Dr. Armando Rhollus


    Um personagem, um pseudônimo que me distrai, revela meu lado criativo, a mente que viaja por onde concebe histórias, estórias, ficções, causos, e vira notícia aqui!

        Os causos narrados são obras de pura ficção, não se referindo à qualquer pessoa da vida real, e qualquer semelhança com nomes, apelidos, fatos e condutas será mero acaso. 

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Dr. Armando Rhollus em: Os do Bando se processam mútua e reciprocamente!

Naquela segunda-feira, o advogado acordou revigorado, pois mais de 25 horas de sono, paz e boa alimentação costumam fazer milagres.

Contudo, a velha sensação de que a energia adquirida seria gasta rapidamente não o deixava. Assim foi que, ao adentrar no templo laboral, limitou-se a dizer "bom dia" à Dona Laciva, evitando qualquer indagação sobre qualquer assunto.

- Quem pergunta quer resposta! E não se pergunta o que não se sabe! Sabe-se lá o que pode advir!  - Filosofou o causídico, avesso a assuntos que não lhe dizem respeito.

Ao entrar na sua sala o Dr. Armando Rhollus deparou-se com o Ed em pé, irritadíssimo: 


- Que demora Dr.! Eu aqui desesperado para reaver um mínimo de justiça e dignidade, e ninguém me acode! Olha o estado do my love! Há dois dias que não para de chorar, intoxicada! Vou processar A TODOS!- Disse irritado o Ed.

   
- Por favor, caro amigo e cliente, diga-me o que se passou e quais são os causadores dos infortúnios de vocês! - Educadamente indagou o causídico.

E o Ed, suspirando profundamente, iniciou o rosário das agruras: 

- Tudo começou quando, vi o anúncio de uma Mercedes na internet, e  para agradar o meu big love, aqui presente, iniciei as negociações. Era o nosso sonho de consumo! 




- Meu salário de 2 contos de réis por mês não me permitiam comprá-la, e então, para melhorar de vida, aceitei o oferecimento do Sr. Fraga, para trabalhar numa das empresas dele!

- Ele me admitiu na 5a. feira, me apresentou para o pessoal da empresa, me fez participar de reunião. Na 6a. feira, eu viajei para Curitiba, já à trabalho para a empresa dele, pois, se o Zé Badó queria ver a loja de motos, eu iria fazer vendas para os dirigentes e funcionários!

- Viajei de moto, porque o Sr. Fraga me recusou até mesmo passagem de busão! Na chegada em Curitiba, de tão entretido com os assuntos da empresa dele, sofri um acidente. Ele se recusou a me prestar qualquer assistência e indenização. Não emitiu a CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho). Me recusou até mesmo os documentos para eu conseguir auxílio doença ou aposentadoria por invalidez. Quero processá-lo e arrancar até o último dente de ouro dele....! E este é todo o dinheiro que terei! -  Finalizou o Ed.

Pretendendo obter conexão de assuntos e talvez de ações judiciais, indagou o velho e matreiro advogado:

- O Sr. disse que vai processar A TODOS! Por favor, prossiga!

- Pedi para o Zé Badó, que estava em São Paulo, para verificar o carro para nós, e ele disse que o carro estava em ordem, que o experimentou. E soube que ele peidou dentro do carro, o inutilizando! O my love aqui presente, a Ci, foi comigo buscar o carro e está com intoxicação aguda! - Disse o Ed.



- Um rato morto cheira melhor! Não consigo parar de chorar e não consigo comer nada há 3 dias! - Choramingou a Ci!




Naquele momento, a Dona Laciva informou pelo telefone que o Zé Badó, recém apelidado de Sherek adentrava na sala do advogado. 




- Eu quero processar o Delon porque ele me colocou este apelido infame, e com a grana que o Sr., Dr. Armando Rhollus,  tomar dele, eu pago a lavagem completa da Mercedes do Ed! E o ajudo a receber do Sr. Fraga. Sou testemunha de que o Ed viajava à trabalho. Assim ficaremos quites, porque outra grana não tenho! - Despejou o assunto o Zé Badó.

- Por favor, dê continuidade ao assunto, Sr. Ed! - Pediu o Dr. Armando.

- Para pagar o carro, eu tive que ir à Limeira, onde escondo minha grana, e como não posso dirigir, cometi a burrada de pedir para o Delon dirigir o meu carro. Logo na saída, 07:00hs, como ele não andava nada, eu disse que iríamos perder o horário bancário em Limeira: 




Continuou o Ed: 

- De pirraça, ele começou a correr muito com o carro, até tirando racha: 




- Ultrapassou todos os limites em rodovias controladas por radar: 



- Além dos radares, fomos parados por guardas e o Delon deu a MINHA C.N.H. para os guardas, que, de tão putos com o Delon, nem notaram a sacanagem. Um cálculo modesto aponta 70 pontos na minha CNH e R$10.000,00 de multas.




 *

Novo anúncio da Dona Laciva, informando que o Delon estava invadindo a sala. 

- Caro colega, Dr. Armando Rhollus, permita-me a interrupção! Sei que o Sr. é advogado das empresas do Sr. Fraga, e advogado de boa parte do Bando. Assim, como não pode advogar interesses opostos, podemos repartir e assim manteremos tudo sob controle. Com ínfima parte dos honorários que receberei, pagarei a mixaria reclamada pelo Sr. Ed, abatidos é claro, os meus honorários e diária pelos meus préstimos de motorista. São estes os meus recursos! - Discursou o Delon.




*

- Por favor, Sr. Ed, continue o relato do seu calvário, que não é pequeno! - Incentivou o Dr. Armando Rhollus. 

- Quero processar também o Sr. Abdhalla, porque ele andou difamando minha imagem, dizendo que, ganhando a merreca que ganho, eu não posso comprar Mercedes, e que por isto, eu teria recorrido à corrupção! - Bufou indignado o Ed.




- E mais! Muito mais! Fui buscar a Mercedes com o meu big love, aqui presente, que foi vistoriado pelo Zé Badó, e olha o que foi que me entregaram. Quero processar o Zé Badó por isto também! 




- E ela, a my big love, a Ci, veio de São Paulo à Londrina em 18 horas, parando só duas vezes para ir ao banheiro. Eu ia ficar quieto, aguentar heroicamente todo o sofrimento, mas agora tive que falar!


  

*

Novo informe da Dona Laciva, desta feita informando que o Sr. Fraga invadia a sala. 




- Eu quero processar o Sr. Abdhalla, porque ele abriu uma boite, muito da safada, em frente a empresa - a "Só Love" - da minha mulher, a Sra. Hilde. Além da espelunca daquele turco sacana ser um inferninho, ele está fazendo panfletagem para a nossa clientela. E o pior, com sucesso! 

- Só poderei acertar com o Ed e mais alguém, depois de receber do Sr. Abdhalla. 

*
              
E então, mais uma vez, no interfone a Dona Laciva informa que, o Sr. Abdhalla estava invadindo a sala. 

- Dr. Armando Rhollus! Eu quero processar os governos federal, estadual e municipal por não ter sido ministrada matéria indispensável à mais elementar formação cultural do nosso povo. O inglês básico! - Rugiu o Sr. Abdhalla! 





E continuou: 

- Imagine que eu abri um estabelecimento de respeito e recato, em local estratégico,  visando o intercâmbio nas relações afetivas entre as pessoas. Criei até slogan: " O que a "Só Love" une, a "Só Fuck" mescla e democratiza!"



- Porém, a ignorância crassa do povo entende que o estabelecimento é casa de arruaças e se chama " funk"! 





- Com a gorda indenização que conto receber dos governos, pagarei alguma merreca que esses despeitados queiram receber. Lamento informar, que este é todo o recurso e crédito previsível de que disponho!
  
E todos olharam para o velho causídico, esperando habituais  instruções! Que não tardaram: 

- Caro colega, Dr. Delon Drina! A clientela é toda sua! Boa sorte! 

    

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Dr. Armando Rhollus em: Ilíada e Odisséia, na versão de: O mero narrador!


Todo bom advogado tem em sua formação o estofo do conciliador, pois consegue ver a maioria das faces e facetas de uma ou várias questões. Além disso, a idade e a experiência ensinam que: tempo, paciência e disposição são artigos de luxo, à serem gastos com as questões principais e de relevo.

Tal postura angariou ao experiente advogado vários cargos e encargos de conciliador nos mais diversos órgãos.

Assim, quando Dona Laciva o informou por telefone que o Bando estava na recepção do templo laboral do causídico, em polvorosa, com acusações e agressões generalizadas, as instruções foram calmas e precisas:

- Entregue folhas em branco e caneta à todos e peça que anotem as reclamações e os pontos mais importantes dos fatos. Ajude-os na formulação das questões, e antes que eu converse com todos na sala de reuniões, me forneça a sinopse dos fatos atípicos. Em breve aí estarei.

*
Mais tarde, o advogado adentrou no seu templo laboral, muitas vezes chamado de pelourinho, e recebeu da Dona Laciva o calhamaço de reclamações do Bando, que o informou: 

- Estão lá na sala de reuniões! Já tive que requisitar força policial 3 vezes e jogar um balde d'água neles para acalmá-los! O Sr. quer o resumo agora? 

- Sim! Por favor! - Respondeu-lhe o advogado. 

- O Ed reclamou do Delon, que reclamou do Bad, que reclamou dos dois; Foram viajar e aprontaram confusão com metade do planeta; Os 3 caíram das motocas e acabaram por se estapearem; A Ci deu um esculacho no Ed; O Ed fez o maior escarcéu e deu o maior vexame no hospital, e tomou outro esculacho da Ci; A Eza disse que o Delon terá boa saúde só até ela o encontrar pessoalmente; A Adri mandou o Bad largar de ser "forgado" e ir ver se ela está na esquina; O Bad e o Delon se desencontraram na estrada, aterrorizaram uma cidade inteira, e seguiram para lados diferentes!  Este é o resumo do que houve!

- Dona Laciva! Eu lhe pedi o resumo de fatos atípicos! Isto que a Sra. me contou é a conduta normal e corriqueira do Bando! 

Depois de ler o calhamaço de reclamações generalizadas, suspirar resignadamente e se perguntar pela bilionésima vez: - Que fiz eu para merecer isto? O advogado entrou na sala de reuniões, cumprimentou cordialmente a todos, e com a lendária calma sugeriu: 

-  Organizei as reclamações pela ordem cronológica, vamos ver as mais importantes, e depois, dentro de uma visão global do imbróglio, vamos achar uma solução que contente à todos. Concordam? 

E antes que o tumulto se instalasse, começou o causídico: 

- Primeiramente, transmito ao Sr. Ed a alegria e o alívio por sabê-lo bem de saúde, sem ferimentos de maior gravidade. Lamentamos o ocorrido, e nada do que aqui for dito significará em sentimento depreciativo pelo infortúnio sofrido! 

- Manda ver Dr.! Pouco to ligando pra esse pessoal! Fazem gozação de tudo! - Disse o Ed.

Continuou o advogado:
- Ao que parece, tudo começou com a manifestação do Sr. Delon no grupo secreto, sobre não ficar em casa no fim de semana, confere? 


- O Sr. Ed sugeriu Curitiba e logo em seguida São Paulo, para ir verificar a Mercedes, tendo a Sra. Ci dito que: - Mercedes? Deve ser mais uma biscate que ele arrumou por lá! Esse aí? Eu conheço bem....!!!

- O Sr. Bad, por sua vez, disse que gostaria de viajar sim, e ofereceu como alternativas as localidades do Oiapoque e do Chuí! E marcaram uma reunião no "Komidas" (com piadas de associação com mulheres disponíveis) para ultimarem os detalhes, confere?  



-  Por fim, se reuniram na manhã seguinte, para se dirigirem à cidade de Curitiba e posteriormente ao litoral, tendo cada qual se preparado e aprestado a seu modo: 


- O Sr. Bad de robocop: 

- E o  Sr. Ed de balaclava, pois, conforme declarou, e aqui começam as acusações: - Na companhia desses dois é aconselhável tampar os ouvidos e nariz! Confere?

- Depois de horas de viagem, com várias gozações de parte a parte e reclamações de praxe quanto a lentidão do Sr. Delon, com os usuais revides, chegaram juntos na cidade de Curitiba. Confere?

- Esse cara não anda mesmo! Atrasa a viagem de todos! - Disse o Bad.

- É! Ele pode andar melhor sim! - Afirmou o Ed.

