade seja reconhecida e dita: trabalho de profissionais! Vou passar a informação e endereços para alguns amigos meus, que andam bem necessitados de reforma! – observou o advogado.

*

Constava nos registros da empresa que ambos haviam visto as fichas respectivas, que, contudo, para preservarem o anonimato não forneciam os nomes.

Os clientes responderam com exatidão os questionários sobre as características de quem realmente buscavam por companheiros.

O primeiro encontro deles se deu na sala apropriada da agência, de bom gosto, indireta iluminação benevolente, suave música, enfim, todo o apropriado para tais ocasiões.

Até aqui, nada de anormal! – Concluiu o Dr. Armando Rhollus, servindo-se de um cafezinho, antes de voltar a análise do restante do calhamaço, que incluía o DVD com a filmagem da entrevista.

Ao ver o início da filmagem da entrevista, eriçaram os cabelos do calejado advogado:

Ele chegara primeiro, vestido impecavelmente, ressumando progresso, e sentara-se com elegância na não menos elegante poltrona. Ela chegara com o tradicional atraso, que, no início da relação traduz charme e com o tempo e desgaste da relação se transforma em desrespeito. Estava glamorosa, esbanjando classe, charme e requinte.

Ele levantou-se e caminhou serenamente até o meio da sala para encontrá-la e então, os olhos se encontraram sem disfarces:

- Olá, Maria! Não a reconheci de imediato! Você está muito diferente!

- Olá, João! Também não o reconheci! Você mudou muito!

- Devemos informar a Agência, de que fomos casados por 10 anos? – perguntou João.

- Se assim fizermos, cabeças rolarão! Proprietárias deste tipo de agências são intragáveis! A do norte, que conhecemos recentemente, é uma gata brava. A daqui, dizem que é um terror! Deixemos assim!  – Afirmou Maria.

- Sim! Aturamo-nos por tanto tempo, em nome de tanta coisa e pessoas, que podemos nos aguentar mais algumas horas, para que o pessoal bacana que trabalha na agência mantenha o emprego! Discretamente o avisaremos depois! E que o Todo Poderoso tenha piedade dos maridos dessas donas de agências! – Finalizou o João.

E ambos também concordaram num ponto:

- Mas vamos pedir a reposição desta indicação e encontro! É mais do que justo!

*

Por conta da assunção de responsabilidades, ambos decidiram pela permanência em outro lugar e se dirigiram à um restaurante:

- ‘Bora lá, JÃO! – Provocou Maria, usando o apelido que ele detestava.

- ‘Bora lá, CREUZA! – Retorquiu João, usando da provocação que sabia irritá-la.


*

- Que carro diferente João! Bem antigão, né? Parece aquela sucata podre que você manteve no quintal por 8 anos, juntando ratos e baratas! – Observou Maria ao ver o carro do João.

- Você sempre criticou o que desconhece! Acabei de reformar o meu Charger RT, que nunca foi sucata e hoje é uma obra de arte! Sou um novo homem! Acabo os projetos que inicio! Eu disse que um dia você andaria nele! – Respondeu-lhe João.







- Menos, João! Bem menos! Muito menos....! Se esta lata velha pifar, pular um rato em mim, ou aparecer sutiã e calcinha das biscates com quem você anda, você vai se ver com meu advogado! - Ameaçou Maria.



*



- Você não vai querer ir naquela espelunca que chamava de “especial”, né? – Perguntou Maria!



- Sou um novo homem, Maria! Rompi com os velhos valores e hábitos! Nem o meu local favorito e nem aquela droga de lugar que você gosta! Sugiro um local novo! – Disse João. 



Ao chegarem ao novo local:



- Mas aqui é a velha espelunca que você gosta e eu detesto! – Reclamou Maria.

- Não é não! Reformaram tudo e trocaram a direção da casa! – Contestou João.

- Trocaram a cor das mesas de lata e o atendente é o filho do anterior! – Constatou Maria.

- Você permanece a eterna insatisfeita, Maria! – Reclamou João.