- Se vocês ainda não sabem que, viajamos juntos, mas cada um dirige à seu modo, sugiro que leiam sobre o assunto! Não vou me colocar em risco só para agradá-los! - Rosnou o Delon.

- Calma Senhores! Vamos por partes! A somatória de itens é grande, não adianta nos perdermos em cada um deles! - Conciliou o advogado.  

- Momentos depois de abastecerem as motocas, estavam procurando a revenda da marca Triunph, quando o Sr. Ed sofreu o acidente motociclístico. Confere?

- Acidente o ca.....! A f.d.p.  duma mulher que estava na minha frente enfiou pé no breque, e para não bater nela eu segurei forte no freio, a moto escorregou e fomos para o chão! E agora to todo fud....!!! TINHA QUE SER MULHER NO VOLANTE!!! - Urrou o Ed.  

- Caramba! O Ed e a moto pareciam jaca madura em vendaval! Voou Ed e motoca até no estrangeiro! Coisa feia mesmo! Joguei minha motoca no pátio do estacionamento duma loja e corri lá para salvar dos escombros a carteira dele! -  Disse o Delon.

-  Eu vi pelo retrovisor! Parei a minha motoca em cima da calçada e corri para lá, ver se tinha dado PT (perda total) no Ed! Corri quase 50 metros, posso deixar o meu regime por uma semana!  - disse o Bad.

- Liguei para a Ci, avisando que tinha sofrido um acidente e levei esporro! Ela disse que não pode ficar um minuto longe, que eu já faço cagada! Quis ir me buscar! Não dá...! Todo f......., e ainda tomar esculacho ao vivo e a cores? - Protestou o Ed.

- Continuemos! - Disse o causídico.

- Aí vocês colocaram o Ed num táxi e foram para o Hospital Ortopédico, onde, segundo consta nos relatos, o Ed, mesmo ferido e com fortes dores  fez o maior escândalo!

- Pois é! Foram fazer a ficha do Ed, e a moça perguntou o estado civil dele, que respondeu: - Enquanto você não casar comigo, sou solteiro! E depois quando ela perguntou o tipo de acidente, ele disse: - Acidente de moto! Sou "véio assanhado"! Não quer mesmo pensar em casar comigo? - Dedurou o Bad.

- Depois ele atormentou o médico, disse que: - O que não funciona, não funciona mesmo, e não aceito o diagnóstico de ombro quebrado! Dá um jeito nessa minha dor no ombro que eu quero seguir viagem! Mas não deu! O ombro está quebrado mesmo! - Completou o Delon.



- SE VOCÊ CONTAR O QUE ACONTECEU DEPOIS, EU TE MATO! - Berrou furioso o Ed para o Delon.

- Dona Laciva! Traz o balde d'água e chama a polícia para acalmar esse povo! - Solicitou o advogado.

- Eu vou contar sim! A enfermeira veio com a injeção e disse que seria na bunda, e você disse para ela tirar a tua calça, que você estava sem os braços. E quando ela soltou o teu cinto, as tuas calças caíram no chão, e vc ficou de ceroulas pretas, muito sexy! - Provocou o Delon.

- E mais! Ela abaixou as tuas ceroulas e apertou a tua bunda, dizendo: - FOM! FOM!  E foi muito legal ver a tua fúria naquela posição, com a agulha enfiada na bunda, quando eu tirei o celular para fotografar e disse: - Facebook! Facebook!  - Continuou o Delon.

- É! Mas quem subiu minhas calças foi você! E tenho certeza de que andou me "aparpando"! retrucou o Ed. 


- Dona Laciva! Chame o Batalhão de Choque, para conter o tumulto! - Ordenou o advogado, ao mesmo tempo em que se colocava a salvo do festival de tabefes desencadeado.

Passado o maior furor do tumulto, o causídico, resolvido a cumprir sua missão até o fim, prosseguiu:

- Embarcada a motoca do Sr. Ed num guincho para Londrina, o Sr. Bad fez uma sessão de strep tease atrás de um veículo no estacionamento onde estavam as motos, despindo a indumentária de robocop. A seguir, o Delon e o Bad levaram o Sr. Ed até o Aeroporto, tendo o Sr. Bad por equívoco, quase determinado o Aeroporto do ABACAXERI, gerando momentânea confusão, confere?

- Eu mato esse cara! - Rosnou o Bad.

- Na sequência, o Sr. Bad e o Sr. Delon forçaram o Sr. Ed a comer um sanduíche de nome Beirute, dizendo que o nome era o mais apropriado para o que ele aprontou! E mais: O Sr. Delon esqueceu o envelope com o exame raio X do Sr. Ed no banheiro, e quase que o perde, confere?

- Esse "cabeça de bagre" só não perde o fiofó porque está rosqueado! - Urrou o Ed.

- E assim, o Srs. Bad e Delon embarcaram o Sr. Ed no avião para Londrina, onde o esperou a Ci, confere?

- SIM! E telefonamos para confirmar! Com o Ed nunca se sabe! - Disseram todos em coro.

*

Depois da indispensável pausa para tomar um necessário café e retomar o fôlego, prosseguiu corajosamente o advogado: 

- Na sequência, o Sr. Bad e o Sr. Delon ficaram à deriva pelos bancos do aeroporto, com o Sr. Bad reclamando em inglês: - Lost in Curitiba!  

 - No seguir, o Sr. Delon incomodou a amiga do Bando, a Srta. De Nise, que, se vendo em risco de envolvimento em confusões mais graves, os foi buscar no Departamento de Achados e Perdidos do Aeroporto e os retirou de circulação,  confere? 

- E diante do estado de penúria de ambos, os fez jantar. E o Sr. Delon levou os restos das pizzas para a "boquinha da madrugada", confere? 

- Esse safado nem repartiu as pizzas comigo! - Reclamou o Bad.

- Você está de regime! - Retrucou o Delon.
 
- E depois a Srta. De Nise os entregou num hotel, com ordem expressa de reclusão em quartos separados e incomunicabilidade com outros hóspedes, confere?




*

E prosseguiu o advogado, que começava a dar mostras de cansaço: 

- Na manhã seguinte, o Sr. Delon e o Sr. Bad foram buscar as motocas e por insistência do Sr. Bad procuraram a tal loja da Triunph, tendo o Sr. Bad feito as habituais gracinhas de sair em alta velocidade, deixando o companheiro para trás, confere? 

- Esse cara é uma lesma manca! - Rosnou o Bad. 

- Essa anta fica se exibindo, devia pendurar uma melancia no pescoço! - Respondeu o Delon. 

- Na tentativa de não se perder do Sr. Bad, o Sr. Delon, num cruzamento em aclive, teve que segurar firme a moto, que acabou caindo, confere? 

- Caiu de "maduro"! - Completou o Bad.

- Ainda capo esse cretino! - resmungou o Delon. 

- E depois de se estranharem, mais uma vez, e virem a tal loja, - uma porcaria sem graça, na opinião do Sr. Delon -  saíram para o litoral. Logo após o pedágio, o Sr. Bad em mais uma gracinha desapareceu na frente, e o Sr. Delon parou para tentar consertar o retrovisor da motoca, desregulado pelo tombo, confere?

- E por conta disso, do tempo decorrido sem notícias, o Sr. Bad encetou retorno (em pista diferente), tendo o Sr. Delon descido sozinho a serra.

- Eu voltei para procurar este panaca, que nem para me avisar...!! - Berrou o Bad. 

- Eu segui adiante na certeza de achar esse energúmeno apressadinho! Celular não pega na serra e nem se atende telefone dirigindo moto! - Urrou o Delon.





- Por fim, os dois conseguiram se comunicar quando o Sr. Delon já estava na cidade de Garuva, alimentado, abastecido e se divertindo com um cachorro a quem batizou de Bada, confere? 



- Eu não sabia de mais esse desaforo! Eu trucido esse cara! - ameaçou o Bad. 

- A diferença é que o cachorro é gente boa, bonito, simpático e confiável! - Retrucou o Delon. 

- Dona Laciva! Chame novamente o pelotão de choque e traga o balde d'água para esfriar os ânimos! - Ordenou o causidico. 

Cessado o tumulto, continuou o advogado, resoluto em terminar sua missão: 

-  A seguir, o Sr. Delon e o Sr. Bad trocaram desaforos mútuos e recíprocos, tendo o Sr. Bad feito gesto obsceno para o primeiro, confere?

- A seguir, se dirigiram para Itapoá, tendo o Sr. Delon errado o caminho e aumentado a viagem em mais 30 kms., confere?

- UÉ! Ele disse que não conhecia Itapoá, e graças ao meu justificado equívoco conheceu a estrada do porto. - Justificou o Delon.

- Depois foram tomar um lanche, e o Sr. Bad culpou o Sr. Delon pelo clima úmido e brumoso:




- E o Sr. Bad passou a incomodar a Adri por telefone, pedindo previsão do Clima tempo, pois queria ir para Florianópolis ou São Paulo, ou Manaus, confere? 

- Na sequência foram para Guaratuba. Aqui já adentramos na Odisséia! Em Guaratuba o Delon mostrou um veículo de propulsão humana e disse que deveria ser a motoca do Bad e do Ed, tendo sido mandado para local que prefiro não dizer, confere? 



- Depois tomaram o ferry boat, tendo o Delon se desequilibrado no atracar da  embarcação e caído novamente, com raladuras na canela, confere?

- E depois somos nós que temos que andar de bicicleta de 3 rodas! - Resmungou o Bad.

- E chegaram em Matinhos, onde o Sr. Bad, de reconhecida "munhequice", quis hospedar-se num muquifo  dirigido por um "garganta", que afirmou ter recém comprado duas Harlley Davidson e ser casado com duas mulheres, dormindo os 3 na mesma cama, confere?




- Nisso não houve controvérsias entre nós! O cara é um baita mentiroso! - Disse o Bad.

- É isso aí! E nós vimos as duas mulheres do cara! Tudo o que se pode afirmar é que ele tem duplo mau gosto! Mulheres feias daquelas, a vantagem é não ter nenhuma! - Concordou o Delon.

- Depois, já de noite, por insistência do Sr. Bad, ambos foram para o restaurante "Moreninha" , que dista quase 2 kms. do muquifo, tendo o Sr. Delon acusado o Sr. Bad de tratar-se a caminhada de vingança maligna, confere?


- Vingança nada! Eu preciso fazer exercício para emagrecer! - Disse o Bad.

- Mas o balofo é você, e não eu! - Retrucou o Delon.

- E na sequência de acusações, o Sr. Delon debochou abertamente do Sr. Bad, quando o garçon se recusou a fazer a caipirinha de maracujá com morango solicitada, dizendo que: - Só bebe isto quem não sabe fazer caipirinha e não tem paladar!  - Continuou o advogado.

- Antes de se recolherem, o Sr. Delon afirma que ouviu o Sr. Bad dizer: - Minha pretinha linda, amo vc, amanhã passarei o dia em cima de você e seremos felizes! E que, preocupado com a sanidade mental do amigo, que poderia ter se envolvido com uma das esposas do "garganta", foi verificar e flagrou o Sr. Bad em monólogo com a motocicleta dele.

- Eu amo minha moto! O que há de errado nisso? - encrespou o Bad.

- No dia seguinte, o Sr. Delon e o Sr. Bad trocaram acusações mútuas e recíprocas de roncos noturnos e de "interdição do banheiro", quase chegando às vias de fato, confere?


O advogado, então, fez uma pausa no relato, para tratar de assunto incidental: 

- Temos uma reclamação aqui, Sr. Delon, da Sra. Eza, que o acusa de não haver lhe enviado a costumeira mensagem de bom dia no sábado. E outra reclamação, de que o Sr. enviou a mensagem do domingo às 07:00hs.

- Não lhe invejo a tendência suicida, e lhe sugiro cautela pelos próximos 2 anos, à bem da sua integridade física e mental.


*

- Na sequência, em pleno dia de domingo, por volta das 07:30hs, o Sr. Bad colocou a segurança de ambos em risco, ao trafegar pela cidade, acelerando e reduzindo a motocicleta, promovendo altos níveis de ruído, confere?

- Foi isto sim! E o Bad ainda debochou das pessoas que ele possa ter acordado, dizendo: - Devem ter me xingado assim: - Maconheiro! Vagabundo! Filho da puuuuutttttaaaaaaaaaaa...!!!!! E fiz de propósito MESMO! - Informou o Delon.

E o advogado continuou a narrativa de fatos e reclomações:

- Depois, já na cidade de Morretes, o Sr. Bad afastou-se para telefonemas sigilosos, tendo informado apenas: - No alto da Graciosa, eu sigo para São Paulo, se não me der na louca de ir para outro lugar!




Retomando o fôlego para a arrancada final, continuou o advogado: 

- No alto da Graciosa, pararam para descanso, tendo o Sr. Bad caído junto com a motoca ao estacionar, estatelando-se como um ovo frito, confere? E o Sr. Delon, a pé, quase despencou no abismo ao procurar um lugar para urinar, confere? 




O Bad interferiu na narrativa: 
- Esse cara aí, o Delon, ao me ver caído debaixo da moto, perguntou: - Machucou? E eu disse que:- Não! Estou bem! E ele já puxou a máquina fotográfica, dizendo: - Facebook! Facebook! - Eu mato ele ainda!

Prosseguiu o causídico: 
- No alto da Serra da Graciosa, o Sr. Bad seguiu rumo à São Paulo e o Sr. Delon rumo à Londrina. As despedidas foram relativamente cordiais, confere? 




- Daqui por diante, temos apenas o relato do Sr. Delon: 

- No Posto Imbaú, parei para abastecer eu e a motoca. Tinha um pessoal bem suspeito, muito simpático, de camisetinhas justinhas, pretas, com um emblema de um moto clube chamado "floquinhos.....". Me convidaram para viajar com eles, e eu disse que ando muito devagar, tartaruga mesmo, e que eles me alcançariam em poucos quilômetros, e aí viríamos juntos, e saí antes deles do posto. Depois de sair do raio de visão e audição deles, minha motoca nunca correu tanto! 

E o advogado, então, disse:

- Tenho aqui a informação de  que o Sr. Ed somente concordou em se submeter a cirurgia, porque o médico, motoquista também, afirmou que: - Ou opera e coloca a placa, ou dificilmente voltará a andar de moto! 

E finalizou: 

- Muito bem! O que vocês querem de mim? 

- Queremos que o Sr. seja justo, e como conciliador imparcial aponte qual de nós é o responsável por tantas confusões e desentendimentos, para que possamos exemplar o delinquente. 

E o velho advogado, com seu olhar calmo e tranquilo, disse: - Preciso analisar tudo isto com mais calma! Manterei contato com todos vocês!  Mas, algo posso desejar, desde já: - Fique bom logo, Edgard! Porque a estrada os espera!

Depois da saída do Bando, Dona Laciva vendo a exaustão do velho advogado, perguntou-lhe: - Que posso fazer pelo Senhor? 

E o advogado respondeu-lhe: 

- Depois de tudo isto, preciso espairecer um pouco, pensar em coisas leves, tranquilas e simples! Pegue, por favor, a pasta do litígio: Israel x Palestina.



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Dr. Armando Rhollus parabeniza Edgard Braz Nogueirol, e lhe dedica: "O Sumiço". 

Naquela manhã de 4a. feira, o causídico chegou em seu templo laboral meditando sobre a agenda diária. Não esqueceu que, 19 de junho é a data do aniversário de um integrante do Bando, cujos participantes nada possuem de displicentes em oportunidades para seus encontros e arruaças.  Anotou mentalmente, a atenção de enviar um telegrama ou escrito ao insigne aniversariante, visto que, o Bando na véspera enviara ilegalmente, por correio, um bolo comemorativo do natalício: 





O causídico ouviu o telefone tocar e ser atendido por Dona Laciva, que, à cada minuto exclamava: - Meu Deus..! Oh my God..! Não me diga..! Que horror..! 


O advogado conteve a impaciência, pois sabia que lhe seria trazido o relatório completo, treinada que é Dona Laciva para inteirar-se dos substanciais detalhes que fazem toda a diferença, o que ocorreu assim que terminada a conversação. 


Tudo começara no lar do Zé Badó, que pachorrento remanchava no leito, muito depois de saído o sol, e foi sacudido pelos aflitivos gritos da Adri, que acabara de atender um telefonema:  


- ZÉÉÉÉ...!!!! ACORDA FOLGADO! BADÓÓÓÓÓ...!!!!! LEVANTA PINÓIA DE HOMEM...!!! LEVANTA ESSE BUNDÃO E FAZ ALGUMA COISAAAAAAA!!!! ANTES QUE EU PERCA A PACIÊNCIAAAAAA!!!!!!! 




Apavorado com os gritos,  o Zé Badó saíra tropeçando nos tapetes, escorregando em azulejos, derrubando mesas e cadeiras, tentando entender o que acontecia, mas não era insano ao ponto de interromper a fúria da Adri para pedir explicações. Assim, tentava captar elementos nas frases que ela dizia:  

- ELE SUMIU...!! AI MEU DEUS..!!! ACHO QUE COM O SACO VERDE..!!!


E o Zé Badó imediatamente ligou os fatos com o amigo Ed, aniversariante e evidência do dia, cujo sumiço implicaria no adiamento da festa marcada, o que justificava a ira da Adri.



Foi quando, perdido em pensamentos sobre o amigo motoquista, incorreu novamente na fúria da esposa: 

- VOCÊ AINDA ESTÁ AQUI ????!!!!  PAMONHA!! FAZ ALGUMA COISA, ANTES QUE EU FAÇA DE VOCÊ COISA ALGUMA !! HOJE EU MATO UM..!!


E o Zé Badó,  imediatamente acionou o Bando todo, que se reuniu em Assembleia permanente. 


Neste ponto da narrativa, o advogado pediu explicação: 

- Ainda estão reunidos em assembleia? 


De pronto, Dona Laciva forneceu a resposta: 

- Estão sim! E me informaram que são grandes a tensão e a preocupação que os acometem! 

Continuou Dona Laciva o relato do deveres sucedido: 

- A Ci está inconsolável! 

- Não para de chorar e clamar que o quer de volta!  É assim que está a situação agora!

O advogado pediu para ser informado do desenrolar dos acontecimentos, e secretamente telefonou para seus contatos, colocando-os de prontidão. 

Horas mais tarde, Dona Laciva recebeu novo relatório do Bando, e o transmitiu ao causídico: 

- O sumido não apareceu e nem há notícias! O Bando continua em assembleia permanente, e eles agora estão tentando infundir esperanças na pobre Ci

- Às vezes, ele só foi dar uma volta! Não será a primeira vez que faz isto! 

- Vai ver que estava cansado e parou na estrada para dormir um pouco, descansar antes de seguir viagem! 






- Mesmo que esteja com alguém, é só um casinho passageiro! Fogo de palha! Não se preocupa não, boba! 




Dona Laciva informou também, que as mulheres confabulavam reservadamente entre elas: 

Sra. Hilde: - Tinha que ter castrado! Eles ficam gordinhos e sossegados! Vejam o lá de casa, só faz gracinhas e barulho! 

Adri: - Eu não castrei ainda, porque já é sossegado até demais! E já não faz quase mais nada mesmo! Tenho que dar uns berros para ele espertar! Mas agora, com essa, não vai ter jeito! Vou castrar sim! 




Na medida em que o tempo passava, o Bando lutava para manter o otimismo:

- Pode ter saído para comprar aquele carro que tanto quer, e vai te fazer uma surpresa! 





- Pode ter ido passar uns dias na praia para espairecer, e esqueceu de avisar! Há precedentes, né? 






- Até pode ter arranjado um emprego de garçon para ajudar na despesa..! 

E no final do dia, o causídico recebeu o relatório final. O Bando já cogitava a possibilidade de uma triste e dura realidade. 

A Ci, desolada num canto, repetia: 

-  Coração de esposa conhecedora do traste que tem, não se engana! Aconteceu algo com ele! Eu sinto isso....!!

- Pode ter acontecido algo na roça! Lá tem muito bicho! 



- A máquina de cortar cana pode ter acertado ele! 





E as opiniões se diversificaram: 

- Se a máquina de cortar cana acertou ele, sobraram só alguns pedacinhos para enterrarmos! 






- Ele já virou caipirinha ou entupiu algum carburador! 





- Algum marido ciumento matou e enterraram como indigente! 




Horas mais tarde, o Bando recebera a notícia de que a polícia havia se retirado do caso, diante de insuperável dificuldade técnica!




Porém, o Bando não se deixara abater e nem aceitara a fatalidade como realidade imutável, e portanto reagira com vigor! 

- Não percamos as esperanças! Espalhemos a notícia e vamos procurá-lo por nossa conta e risco!





- Chamemos nossos irmãos das estradas!



- Procuremos por todos os lugares! 




E quando o Bando se aprestava para arrostar o mundo, em busca de um dos seus, bradando: - Cada um por si e deus por quem rezar melhor e primeiro!  Viera o fatídico telefonema, atendido pela CI, que, em copioso pranto, comunicou aos demais: 

- Era do "lixão", do aterro sanitário! Acharam ele dentro do saco plástico verde! Ele está voltando para nós, para casa, dentro de um saco de lixo! 

Tomado pela consternação, o Bando aguardou em silêncio a chegada daquele que, os abandonara tão cedo. E então, adentrou no recinto, o funcionário da Limpeza Pública, trazendo o saco verde com o esperado conteúdo. 

A Adri não se conteve e correu feliz, gritando: 

- O Eddie voltou..! O Eddie voltou...!!!!





Tal efusividade arrancou do Zé Badó taciturno comentário: 

- Fosse eu quem tivesse sumido, haveria uma festa, isto sim! 

E o Bando, lhe respondera de imediato: 

- Sem dúvida! Faríamos uma farra de 3 dias e 3 noites, festando sem parar!  Que furada você deu hoje! Poderíamos estar trabalhando...!!


E então, na confusão de acontecimentos e sentimentos, ouviu-se a voz sempre baixa, calma e tranquila daquele que também acabara de chegar: 


- MAS QUE CACÊTE! Eu viajo 280 kms., sem almoço, peguei estrada interditada por 8 horas e pifou a bosta do meu celular, e chego em casa e não tem ninguém! Que é que tá havendo, hein? 

E a Ci, no melhor estilo "esposa que conhece o traste que tem", atacou furiosamente: 

- Não me venha com conversa furada! Onde é que o SR. esteve desde ontem? 

E o Ed, injustiçado como a grande maioria dos maridos é, respondeu: 

- Trabalhando, oras! Quem é que vai pagar o jantar de vocês no sábado? 



Parabéns! Edgard, Ed! Em nome de todos nós e do Dr. Armando Rhollus! Tudo de bom, seja sempre muito feliz junto daqueles que te querem bem!

O Bando
  
 

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Dr. Armando Rhollus - PROCON x  Agência Matrimonial "SÓ LOVE"!


Não é de hoje que o causídico ouve falar na criação e instalação da "Só Love", agência matrimonial pertencente a uma das Sras. do Bando, mais especificamente, a Sra. Hilde, esposa do magnata, Sr. Fraga. Também já havia visto outdoors espalhados pela cidade, a anunciar a grande inauguração, bem como, a convocação de interessado(as) para elaboração de fichas cadastrais e perfis: 



Duas madrugadas atrás, ao regressar de longínquas paragens, no avião da madrugada, e adentrar num dos únicos estabelecimentos abertos naquele horário, para o fim de alimentar-se, o velho advogado encontrou-se com um dos membros do Bando, o Delon, que, enregelado buscava aquecimento, e, em breve relato sua agrura narrou: 


- Eu venho vindo de uma querência distante, sou um motoquista errante, que desceu daquela gleba! A minha motoca corre mais que o pensamento, mas ela veio em marcha lenta, porque ninguém me espera no meu cafôfo e tá um frio do capeta...! Não estivesse namorando, me inscreveria na "Só Love", porque dormir com frio nas costelas no inverno, ninguém merece. 



*

No dia anterior, ao chegar no seu templo profissional, o advogado se deparara com a secretária, Dona Laciva, toda emperequetada e perfumada, que requereu dispensa por algumas horas, a fim de preencher a ficha cadastral e perfis na "Só Love", tendo retornado tristonha e desanimada horas depois.

Para completar os mistérios e desconformes, o assessor externo para assuntos aleatórios, Sr. JEsualdo SUSpirinho também desaparecera sem deixar vestígios, e o restante do Bando mantivera-se em silêncio.

Sobre a mesa do advogado, ainda fechadas, as duas correspondência oficiais, uma da Delegacia da Mulher e a outra do Procon. Ao que tudo indicava, os mistérios seriam esclarecidos. 