- E você o eterno grosso sem imaginação! – Respondeu-lhe Maria.

*

A rápida mente do advogado convertia o que assistia em possibilidades legais contrárias à empresa, e no íntimo pedia a Santo Ivo, que fossem mínimas as farpas e bordoadas inevitáveis em conversa de exs.

- Só falta você pedir o “de sempre” : um “quebra gelo (uma pinguinha) e uma loira gelada da Antárctica”! – Disse Maria, de cara fechada.


- Parece que só eu mudei para melhor! Você continua implicando com TUDO! E já lhe disse que mudei muito, fiz a minha reforma íntima e hoje sou um homem refinado! - Respondeu João, que chamando o garçom pediu: - Um steinhäger  e uma Heineken, na temperatura adequada! Para a Sra., uma Fanta laranja não muito gelada, por favor! 

- Eu também rompi com os velhos hábitos e valores, João! Hoje sou eu quem decide e determina o que quero! Sou uma nova e chiquérrima mulher! - Disse Maria que voltando-se para o garçom, requereu: - Um suco de laranja da Ades, com pouco gelo, por favor!

- Para te aturar, João! Só tomando muito formol! - Finalizou Maria. 

*


- Você está bem, Maria? Como tem sido a tua vida? – Iniciou João.

- Vou bem, fiz o mestrado e acabei há pouco o doutorado. Tenho trabalhado bastante, e você? – Disse Maria.






- Ampliei a empresa, viajo e trabalho bastante! – Respondeu João.



- E sempre posando fora! O de sempre, não é? – Espetou Maria.



- Um pensamento me ocorre Maria: Se a agência nos selecionou como casal por nossas afinidades e tipo de vida pretendida, por que, mesmo agora, você fica me espetando e agredindo? Que afinidades são essas então? – Respondeu João.



- Você jamais entenderá as mulheres, João! – Afirmou Maria. 




 


- Quem sabe? Se estamos numa agência de casamento, bastante modificados, dispostos a nos relacionarmos seriamente com outras pessoas, é porque acreditamos que possa dar certo com alguém, não é? – Retorquiu João.      

- Eu não entendo a péssima mania das mulheres, de irem dormir dizendo: - Eu te amo! E acordarem falando: - Puxe daqui pra fora! E depois ficam chorando e reclamando ao mundo! – Completou o João.





- João! Vou lhe explicar pela bilionésima vez: Nós, mulheres, precisamos de:





- cuidados com nossa aparência: 



 

- aconchego com nosso companheiro e lar:



- nos sentirmos capazes e independentes:  





- respeito com nossa família:




- Gostamos de sexo, SIM!:







- Mas sexo não é tudo num relacionamento: 



                                                       





- Gostamos de pessoas alegres e criativas:








- E não de pessimistas:


                                                  





- E jamais de homem de mau humor com o cotidiano:


                                                 





- Precisamos de um companheiro que saiba que não é tudo um mar de rosas:


                                                         





- Não gostamos de cafajestagens:


                                                    





- E nem de piadas sem graça:


                                                        





- Enfim, queremos alguém que saiba nos ler e entender:


                                                  





- Pois é, Maria! E eu te repito pela bilionésima vez! Nós, marmanjos,  somos muito mais simples:

- Precisamos de um pouco de adrenalina:


                                                         

 

 - Gostamos de esportes:




- Gostamos de andar só, às vezes:


                                           





- Sabemos entender as coisas sem muito discurso e repetição:


                                            








- Também temos algumas vaidades:


                                                  





- E também nos decepcionamos no mundo:


                                                    





- Sabemos, e muito bem,  o que é ralar duro, cientes de que precisam de nós:


                                                         






- Sempre temos que improvisar, nada vem pronto:


                                                   





- Muitas vezes,  saímos espandongados da luta diária: 


                                                     





- Nós também somos carentes e  precisamos de atenções:


                                              





- Também temos nossas paixões:


                                            





- E os nossos ódios, que metabolizamos como podemos: 


                                                        



- E quando não dá certo, não erramos sozinhos, e as regras não são justas:


                                                    





- Mas seguimos em frente, sabendo que a vida em casal requer equilíbrio e administração de diferenças, e que o paraíso não existe, e que, se for para entrar nessa de autossuficiência e individualismo, também podemos falar o mesmo idioma:
 

 
- Mas, confesso! Sinto a tua falta e a maior saudade! – Terminou o João.