A primeira correspondência comunicava que ele, Dr. Armando Rhollus, fora indicado como advogado pelo detido Zé Badó. A correspondência do Procon intimava o causídico a apresentar defesa em favor da "Só Love" em denúncia feita pelo Sr. JEsualdo SUSpirinho, por: sonegação injustificada de produto disponível. 

- Primeiro, as coisas primeiras! sentenciou mentalmente o advogado! E dirigiu-se para a Delegacia da Mulher, a fim de, quando nada, tomar as primeiras providências para a soltura do Zé Badó, por menos que ele merecesse.

Em síntese,  a acusação que pesava contra o Zé Badó era haver se apresentado na "Só Love" como solteiro, e dirigido gracejos à uma das clientes, acabando por fazê-la sentar em seu colo: 



Contudo,  a Sra. em questão, sentindo-se lograda pelo Zé Badó, por descobri-lo casado, requisitara o auxílio do seu primeiro marido, Sr. JEsualdo SUSpirinho, que, em suas declarações na Delegacia, confessara haver "enquadrado e exemplado" o detido, assim terminando o termo legal: 

- Ele já havia combinado se comportar! Detesto sujeito furão

Tendo pago a fiança do Zé Badó, foi o mesmo colocado em liberdade, com o compromisso de comparecer a todos os atos do processo, e recebido o alerta da autoridade policial: 

- Pelo furo com o JEsualdo SUSpirinho, você tomou uns merecidos cascudos! Se furar  com a gente no processo, você vai ver como ficará o teu furo!

*

No Procon, o advogado leu as declarações do queixoso JEsualdo SUSpirinho, e da Sr. Hilde, proprietária da "Só Love". 

Sra. Hilde:

Este cidadão adentrou no meu estabelecimento e quis fazer cadastro e perfil, o que foi feito, e depois, por mim,  foi encaminhado para nossas atendentes, a fim de lhe serem explicadas as limitações dos nossos contatos para pessoas como ele, considerando o grau evolutivo das considerações que faz.



Porém, ele disse-me que, diante da falta de material melhor, ele se contentaria comigo, enquanto não achássemos coisa melhor, e que,  o sorriso maroto dele é páreo para o meu senso de humor: 


    


E finalizou, invadindo o auditório da minha empresa, durante uma palestra para as clientes, dizendo: 





Sr. JEsualdo SUSpirinho:


Disseram que lá eles arranjam namorada pra gente, que sempre conseguem achar alguém. Não quero nem saber! Aquela espigadinha não faz o meu tipo, mas eu aceito como quebra-galho até acharem uma do meu gosto. Então, existe o produto disponível e eu sou consumidor pagante. Quero o meu direito!

Ela me disse que é casada, e eu disse que tudo bem, ninguém é perfeito! Aceito assim mesmo, mas quero redução no preço! 


*

O advogado respirou profundamente e lembrou-se com saudade do tempo em que conseguia se surpreender com o inédito. E pensando no inédito, chamou a Dona Laciva pelo interfone: 

- Minha amiga, posso saber a razão da sua tristeza?  Perguntou-lhe com simpatia.

- Dr. Armando! Nos estoques da "Só Love" só tinha este cara aqui. E estendeu-lhe a fotografia: 



   

E Dona Laciva continuou:

- Eu preciso de uma pessoa mais forte, de mais atitude, que não tenha medo de ser quem é, dizer o que quer, de enquadrar e exemplar um sacana, capaz de exigir os seus direitos. Se for muito feio, eu ajudo o rapaz a se cuidar, a ter uma aparência melhor....!!!

E com a voz sempre calma, disse-lhe o advogado: 

- Dona Laciva, ninguém é perfeito! Sabe, nem sempre vemos quem está próximo de nós, pessoas justas que fazem o mundo melhor! Por favor, pegue a pasta do excelente Sr. Jesualdo Suspirinho, pessoa a quem tenho no mais alto conceito. Por favor, seja simpática com ele, pois é um coração muito sensível, e ainda sofre por não ter achado alguém..

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Dr. Armando Rhollus - "A Festa" - escrito por D. Laciva

      A noite transcorria calma e tranquila, como programara D. Laciva. Embora não fosse de sua alçada, ela sabia que o Dr. Armando Rhollus estava com seus não afazeres, exatamente como ele planejara. 

      A dia fora totalmente atípico para ela, que, fora convidada a participar de um dos setores sociais do amigo e empregador. Muito rira e brincara, e até mesmo, participara e fizera comentários jocosos sobre todos, incluindo o causídico, ainda que discretamente.

      Porém, o que a deixou pensativa, enquanto ouvia os ruídos da noite, foram as palavras calmas, tranquilas e geladas do velho advogado, quando a levou para casa:

   - Demonstrei, no nosso convívio, em sentido geral, ser seu amigo leal. Penso que, de uma forma ampla, demonstrei espírito de consenso, atendendo aos demais, muitas vezes contrariamente à minha certeza, e permiti riscos reais e desnecessários. 

-   Quando a Sra. quiser, dentro das circunstâncias adequadas, fazer piadas a meu respeito, por favor, faça-as em voz alta, para que todos possam rir, e como sou bom esportista, e se a piada for boa, ajudarei a rir e a parabenizarei.

-   Quanto a algumas piadinhas que fazem a meu respeito, de mau gosto até, não tenho vontade de apresentar os fatos contrários de que disponho, que acabariam com o riso de alguns que se divertiram tanto. Basta-me saber que os tenho.

-   Finalizo este breve discurso, D. Laciva, informando que reciprocidade é um termo e comportamento que utilizo. Não vamos brigar e nem voltar ao assunto. Tenha uma ótima noite!
    
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Dr. Armando Rhollus - O aniversário do Presidente do Grupo "JC Bad Aró S/A".

       No final da manhã daquela segunda-feira, 15.04.13, jazia sobre a mesa do causídico, a pilha de papéis referente às transações das réplicas do banquinho, e que seria encaminhada à Receita Federal.

      De fato, mais de 2.500.000 banquinhos vendidos oficialmente, acabou por chamar a atenção dos publicanos. 

      Se fazia indispensável a reunião com o Presidente do Grupo Empresarial: JC Bad Aró S/A, para fixação das estratégias legais e colheita da assinatura em vários documentos. 

      Neste intuito, o Dr. Armando Rhollus determinou por interfone à D. Laciva

-  Por favor, telefone ao Dr. JC Bad Aró e marque uma reunião com ele para hoje a tarde ou amanhã cedo! Diga-lhe que é urgente! Ele sabe do que se trata!

      Minutos depois, D. Laciva informou ao advogado: 

-   O Dr. JC Bad Aró está incomunicável desde ontem. Sabe-se que ele fez uma reunião com os gerentes regionais, e desde então, não há mais notícias do seu paradeiro.


      Temeroso de que o amigo e cliente tivesse sido vítima de acidente ou malfeitores, ou ainda pior: incorrido na ira da Adri, determinou o cauteloso causídico à D. Laciva

-   Localize, por favor, o Sr. JEsualdo SUSpirinho, Chefe de Segurança do Grupo, e diga-lhe para localizar o Sr. JC, que foi quem lhe custeou o notebook usado, para frequência no curso on line e gratuito de detetive! 

        *

      Duas horas depois, começaram a chegar as preocupantes notícias, transmitidas por D. Laciva:

 -   Dr. Armando! O Dr. JC Bad Aró foi visto na companhia de um casal muito suspeito, com roupas esquisitas, parecendo marcianos, numa loja de conveniências. Aqui está a foto: 



       Continuou D. Laciva o relato: 

 - E depois, foram fotografados pelas câmeras da Cia. de Trânsito, porque ficaram batendo papo no sinaleiro e causaram grave engarrafamento no trânsito. Aqui está a foto: 




      E terminou o relato, a prestativa e eficiente D. Laciva:

-   Por fim, o radar fotográfico da estrada que leva ao Mato Grosso do Sul os captou, tirando racha. Eis a foto e o registro de velocidade, indicando que estavam a 111 km/h!    




-   Mantenha-me informado de cada fato descoberto, por favor! Determinou o velho advogado, já temendo o pior.


      Horas mais tarde, recebeu o Dr. Armando Rhollus novos informes da D. Laciva, fornecidos pelo Sr. JEsualdo SUSpirinho

-   Dr. Armando! Conseguiram mais fotos do Dr. JC Bad Aró, onde as pessoas suspeitas que o acompanham estão bem identificadas. Esta aqui foi tirada na divisa de Estado:




-   Conseguiram alguma informação sobre o possível destino do Sr. JC Bad Aró e das pessoas que o acompanham, D. Laciva?

-    A atendente da loja de conveniência, do lado de lá da fronteira, onde pararam para tomar lanche, disse que o suspeito que acompanha o Sr. JC Bad Aró, comentou que estavam indo para Bonito, no Mato Grosso do Sul, comemorarem o aniversário do Sr. JC.  Eis a foto colhida na loja de conveniência: 



      O pior se materializava, pensou triste o Dr. Armando Rhollus, ao mesmo tempo em que, olhando na pilha de papéis, verificou que o aniversário ocorreria na terça-feira, dia 16.04.13. 

     Após suspirar profundamente, o Dr. Armando Rhollus, resolveu enfrentar o pior, determinando a D. Laciva pelo interfone: 

-   Por favor, verifique quais os possíveis esconderijos, digo, hotéis e pousadas onde poderá o Sr. JC Bad Aró se hospedar, e qual a arma que a Sra. Adri se utilizará  para exemplá-lo! 

      Minutos depois, vieram as respostas solicitadas: 

-   Eis a foto da pousada em que o Sr. JC Bad Aró e as pessoas suspeitas se hospedarão: 




-   Quanto a Sra. Adri, ela disse que acabou de saber dos fatos, e que, está indo ao encontro do marido. Disse também, que, como ela encerrará o castigo, ainda não sabe, mas que,  começou adquirindo PARA ELA, com o dinheiro DELE, a motóca que ele VAI FICAR QUERENDO!  E que ele vai ver como ficará bonito, lindo mesmo, quando ela o pegar!



      Minutos mais tarde, a análise dos papéis contábeis dos banquinhos pelo conformado advogado foi interrompida por D. Laciva: 

-   Dr. Armando! As pessoas suspeitas que viajavam com o Sr. JC Bad Aró, souberam das atitudes e intenções da Sra. Adri, e o libertaram ou abandonaram...!!! Veja a foto dele, tirada pela câmera do posto, seguindo só, no melhor estilo do Selvagem Solitário: 



      Encerrada a segunda-feira, nada mais restou fazer que aguardar pela terça-feira, e orar pela alma do Sr. JC Bad Aró, pois, com a Sra. Adri no encalço dele, nada poderia salvá-lo. 

      E a terça-feira, dia 16.04.13, aniversário do considerado Sr. JC Bad Aró, amanheceu trepidante de novidades, com D. Laciva as trazendo de cambulhada: 

-   Dr. Armando! Dr. Armando!  A Sra. Adri encontrou o Sr. JC Bad Aró! Sabe-se que ele sofreu escoriações, mas está vivo! Veja a foto, tirada por um fotógrafo amador:



      Mais aliviado, o advogado encontrou ânimo para esclarecer a D. Laciva:

-   D. Laciva! As pessoas que acompanharam o Sr. JC Bad Aró não são "suspeitas", porque não não há "suspeitas" sobre as pessoas do Bando, mas sim, a CERTEZA de que vão aprontar, mais cedo ou muito mais cedo! As pessoas que o acompanhavam são o Ed e a Ci! Vamos tentar trabalhar!

      E o Dr. Armando Rhollus, se preparou para voltar-se aos assuntos profissionais, quando, D. Laciva anunciou o telefonema:

-   É o Sr. JC Bad Aró




      E então, o velho causídico, pode dizer ao amigo: 

-   MEUS PARABÉNS BAD! FELIZ ANIVERSÁRIO! TUDO DE BOM E MUITAS FELICIDADES PRA VOCE E TODOS OS SEUS! SEJAM SEMPRE MUITO FELIZES!
      
      E assim terminou o causídico o telefonema: 

- FAÇA MUITOS BRINDES À VIDA E À ALEGRIA DE VIVER! POR MUITAS DÉCADAS!


GRANDE ABRAÇO!    
    
          
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Dr. Armando Rhollus - "Empresário semi nu é preso por direção perigosa"! 

      As manhãs das segundas feiras primam pela radicalidade, pontuando o inédito ou o tédio. A incógnita é desvendada tão somente no adentrar ao sacrossanto local de trabalho. 

      A ausência de expressão facial de D. Laciva, juntamente com a medalhinha de Santo Expedito apertada nas mãos, confirmaram o que apontava o sismógrafo interno, detector de confusões, que o velho advogado possui. 

      Sobre a escrivaninha, o jornal aberto na página selecionada por D. Laciva, pôs fim ao moribundo restinho de esperanças de que, o dia e a semana transcorreriam dentro da normalidade, seja lá o que se entenda por isto. 

       Na página policial, estampada em letras garrafais, a manchete: 

EMPRESÁRIO QUASE PELADO E BÊBADO É PRESO POR DIREÇÃO PERIGOSA E CAUSA CLAMOR PÚBLICO!
      
      A mente objetiva, prática e hábil do causídico o levaram, num átimo, a calcular quantas mil réplicas de banquinhos teriam que serem vendidas para a solução do assunto e inevitáveis implicações e decorrências. 

      O princípio da leitura da notícia, ainda mais o intrigou, pois não se tratava do Presidente do Grupo Empresarial: JC Bad Aró S/A, mas sim, do SR. FRAGA!

      Ao lado da coluna, a foto do estimado e respeitado amigo, cliente, e DETIDO: 


*
       Inspirando profundamente para reaver a lendária serenidade, o causídico encetou a leitura da notícia: 

       " Foi preso em flagrante, na madrugada deste sábado pelas Polícias: Militar, Civil e Federal, o empresário Sr. Fraga, acusado de pilotar um patinete em alta velocidade, de propriedade até então ignorada. O detido trafegava na contramão de direção pela Avenida São Paulo, e, segundo informações obtidas no local, o início do trajeto se deu atrás da Catedral Metropolitana, onde o empresário teria iniciado tumulto com os mercadores do sexo, que fazem ponto naquele local. 
      A seguir, o detido encetou desabalada fuga no veículo, ladeira abaixo, proferindo palavras de baixo calão e de ordem, em  manifesta provocação aos transeuntes e perturbação da paz, trabalho e sossego dos que residem e militam na localidade
      Em sua trajetória, o empresário derrubou latões de lixo e chutou as nádegas (?) de um cachorro participante do Congresso Nacional dos Direitos Caninos, vindo a ferir os sentimentos do animal. 
      As frequentadoras noturnas da Avenida Leste/Oeste, revoltadas com a conduta do empresário, a lhes prejudicar as atividades, acabaram por cercarem-no e o entregaram às autoridades policiais. 
      Ao ser conduzido à Delegacia de Polícia local, o empresário, exalando forte cheiro de café com amarula, se recusou a dar entrevistas, continuando a proferir as palavras de ordem: 

- Abaixo a repressão! Ventile o bitelão!        

*
            Acionando o interfone, Dr. Armando Rhollus determinou à Secretária, D. Laciva: 

- Pode retornar os telefonemas à Sra. Hilde! 
- Desculpe, Dr.! A Sra. Hilde não telefonou nenhuma vez!
- Como assim.., não telefonou nenhuma vez? 
- A Sra. Hilde foi vista pela última vez, embarcando em uma limousine. Conseguimos localizar o motorista, que afirmou ter visto a Sra. Hilde empunhando vários cartões de crédito do Sr. Fraga, tendo determinado por       destino: - A Tiffany!     
*
  
      Minutos mais tarde, sabedor que o aspecto legal da questão dependeria necessariamente da apresentação do assunto sob outra ótica, voltou o Dr. Armando Rhollus a solicitar à D. Laciva: 

- Chame por favor, a Srta. Demi! Diga-lhe que preciso, por favor, dela aqui! 
      
      Pouco depois, retornou a D. Laciva: 

- A Srta. Demi disse que pede desculpas, mas que o Sr. respeite os dias da semana combinados! E perguntou várias vezes, se o Sr. já conseguiu achar o patinete da Rak

- Telefone à Srta. Demi novamente, e diga que precisamos dos serviços dela de Consultoria de Imagem; que eu também estou com dor de cabeça, e que faço uma ideia de onde pode ser encontrado o patinete da Rak.

- Dr. Armando! Esqueci de lhe informar que, o Sr. Fraga, na 6a. feira, esteve aqui e levou emprestado aquele patinete que estava guardado aqui!  

*
      Por indispensável aos trâmites legais, a formação de melhor opinião pública sobre o Sr. Fraga, persistiu o causídico: 

- D. Laciva, telefone para o encarregado de Comunicação Social e Imprensa do Bando, e peça, por misericórdia, que ele venha até aqui, urgente!

      Minutos depois, o retorno: 

- Dr. Armando! O Sr. Abdhalla disse que não poderá vir, pois está cobrindo as manifestações de grupos gays, de prostitutas e das ONGs protetoras dos animais, contra e a favor do Sr. Fraga, na frente da Delegacia! 

*
      Enquanto aguardava que algo no universo resolvesse colaborar em alguma coisa, dirigiu-se o advogado à Delegacia, a fim de providenciar os documentos necessários à alguma das modalidades legais que resultariam na soltura do Sr. Fraga. Em lá chegando, deparou-se com o inominável e indescritível: 

- O bitelão voltou! O bitelão voltou! Cantavam os grupos gays. 

 - O bofe é nosso! O bofe é nosso! O bofe é nosso! Entoavam as prostitutas. 
  - Cadeia! Cadeia! Cadeia! Para o monstro magoador do nosso lindo bichinho! Diziam as faixas com a foto do canino injuriado.       

* 
       A já difícil e complicada tratativa com a autoridade policial, apenas demonstrou o já sabido: as facções teriam que serem acalmadas e cessado o clamor público, para que, então, algo pudesse ser feito em favor do Sr. Fraga. 
   
*
       A enfim realizada entrevista com a Srta. Demi e Sr. Abdhalla resultou em campanha do Sr. Fraga pela utilização de meios alternativos de transporte, e por uma outra ótica no enxergar e cumprir da Lei Seca:

 

      A reaquisição da CNH também não apresentou problemas, com a inscrição do Sr. Fraga em Curso de Reciclagem: 

 
 *
          Grupos gays e de prostitutas foram acalmados, com a promessa de patrocínios e comparecimento do Sr. Fraga nas festividades: 

       *
      Neste pé estavam as providências, quando, D. Laciva anunciou a Sra. Hilde ao telefone: 

-     Boa tarde, Sra. Hilde! Estamos finalizando as providências destinadas à soltura do Sr. Fraga, com chances de que ele possa estar em segurança, contudo, será necessário fazer frente à certas despesas obrigatórias, e como o dinheiro é controlado pela Sra....

- Lamento informar Dr! Além de endividar meu caro espôso por 20 encarnações, sou de opinião de que ele deve ser mantido preso....! Assim, recorram à outras fontes!

*              
      Dr. Armando Rhollus, então, determinou à D. Laciva: 

- Telefone ao Presidente do Grupo Empresarial JC Bad Aró S/A , e diga que precisamos de 1.000 banquinhos, digo, R$39.900,00 reais, para resolvermos a situação do Sr. Fraga. Como garantia do pagamento do empréstimo, ele oferece em penhor a cafeteira, os gatos da Milena, e o Chokito! 

      Minutos depois: 

- Dr. Armando! O Dr. JC Bad disse que está mandando o dinheiro e aceita as garantias oferecidas, mas quer participar das festas patrocinadas e exige que o pobre e injuriado cão, vítima do chute, seja indenizado com um mês de estadia na casa do Sr. Fraga.

 *
      E assim, solto o Sr. Fraga e cumpridas as exigências, será devolvido ao mundo um novo cachorro, cuja perspectiva já se anuncia: 


*

       Cansado, porém com a sensação do dever cumprido, aprestava-se o causídico para ir embora, quando, D. Laciva no interfone indagou:

- A Srta. Demi está no telefone, e pediu para o Sr. não esquecer de levar o patinete da Rak, que ainda está na delegacia ou no páteo do Detran! O que digo à ela? 

- Diga que, enquanto eu viver, não quero ouvir falar em patinete! Compraremos uma bicicleta, cujo valor será acrescido na conta dos honorários!
                          
  
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Dr. Armando Rhollus - O Banquinho!

      Finalmente, depois de tempo e árduo trabalho despendidos, sobre a mesa do velho advogado encontrava-se a papelada do processo de "Alteração de Registros Públicos", referente a mudança do patronímico de um dos mais ilustres e queridos membros do Bando.
      Distante, na esteira do tempo, o arriscado e inglório endereço na periferia e nome: Zeca Badó, codinome "Zé Badó".
      O esforço, dedicação e ampliação territorial das atividades, tornaram-no cosmopolita e poliglota, e nas raras horas de lazer motoquista, gourmet e barman, na pouco recomendável companhia do Bando, que recebe em sua merecida e confortável residência.
                       
                                                      *
      Constituindo pilha autônoma de papéis , vizinha a primeira, à esperar por análise e conferência, os documentos de constituição, fusões,  desmembramentos e tributários da multinacional, especializada na prestação de serviços e participações, com sede no Brasil e ramificações no mundo todo:

- JC Bad Aró S/A - em território pátrio e nos de idioma português;
- J. Bad Aró Corporations - nos países de idioma ingles;
- J. Corporaciones Llanta - nos países de idioma espanhol
- J. Bad карпарацый вобада - na bielo rússia
nos países de idioma árabe: الشركات حافة سيئة

                                                        *

      Em ambas as pilhas de papéis, havia um ponto em comum, um bem móvel a despertar a continuada curiosidade e conjeturas dos círculos pessoais, profissionais e órgãos governamentais: um banquinho de 4 pés, de madeira envernizada, de aproximadamente 30 cms. de altura, que contava com o maior apreço e ciúmes do proprietário, que contudo, não apresentava explicação satisfatória para tamanha afeição, e nem interpretação para os olhares lúdicos e suspiros que lançava sobre o banquinho.

      No brasão da família e empresas, fez constar o banquinho em fina ilustração!


                                                         *
      Graves inconvenientes a falta de explicação crível já trouxera ao empresário: em cada aeroporto e rodoviária, especialmente no exterior,  o banquinho era submetido à todos os tipos de testes, destinados a aferir novo método de transporte de muambas e/ou armas; o banquinho já fora periciado muitas vezes, a fim de verificar o material de sua construção e verniz, pois não era raro utensílios construídos com materiais ilegais.
      Trabalho e despesas elevados custaram ao proprietário os ajustes fiscais e tributários, por ter atribuído e lançado o valor de R$200.000,00 ao banquinho.
      Embora na forma legal, a designação em Cartório como "bem de família", e a estipulação de que o banquinho jamais dela poderá sair, em muito contribuíram para aumentar o mistério. 
      As investigações criminais, secretos e minuciosos rastreamentos, filmagens e escutas - autorizados judicialmente, nada apontaram de ilegal ou suspeito.
      O banquinho fora secretamente fotografado e réplicas foram adquiridas aos milhares, para fins de estudos pelas mais diversas ciências, buscando na funcionalidade ou qualidade intrínseca desconhecida, a explicação. 
      Estudos e tratados teológicos e teleológicos foram feitos para tentar justificar o inexplicado.
          
                                                       *
      Em nível pessoal, a situação era ainda mais crítica! Por aleivosias e insubordinações, a cônjuge o ameaçara: - Te jogo este banquinho na cabeça! Tal ameaça, obtivera por resposta: - Espere eu colocar um boné macio, para não riscar o meu banquinho!
      Testes e estudos foram feitos, até mesmo para efeitos visuais em fotografias: chegaram a desconfiar que ele era de estatura inferior ao da cônjuge, e que utilizava o banquinho nas fotos, para aparentar maior altura. 
       O pessoal do Bando, o submeteu aos mais severos interrogatórios, utilizando argumentos emocionais, excesso de comidas e bebidas alcoólicas, promessas e juras mil. E tudo o que obtiveram por resposta foi:

      - Eu gosto do meu banquinho!  E quanto mais velho, melhor ele fica! 

      E assim, após todas as congeturas, hipóteses e suposições, inclusive de cunho erótico, permanece e permanecerá o enigma sem resposta, para todos, menos para aquele que é o guia dos assuntos mundanos: o advogado!
                                                       *
     O Dr. Armando Rhollus é severamente assediado pelos mais diversos interessados na elucidação do mistério. Nada disse e nada dirá! Seu maior patrimônio é a confiança que nele depositam seus amigos e clientes.
      Sabedor da verdade, muitas vezes, para se recuperar do acesso de riso, o advogado senta-se num banquinho, que também ele adquiriu por R$39,90 e endereça um bom pensamento ao amigo: É um figuraço!     
                     