- Eu também confesso! Sinto a tua falta! E agora estamos num dilema: Gostamo-nos e nos queremos, mas não nos aturamos! Que fazer? – Indagou Maria! 




- Que tal resolvermos isto amanhã? – Respondeu o João.

*

E mais tarde, naquela noite, o João querendo ser gentil, olhou abaixo da cintura da Maria e disse:

- Muito elegante este teu novo penteado, é repartido..!!!

Maria retribuiu o olhar, e por sua vez disse:

- Lamento,  João! O Zezinho de cavanhaque não ficou bem!

*

No meio da noite, o João foi acordado por dolorido cutucão nas costelas, e perguntou assustado, temeroso de que Maria estivesse sofrendo um infarto, ou o motel sendo assaltado:

- Que foi que houve? 

- Você NÃO está roncando, João! Respondeu Maria. 

- Sou um novo homem. Rompi com os velhos hábitos, Maria! Onde foi que te incomodei ou prejudiquei ao não roncar? Inquiriu João. 

- Sem o teu ronco, o meu sono perde o ritmo! E não terei do que te acusar, logo cedo! VOLTE A RONCAR! - Ordenou Maria.

- Ahhhhhhh!  Voltei a me sentir em casa! - PENSOU João! 

*
 

Na manhã seguinte, ao tomarem o café da manhã, João perguntou à Maria:

- Agora, me esclareça este mistério: as psicólogas – raça de malucos – da agência nos selecionaram como afins. Onde foi que erramos na nossa vida conjugal anterior?



- Não fale mal de psicólogas porque sou uma delas! Eu pedi alguém com suas características, tudo certo! E me lembro bem de haver feito a observação de que eu não quero um cara me atormentando dentro da mesma casa! – Respondeu Maria.

- Pois é! Eu pedi alguém com as tuas características, com a mesma observação: Nada de mulher me buzinando a existência dentro do mesmo cafôfo! Já sabemos onde erramos, né? – Completou o João.


                                                         *

- João, me dá uma carona até minha casa? E vai tratando de arrumar um apartamento longe o suficiente para não me restringir, e perto o suficiente para que eu possa te vigiar! Te conheço, e não é de hoje! Determinou Maria.

- Não adianta! É tudo a mesma coisa! Só muda o CPF e o endereço! – Resmungou o João.

                                                        *

- XIII!!!! Acho que pifou a bateria! -  Constatou o João.

- Eu sabia que esta merda de lata velha ia nos deixar na mão!-  Xingou Maria.

- Quer me deixar em paz, tentando arrumar o MEU problema? Não somos mais casados, lembra? É cada um na sua casa!  – Esbravejou o João.

- BIROSCA NENHUMA! Vai tratando de NOS chamar um táxi, me leve pra MINHA casa, e depois volte para buscar esta TUA sucata podre. Não quero que pensem que sou uma das tuas biscates! Está pensando o que? Que é só festa comigo? – Brigou Maria.

- Nada! NADA MUDA! NUNCA! – Concluiu o João.

*

E o velho advogado, o Dr. Armando Rhollus, sensível e prático, encaminhou correspondência à cliente, recomendando imediatas providências para que “exs” não sejam apresentados um ao outro. Dentre as providências, sugeriu: a) fotografias de exs a integrar as fichas individuais; b) datiloscopia, e c) checagem por número de Cédulas de Identidade e do CPF, antes das apresentações.

E filosofou: - Quem quer ser o que já foi, já era! UFA! Que susto! Se isto tivesse ocorrido com alguns dos divorciados que conheço, eu estaria agora providenciando a liberação de corpos no IML. Como ensinou Einstein: - TUDO É RELATIVO!

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
 

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