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Dr. Armando Rhollus - Galinhagem ou galinhada do Ed? 

      O velho causídico, naquela encalorada tarde de 5a. feira, olhava tristemente para o processo de dois volumes que o aguardava, sabendo que, mais hora, menos hora, o teria que enfrentar.

      O Bando enfim ressuscitara, trazendo nova leva de confusões, que obrigatoriamente desaguavam nas barras da lei.

     Assim é o Bando! Conformou-se o advogado, e muito melhor acompanhá-lo de perto, pois a somatória de imbróglios e salçadas teria melhor chance de pronta solução, concluiu.

*  

      As portas internas abertas (e o microfone oculto), permitiram ao advogado ouvir o atendimento que Dona Laciva fazia ao telefone: 

- Galinhagem do Ed? Não? Ahhhh! Galinhada do Ed! Me desculpe, mas não são a mesma coisa? Me perdoe, mas aqui é escritório de advocacia, e não local onde alguém procure galinhas e muito menos, onde as coma! E PASSE MUITO BEM O SENHOR TAMBÉM...! MALEDUCADO!!!

         Minutos mais tarde, em manifestado estado de fúria, sem se fazer anunciar,  adentrou no escritório do Dr. Armando Rhollus,  o indigitado Ed.      Trazia penas de galinha grudadas no corpo, carrapichos e titica nas roupas e cabelos. Antes de bater a porta da sala, lacrando-a, certamente para sigilosa conferência, rosnou furioso para a pobre Dona Laciva: - GALINHA!

*  

           Sem esperar convite e nem preparação de ouvidos, largou-se o Ed sobre a cadeira, e desabafou: 

- Entrei numa fria, por culpa de uma galinhada que inventaram! E agora estou ameaçado de divórcio, quase fui preso pelo crime de desacato, e querem me enquadrar por crime ambiental. Meu carro está um nojo, tomei multas de trânsito, e quase apanhei da polícia rodoviária! E pode vir mais acusação ainda...

           Respondeu-lhe, o causídico, já munido da paciência necessária, forjada no fragor de tempestuosos relacionamentos: 

- Caro consulente! Poder-me-ía detalhar o "penoso" assunto? 

                E o Ed, a sua história contou: 

- Há tempos eu fiz um ranchinho, pra minha cabocla morar, pois era ali nosso ninho, bem longe deste lugar! Desculpe! Estou misturando as estações, tamanha a minha revolta...

- O Bando inventou de fazer uma galinhada no sábado próximo, e a Ci, minha minha ciumenta companheira, me telefonou perguntando: - Ed! Vc tem galinhas bonitas e gostosas aí? Caipiras? 

               Eu, na boa fé, respondi: - Não, meu amor! Elas ficam mais lá pro centro da cidade, e voce sabe que eu só gosto de voce! Lá pras bandas da usina tem umas caipiras jeitosas sim! 

          Ela ficou furiosa e me disse: - Voce me chamou de galinha? Me comparou com essas biscates com quem voce sai?  Seu GALINHA...!!! E me bateu o telefone na cara!  

              O Dr. Armando Rhollus quis interceder, porém, não lho permitiu o Ed, que continuou descarregando sua fúria:

- Telefonei para um do Bando, e perguntei do que se tratava, e, além de me dizerem para "parar de galinhagem", me informaram que será feita uma GALINHADA no sábado pro almoço. O burro aqui, querendo ser gentil com todos e fazer as pazes com a Ci, foi providenciar as galinhas caipiras.

             Neste ponto, o 7º sentido do advogado alertou-o, levando-o a fazer urgente intervenção: 

- Por favor! "Providenciar" é questão conceitual! Explique-me no que consistiu! 

               Fazendo "ar de injustiçado", esclareceu o Ed: 

- O fdp do galo da vizinha, que me acordava uma hora antes do necessário, todos os dias, e eu resolvi "dois problemas com um ato só"! O Sr. me compreende? 



- Não compreendo! Disse o Dr. Armando Rhollus. Porém o animou a continuar a história, no que o Ed não se fez de rogado: 

- Eu não podia matar o galo, iriam ver a sujeira, e então, capturei o galo e o fechei no porta-malas do meu carro. O deixei solto  lá dentro, para que ele pudesse aguentar.  E vim embora para Londrina. 





- Ao passar em frente àquela boite.. O Sr. conhece aquela boite na beira da rodovia, lá na cidade onde trabalho? 

- Não conheço! Afirmou, de pronto, o advogado. - Continue por favor! 

- Pois é! Eu vinha naquela minha toadinha de 140/160, quando, de abrupto e inopino, uma galinha cruzou a frente do carro e eu a atropelei! Desesperado, eu disse para um pessoal que ía passando: - Matei a galinha!  E eles me responderam: 

- Moço! É mió ocê si entregá na puliça! Nóis aqui come as galinha, mas não bati, não judia e nem mata! 

- Para não passar por assassino, eu mostrei a galinha atropelada pra eles, e perguntei: - Como vou comer ela agora? E eles me responderam: - Divia te comido antes de mata! Fais frango prensado, UAI!




      E prosseguiu o Ed, atendendo ao convite do resignado advogado:

-  Coloquei a galinha morta no porta-malas, junto com o galo vivo, e vim embora pra cá. Fui parado pela polícia rodoviária, que me multou por excesso de velocidade, e resolveu "dar uma geral" no carro...!!! 

- Quando abriram o porta-malas, o galo assustado voou pra cima do policial, que mais assutado do que o galo, sacou a pistola e atirou para todos os lados! Para não ser atingido pelos tiros e para recuperar o galo, eu tive que "cair na quiçaça"! Foi uma merda! Mas eu recuperei o galo!

        E Ed atendeu o olhar do velho causídico, que lhe disse para encerrar a história: 

-  Quiseram me prender por desacato! Prometeram comunicar os órgãos ambientais pelo galo preso e a galinha morta, me multaram, e ainda quiseram me bater pelo susto que levaram! 

    E o Dr. Armando Rhollus aguardou que o Ed atendesse o telefone celular, onde disse com voz tensa e preocupada: 

- Viu nada...! Não to sabendo de nada...! Que culpa tenho eu se o fdp do galo sumiu? Vão dar queixa por furto? E eu lá tenho cara de ladrão de galinha, ou de quem galinha por aí?  Meu negócio é GALINHADA e não GALINHAGEM! Vcs que se entendam com meu advogado...!!!

     E o Ed olhou para o Dr. Armando Rhollus, que fez só uma pergunta: 

- Por que voce chamou a minha secretária, a Dona Laciva de galinha? 

     E o Ed respondeu:

- Porque ela não sabe a diferença entre GALINHAGEM e GALINHADA! 

    E o Dr. Armando Rhollus, suspirando profundamente, disse para si:

- Assim é o Bando!


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Dr. Armando Rhollus x Sites de relacionamentos




     Não era novidade alguma para o velho causídico, os graves problemas ocorridos por conta do conhecimento em sites de relacionamentos. Ali mesmo, em seu reduto sagrado, atrás da sua mesa, baluarte da sua autoridade e sapiência, já fora atacado por forças virtuais.

     Destarte, Dona Lacívia fora proibida, sob pena de rescisão por justa causa, de utilizar-se dos computadores do sacrossanto local de trabalho, para ingresso em sites de relacionamentos. 

      Porém, Dona Lacivia não sabia da instalação dos computadores em rede, e assim, à contragosto do advogado, lhes foram descortinadas informações como o pseudônimo (nick) dela, e ainda, fotografias bastante ousadas, embora preservassem a identificação. 

      Dona Lacívia fingia que obedecia e o causídico fingia que acreditava, o que lhe dava, sem perda da autoridade, algumas informações sobre o que se passava no mundo virtual, quase sempre com transição para o real. 

     Porém, o advogado que vivera criação e cultura ortodoxas, tinha dificuldades em aceitar com naturalidade aquele universo de niks: Frufruzinha, Princesa do Armário, Gaiola Fervente, Bitelão Aloprado, etc..

  

     Mas, duvida alguma existia, de que, os ocorridos e deveras sucedidos no mundo paralelo, constituíam um belo nicho de mercado no mundo real.


     Dr. Armando Rhollus já havia atuado em alguns casos  que tiveram por origem sites de relacionamentos, dentre eles, o de uma senhorita que apresentara fotografia de 25 anos e 50 kgs. a menos, em evidente desconformidade com a realidade, fazendo com que o apaixonado interessado dirigisse 600 kilômetros por força de um embuste.

*

     Naquele fim de tarde, antevéspera de feriado prolongado,  o Dr. Armando Rhollus ainda tinha uma consulta para atender, e que foi anunciada de forma agoniada e aguda por Dona Laciva, denunciando susto e surpresa com o cliente: 

- Dr. Armando! O Pitchula de Mel está aqui! 

- Como é que é? Perguntou, espantado o advogado!

- Desculpe, Dr. Armando! É o Sr. José da Silva! 

- Peça para entrar! 


     O cliente foi direto ao assunto, entendendo a mensagem implícita contida nos pertences pessoais do advogado, colocados sobre a cadeira mais próxima da porta de saída. 
             
- Dr.! Eu quero processar dois sites de relacionamento por queda da qualidade das pessoas disponíveis, e quero processar uma pessoa que conheci, porque ela me maltratou! Os sites são....

Atalhou o advogado: 
 
- Sequer me diga o nome dos sites! Sei que há cláusulas de privacidade nesses tipos de contratos! No que consiste a "queda de qualidade", por favor?

Cliente: 
 
- Não encontro mais belas mulheres, como as que já conheci nos sites: as empresárias, as profissionais liberais, educadas, inteligentes, charmosas, simpáticas! Tá ruim o estoque! E isto me prejudica seriamente!     

Advogado:

-   Compreendo! O sites se comprometeram a apresentar ao Sr., pessoas que atendam os requisitos solicitados? Existe algum padrão ou gabarito, que possa ser tomado como parâmetro de beleza? É um critério pessoal de cada um? 

Cliente: 

- É..! Posso procurar dentre as pessoas que estão lá, e cada um tem um gosto, né?  

Advogado:

- Né, não! Aconselho a não emitir opiniões pessoais sobre os participantes, a não identificá-los, e jamais depreciar características físicas de alguém! De que forma o Sr. foi maltratado pela pessoa que conheceu? 

Cliente:

- Eu escrevi para a Escovinha Cheirosa, e a convidei para nos conhecermos melhor, em um local mais tranquilo..., para ela ir conhecer minha coleção de CDs, sabe como é, né?

Advogado:

- Né, não!  E o que foi que ela respondeu? 

Cliente: 

Perguntou se eu sei ler! Disse que estou totalmente fora do que ela procura, pois pediu alguém com mais de 1,80 mts, menos de 90 kgs., com curso superior e renda mínima de R$5.000,00! Ela está me discriminando! Isto é bullyng! E agora, acho, ainda não tenho certeza, de que a encontrei aqui no mundo real.... 

Advogado: 

- E o que o Sr. respondeu à ela? 

Cliente:    

- Disse para ela melhorar a técnica de "caçar marido" ! 

Advogado: 

- A bem da verdade, ela se utilizou do critério pessoal de preferência por um parceiro e simplesmente o informou que o Sr. não atende o que ela solicitou ao site..! Quem foi agressivo foi o Sr.! E algo me diz que ela também pode encontrá-lo no mundo real! Sugiro que o Sr. esqueça este assunto, e no futuro, procure uma boa agência de casamento, onde os encontros são pessoais e há um acompanhamento especializado! Isto é, se aceito for!

Cliente: 

- Mas não tem uma agência assim na nossa cidade! 
       
Advogado: 

- Aguarde! Mantenha-se bem informado! E agora, se me permite, preciso encerrar a consulta e ir embora! 

    Minutos mais tarde, Dona Lacivia veio despedir-se do advogado

- Boa noite, Dr. Armando! Eu já vou embora! 

- Boa noite, Escovinha Perfumosa! Digo, Dona Lascivia! 

     


***

O aniversário do bitelão


      Naquela tarde de 5a. feira, debatia-se o Dr. Armando Rhollus em drama de consciência, o que era raro. De um lado a cobrar insistentemente, as obrigações consubstanciadas numa pilha de papéis, e de outro, a premente necessidade de brindar o Sr. Fraga e Sra. Hilde com uma visita, de abrupto e de inopino, visto que, praticamente natalício de ambos. 
        Em verdade, há tempos, a maior fonte de preocupação do Dr. Armando Rhollus, O Bando, não se manifestava, sendo quase inexistentes as confusões que geravam. 
          Depois do epísódio "O Bando na Night", o Ed fora desterrado, à mando da Ci, para longínquo vilarejo, a fim de sair da merda. Contudo, chamava a atenção suas publicações nas redes sociais em horário de expediente  normal.
           O Bad, certamente em expiação de aprontadas, utilizava seu tempo e recursos em casa com piscina e carro zero quilômetro para a Adri. Porém, não passavam desapercebidas suas fotografias em locais distantes, em bancos de praças, em trajes esportivos, em horário de trabalho.
          O Sr. Abdalla, nos últimos estertores do estado celibatário, acalentava a doce ilusão de duradoura liberdade, e aproveitava seus últimos momentos em cantoria de hino e visita às obras do estádio do time do coração.    
         O Al, certamente por músico  boêmio, de fama conhecida e reconhecida, era vigiado de perto pela FaPara pensar teria que se recolher aos sanitários, e de porta fechada.     
           Ao que parecia, tudo estava absolutamente em ordem: os marmanjos se achando espertos, e as mulheres, senhoras de baraço e cutelo, sorrindo indulgentes.    
*
        Entretanto, algo não encaixava nos sorrateiros movimentos do Sr. Fraga e Sra. Hilde: Recém chegados da Europa, partiram para nova viagem pela América do Sul, e logo depois, a cirurgia plástica da Sra. Hilde. 
             O velho causídico pensou pela milésima vez: Fosse outro casal, eu apostaria todas as minhas fichas que ele foi pego em suflagrante delito de libido-safadagem! 
 
 *
        Os pensamentos e dilema do advogado foram interrompidos pela voz escandalizada da D. Lacivia, que procurava confirmação do que ouvia ao telefone: 
- Aniversário de QUEM? Desculpe, não conhecemos nenhum Sr. Bitelão! COMO? Sêo malcriado! Não conheço e nem quero ver nenhum bitelão! O QUE???? Sêo tarado, cafajeste! Não vou bater palmas para bitelão algum e muito menos assoprar...!!!!! ONDE? Já te digo onde o Sr. pode guardar o tal bitelão! 
      Em seguida, o Dr. Armando Rhollus ouviu o som do telefone sendo batido, e o furioso caminhar da secretária, que abrindo a porta da sala, sem bater, desabafou: 
- Não sei como a Sra. Hilde aguenta um marido desse! Se fosse comigo, seriam duas viagens internacionais e uma plástica por ano! No mínimo....!!!
      E o causídico, voltando-se para a pilha de papéis, concluiu: Está tudo esclarecido e em ordem no universo!

BRAGA CARLOS E NILDE! MEUS PARABÉNS! SEJAM SEMPRE FELIZES! UM ABRAÇÃO!
                     


***

O Bando Monta Sua Igreja

Dr. Armando Rhollus olhou pensativamente para a pilha de papéis que constitui os Estatutos da I.D.I. (Igreja Divina Intergaláctica), que “O Bando” encomendou, e que acabara de redigir na véspera.  

No cabeçalho das páginas, o projeto da sede, e o slogan da entidade em formação:

SÓ O DIVINO É O CAMINHO DA LIBERTAÇÃO E DA SALVAÇÃO!
Os bens são seus, o problema é nosso!   
Assembleias e ministrações salvadoras instaladas permanentemente

Os espaços destinados aos cargos, funções e percentuais de remunerações estavam em branco, a depender do que fosse ratificado e decidido na assembleia a se iniciar em minutos, para então, serem preenchidos nos arquivos eletrônicos e novamente impressos.    

As várias modalidades de contratação de honorários, há muito, estavam instrumentalizadas digitalmente, pois restava decidir com o cliente qual a mais indicada.

A parte legal da entidade religiosa estava dentro dos conformes legais, restando também, vários aspectos operacionais para serem decididos, e posteriormente, constarem no Regimento Interno.

O que ocupava a mente do causídico eram as entrelinhas nas intenções dos fundadores da I.D.I., e o uso que fariam das prerrogativas legais, sendo-lhe defeso, contudo, questionar matéria de crença e fé.

Entretanto, cabia-lhe questionar e alertar os novos religiosos para algumas práticas vedadas nas cerimônias religiosas e métodos de angariação de recursos.

Em se tratando de “O Bando”, sabidamente, tudo, absolutamente tudo, era previsível e esperado.

Aproveitando os poucos minutos que restavam para o início da assembleia, o velho advogado determinou à secretária, Dona Lacívia, que retirasse os símbolos e amuletos místicos que ostentava, a começar pelo manto de vestal. Certamente, ela se deixara influenciar pelas energias religiosas dos acontecimentos.

Ouvindo o barulho do elevador que chegava ao andar, Dr. Armando Rhollus persignou-se e murmurou: - Seja lá o que o Divino, digo, o que Deus, digo, ...., ahhhh!!!! Dê no que der...!!!!

*

Os primeiros a chegarem foram o Al e a . Vestidos de branco, com mantos brancos, e  carregavam maletas também brancas, de aspecto sinistro, e que emitia o mais terrível de todos os sons: o da broca de dentista! O que, causou a intervenção da Fá: - Desliga isso, Benhê! Tá gastando a bateria!

Os segundos, foram o Bad, a Adri e o Dr. Gus Tavo, estando os dois primeiros vestidos sobriamente, com mantos de cor púrpura, a simbolizar autoridade e emoções contidas, e o terceiro, trajando impecável terno de seda italiana.   

Os terceiros, o Ed e a Ci, ele vestido com um smoking cor champagne, a indicar renovação e respeito, e ela vestida de Santa Marta, a padroeira das cozinheiras, e já apresentando reclamação: - Vamos logo com isto, que eu tenho que trabalhar!  

         Depois dos cumprimentos de praxe e de estilo, os presentes passaram a tecer originais e inéditos comentários:

 -       Como de costume, os Fraga estão atrasados! A Hilde põe a culpa no Fraga e ele põe a culpa nela! E o Sr. Abdalla deve ter se enroscado 200 vezes no trajeto, cumprimentando e conversando com os conhecidos!

         Meia hora depois, novamente o ruído do elevador chegando ao andar: E finalmente chegaram: Fraga e Hilde, ele vestido de azul escuro a simbolizar o mar, e ela de azul claro, a indicar proteção. Ambos com mantos das mesmas cores das roupas. E o Sr. Fraga já foi explicando:

-   Sou um oceano de paixões, cercado de receptividade por todos os lados!  

         Uma hora depois, o ruído do elevador a indicar a chegada do tão esperado e quase nunca encontrado Sr. Abdalla, que, coberto com manto dourado, lutava com sua auréola cor azul cristalino, cuja lâmpada de neon  teimava em falhar. E foi logo perguntando:

-     O meu ligeiro atraso causou a expectativa desejada?

         Antevendo e prevenindo delongas pelos habituais gracejos, todos foram encaminhados para a Sala de Reuniões, onde, cada clã sentou-se a um canto da mesa redonda, ocupando o Sr. Abdalla uma das cabeceiras e o Dr. Armando Rhollus a outra, e passaram a debaterem e deliberarem, conforme segue:

ATA DA PRIMEIRA ASSEMBLEIA INSTITUCIONAL DOS MEMBROS DA I.D.I. (IGREJA DIVINA INTERGALÁTICA)

         Seguindo o protocolo da  PRIMEIRA ASSEMBLEIA, adrede preparado e aprovado por unanimidade, foram fixados os cargos e funções:

I – Sumo sacerdote e representante terrestre do Divino: Sr. Abdalla!  Atribuições: a) mentor e guia espiritual da I.D.I., cabendo-lhe velar pela propagação da fé e pelos princípios e objetivos da entidade; b) exercer o voto de Minerva, em caso de empate, nos dissensos entre os sacerdotes em Assembleias Institucionais, c) ordinariamente, comparecer nas ministrações especiais de fé, realizando as curas e milagres e celebrando a liturgia própria da I.D.I.; d) atender os discípulos e interessados, em caso de doações à I.D.I., iguais ou superiores a R$2.000,00  em horário comercial; R$5.000,00 em horário compreendido das 06:00 às 00:00 horas, e, em qualquer horário, se a doação for igual ou superior a R$10.000,00.           

II – Sacerdote APD (admissional, periódico e demissional), e sacerdotisa patrimonial – SP: Sr. Fraga e Sra. Hilde! Respectivamente.

II.a - Atribuições do sacerdote APD: a) recepcionar os visitantes,  iniciantes e discípulos, proporcionando-lhes calorosa acolhida, aferindo pelo  detector de pecúnia instalado no portal do Templo do Divino, e na sua falta por amplexo: os volumes e recheios das roupas, bolsas, carteiras e pacotes;  b) encaminhar ao setor de RH e M. P.D. (Manutenção do Patrimônio do Divino), os iniciados que possam contribuir somente com o labor, e aqueles que serão utilizados nas curas e milagres; c) aferir periodicamente, em interregno não superior a uma semana, as diligências relatadas na alínea “a”, especialmente na do 5º. dia útil do mês; d) encaminhar aos setores sociais públicos, o contingente excedente de portadores de necessidades especiais, incluída a penúria; e) celebrar semanalmente a liturgia referente às contribuições em pecúnia, necessárias à execução das Obras do Divino, f) encaminhar semanalmente ao setor de Confissões e Penitências (CP), os fiéis relapsos, omissos e/ou dissimulados em suas contribuições pecuniárias voluntárias.         

II.b -    Atribuições da Sacerdotisa Patrimonial – SP: a)  recolher imediatamente ao cofre “boca de lobo”, depois das liturgias, e/ou doações, o conteúdo contabilizado dos donativos recebidos, objetos caídos, perdidos e esquecidos,  fazendo o sacerdote responsável pelo recebimento da doação, ou ministração  da liturgia e acólitos passarem pelo detector de metal e pecúnia; b) ter sob sua guarda o registro patrimonial da I.D.I.; c) encaminhar imediatamente os recursos financeiros, através dos canais e cuecas competentes, para localidades à serem indicadas oportunamente d) gestão de contratos de aquisição  e locação de bens  e mão de obra, convertendo os metais preciosos, móveis e semoventes em dinheiro e locando os imóveis; e) provisionar os recursos e materiais requisitados pelos demais Departamentos Sacros; f) manter o registro etário, civil e de saúde de cada fiel, bem como do respectivo patrimônio; g) encaminhar imediatamente ao Alcolinato de Leis Terrenas  os casos que necessitem de intervenção jurídica, especialmente: habilitações, tutelas e curatelas, testamentos, inventários, interdições, reconhecimento de uniões estáveis, de maternidade e/ou paternidade, divórcios, dissolução de união estável e sociedades de fato; h) aceitar encargos judiciais e extra de fiel depositária e administradora dos bens dos fiéis colocados sob sua guarda provisória, gerindo e gestionando para transferência da propriedade dos mesmos para a I.D.I.; i) prestar contas da sua gestão semanalmente, ao Conselho Fiscal composto por todos os Partícipes Estatutários.         

III – Sacerdote RH e M.P.D. (Manutenção Patrimonial da I.D.I.), e Sacerdotisa em EE – Efeitos Especiais: Bad e Adri, respectivamente.

III.a - Atribuições do Sacerdote RH e M.P.D. da I.D.I: a) selecionar os(as) candidatos(as) destinados às curas e milagres nas assembleias e ministrações, providenciando treinamento em conjunto com a Sacerdotisa ES; b) selecionar os fiéis despilchados, para oferenda na forma de mão de obra gratuita para a mantença do Patrimônio Terreno do Divino no mais perfeito estado de uso, limpeza, conservação e funcionamento; c) atender prontamente as requisições e solicitações dos outros Setores Sacros, instalando equipamentos e realizando as obras e diligências que se fizerem necessárias; d) locar a mão de obra excedente, preferencialmente aos Poderes Públicos; e) fazer executar e conferir as tarefas designadas aos fiéis, encaminhando ao Setor de Inquirições, Confissões e Penitências (IPD) os relapsos, omissos e acometidos dos pecados capitais da preguiça e incompetência; f) fornecer à Sacerdotisa Patrimonial a relação de materiais e ferramentas necessários  aos Setores  Sacros, para requisição junto aos fiéis; g) encaminhar para o Setor de Patrimônio a relação dos utensílios obtidos dos fiéis: dentaduras, bengalas, muletas, cadeira de rodas, perucas, próteses, etc.; h) após manutenção, encaminhar para o Divino Brechó os utensílios excedentes; i)  celebrar semanalmente a liturgia referente às contribuições em bens necessárias à execução das Obras do Divino,  j) pesquisar e inovar métodos e equipamentos, visando a otimização de resultados nas atividades da I.D.I.

III.b - Atribuições da Sacerdotisa em Efeitos Especiais – EE: a) providenciar as roupas, vestimentas e maquiagens dos sacerdotes e acólitos para o exercício de suas funções; b) ensaiar, maquiar e preparar os fiéis que serão: acometidos por forças demoníacas e passíveis de exorcismo e desencapetamento; os  curados e recebedores de milagres;  aqueles conhecidos por macacos de auditório, encarregados dos gritos, estrebuchos e desmaios em recebimento da iluminação e adoração do Divino; c) checar diariamente os equipamentos de iluminação, sonoplastia e emissão de vapores, fumaças e odores (especialmente enxofre), usados para as prédicas e práticas; e) encaminhar ao Setor de Manutenção: muletas, bengalas, dentaduras, próteses, etc., para reparos, incluídos os excedentes destinados ao Divino Brechó, f) promover em conjunto com o Sacerdote em Manutenção, a instalação de equipamentos nas residências dos fiéis, para efeitos paranormais;  g) zelar pessoalmente, e em conjunto com o Sacerdote de Manutenção do ascensor translúcido e respectivos refletores, vaporizadores e sonorização, utilizado para a chegada (e saída) do Sumo Sacerdote ao centro do palco.         

IV – Sacerdote ED (exorcismo desencapetante) e Sacerdotisa em PQP (Pães, Quitutes e Pimenta): Ed e Ci! Respectivamente. 
IV.a -  Atribuições do Sacerdote ED: a) celebrar semanalmente a liturgia referente ao exorcismo e desencapetamento, com a detecção dos obsediados e vítimas de encostos (indicados pela Sacerdotisa em Efeitos Especiais), e de alguns involuntários despilchados dentre os fieis (indicados pela Sacerdotisa Patrimonial) b) promover a condução compulsória dos mesmos até o palco ou recinto fechado (a depender do método e/ou tipo de capeta),  c) celebrar em conjunto com a Sacerdotisa em P.Q.P as sessões de exorcismo e/ou desencapetamento dos fiéis escolhidos, recorrendo aos métodos e meios necessários ao afastamento dos demônios da preguiça e do materialismo; d) atender em domicílio os fiéis impossibilitados de comparecerem às assembleias e ministrações, fazendo-se acompanhar de testemunhas; e) promover o exorcismo e desencapetamento das residências, veículos e objetos de valor, removendo de imediato os infectados por maior valor para as dependências da I.D.I ; f) fornecer imediatamente à Sacerdotisa Patrimonial, após o atendimento em domicílio, a relação completa e valor estimado de todos os bens encontrados, g) assessorar e adjutorar os demais Sacerdotes, Sacerdotisas e Comissões Mistas, em todos os misteres necessários e mistérios existentes na propagação da libertação dos fiéis do materialismo e dos seus bens materiais.

IV.b – Atribuições da Sacerdotisa em P.Q.P. – a) a responsabilidade total e integral pelos restaurantes, cantinas, lanchonetes, carrinhos de lanches, e botequins que comporão o Patrimônio do Divino, elaborando cardápios apropriados à engorda ou emagrecimento dos fiéis, a depender da prática da fé desmaterializadora; c) preparar receitas apimentadas  em que o Divino se manifestará por ardência nos relutantes nas contribuições (conforme indicações dos outros Setores Sacros); d) recrutar dentre os(as) fiéis, com auxílio do Sacerdote em RH as voluntárias apropriadas para os afazeres; e) manter em estoque as porções de creme de ervilha para as práticas exorcistas e de molho de tomate para as práticas em que haja visualização de sangue, incluindo reparos em corações partidos e menstruações, f) manter em estoque o extrato de cebolas comotivas e alho repelente, para as práticas que exigirem lágrimas e afastamento de vampiros; g) preparar o cardápio e fazer executar o cardápio da Ceia dos Eleitos do Divino, evento mensal, para a qual somente os fiéis ricos e pródigos serão convidados, à preço condizente.                  

V – Sacerdote e Sacerdotisa em ICP (inquirições, confissões e penitências): Al e Fá, respectivamente.

V.a – Atribuições da Sacerdotisa em CP: a) manter as instalações odontológicas em condições de preparo espiritual e emocional dos fiéis, com ar condicionado gelado no inverno e tórrido no verão, com aromatizador odor formol e tétrico silêncio; b) manter em locais ostensivos, fotografias e posters recentes de cirurgias dentárias sendo efetuadas; c) manter à vista: boticões, brocas, agulhas e seringas,  potes transparentes repletos de dentes extraídos (higienizados); d) manter atualizadas as revistas as revistas médicas e odontológicas na sala de espera, abertas nas páginas em que o uso de anestesia é ineficaz; e) fazer ar de más notícias, dó e desalento ao atender o(a) fiel, invocando: - O Divino há de ajudar!  f) acionar os gravadores quando do início da inquirições, tomando notas e auxiliando nas perguntas.

V.b - Atribuições do Sacerdote em ICP: a) utilizar  nas inquirições, a voz macia e perigosa, própria dos membros do Santo Ofício, Inquisitores e  agentes da Polícia Federal; b) para a detecção de locais doloridos, utilizar primeiramente gelo e açúcar, e posteriormente os instrumentos de cutucação; c) utilizar anestesia só na medida em que o fiel for relatando sobre seus bens e os de sua família, e manifestando disposição em aumentar as contribuições; d) refrear imediatamente omissões e inverdades do fiel, com o uso dos instrumentos e métodos odontológicos apropriados; e) encaminhar (após higienização),  os dentes de ouro e outros materiais preciosos extraídos à Sacerdotisa Patrimonial, acompanhados da relação dos bens delatados e declaração do desejo em aumentar as contribuições; f) celebrar semanalmente a liturgia referente a dor física como consequência do materialismo e coração mesquinho.

VI - Alcólito de Leis Terrenas (ALT) – Dr. Gus Tavo!

Atribuições do Alcólito de Leis Terrenas (ALT): a) permanecer em regime de sobreaviso por período integral, 7 (sete) dias por semana, a fim de atender os sacerdotes e sacerdotisas em caráter consultivo; b) tomar as medidas administrativas e judiciais destinadas ao resguardo dos interesses da I.D.I., especialmente as destinadas à reversão do patrimônio dos fiéis à ela, tais como, exemplificativamente: habilitações, tutelas e curatelas,  testamentos, inventários, interdições, reconhecimento de uniões estáveis, de maternidade e/ou paternidade, divórcios, dissolução de união estável e sociedades de fato; c) elaborar todos os contratos referentes às transações com os bens do Patrimônio do Divino; d) celebrar semanalmente palestras e elaborar boletins informativos sobre, exemplificativamente: d.1) investimento e moradia celestes; rentabilidade de loteamentos e condomínios em outros planetas e galáxias; compensação legal entre materialismo e doações.

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         Na sequência e por se tratar de questão de ordem, deliberaram pela possibilidade de Comissões mistas entre Setores, de forma a criar eventos e cerimoniais, estimulando o comparecimento e atendimento aos fiéis.

         Foi aprovada desde já, a Cerimônia do Alto, em que haverá interação de todos os Setores Sacros, que terá por ápice: os fiéis jogando para o alto todos os seus pertences, ao mesmo tempo em que todos farão a seguinte invocação:

O Divino é salvador e está no alto. O que ele pegar é para as obras celestiais, o que cair é para as obras terrenas da I.D.I.”

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         Em questão de ordem, os Sacerdotes apresentaram reclamação de que, somente ao Sacerdote APD caberia abraçar as fieis, quando do ingresso. Constatou-se pela inviabilidade de todos abraçarem as fieis, quando da chegada delas, e pela ojeriza generalizada ao abraçamento dos fieis.

         A deliberação foi de que as fieis devem apresentar-se à cada Sacerdote, para o abraço de boas vindas, periódico e demissional. O ritual de boas vindas aos fieis do sexo masculino, consistirá em serviços voluntários deles ou maior contribuição inicial à I.D.I. 
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         Ainda por questão de ordem, os fundadores estatutários da I.D.I. fixaram a modestíssima verba para a sobrevivência física deles, sem o que, as galáxias estarão privadas da salvação. O fizeram na razão de 80% dos rendimentos líquidos para a sobrevivência e ampliação da I.D.I., e propagação da fé, e 20% dos rendimentos líquidos para rateio per capita.  

                                                        *

         A seguir, foi apresentado pelo Sacerdote em RH e M.P.D., a perspectiva fotográfica da sede provisória da I.D.I. (abaixo)já em adiantada fase de construção, segundo os critérios de modicidade  e austeridade por todos anteriormente aprovados. Por unanimidade, a perspectiva foi aceita e deliberada a continuidade construtiva.
    

    
         As demais questões, por se tratarem de decorrências dos assuntos já deliberados, foram incluídas na pauta da 1ª. Assembleia Ordinária Operacional, com data à ser designada opportuno tempore.

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          Aferindo os presentes o adiantado da hora, deliberaram por encerrar a Assembleia, oportunidade em que, pelo Dr. Armando Rhollus foi posta a questão dos módicos honorários advocatícios pelos trabalhos já desenvolvidos e a continuidade ou não dos préstimos profissionais.

         Os integrantes estatutários da I.D.I. propuseram a contratação do Dr. Armando Rhollus para préstimos de consultoria ideológica e institucional, e representação junto ao Congresso Nacional e Instituições Governamentais, o que foi aceito. 

         Ainda foi proposto ao jurisconsulto em questão, a assunção do cargo de Profeta da I.D.I., com a função inerente ao título, e celebração das liturgias realizáveis de forma compatível com os afazeres profissionais.

         A proposta foi aceita com o adendo de que as profecias serão realizadas dentro das normas aplicáveis ao Oráculo de Delfos, sem visualização ou identificação de voz, para não ferir princípios  éticos.

         A pedido dos presentes, foi solicitado ao Dr. Armando Rhollus a prolação da primeira profecia, que, após profunda reflexão, assim foi exarada:

"Profetizo que nossa primeira reunião comemorativa se dará na residência do Sacerdote APD e Sacerdotisa Patrimonial, num sábado, no final da tarde! Vejo caipirinhas, opíparos e muita alegria por estarmos juntos!
E profetizo que esta reunião está muito próxima!"


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O BANDO NA NIGHT!

Dr. Armando Rhollus temeroso de vírus e rackers a invadirem computadores, somente minuta seus trabalhos usando codinomes para seus clientes, pois se o conteúdo de alguns arquivos vierem à público, poderá ser acusado de quebra de sigilo profissional, e merecer a confiança dos clientes e amigos é o seu maior patrimônio.

Numerosas e intrincadas relações conjugais, fáticas e jurídicas, a definirem espinhosos caminhos judiciais,  jamais haviam constituído óbice para o astuto advogado, que, no entanto, desta feita, diante dos sucessivos acontecimentos, os entendeu por extrapolantes, fazendo-o chamar por Dona Lacívia: 

- Por favor! Traga-me a pasta do "Bando" e uma limonada bem forte e gelada!

- Lamento Dr.! Na última vinda aqui, o Sr. Abdalla chupou todos os limões e reclamou da falta de tequila! 

- Traga-me então, um suco de morango ou de kiwi!

- Lamento Dr.! O Zé Badó, que voltou a se chamar "Bad", por força de haver voltado a residir na cidade, utilizou todas as frutas para fazer caipirinha! 

- Me traga a pasta do "Bando" e um copo d'água da torneira, pode ser? 

- Lamento, Dr.! Estão limpando a caixa d'água do prédio!

De posse, enfim, da pasta "O Bando", absteve-se o advogado de reler o contrato de prestação de serviços e honorários profissionais, visto que, segundo o "Ed", um dos integrantes do "Bando", estavam todos "na merda", pois, em dia e hora de expediente, eram encontrados em passeios de moto, viagens de lazer, e quando nos escritórios e residências, permaneciam quase todos "on line" no facebook, a trocarem espetadelas entre si, e certamente, em outros sites de fácil dedução e jamais divulgação. 

A última intervenção do advogado se dera quando "O Bando" comparecera numa taqueria e o Sr. Abdalla fora agredido a "chapeladas",  por solicitar a execução do Hino do Corinthians. Naquela mesma noite, o Sr. Fraga se deitara no chão e, em gesto francamente obsceno, colocara o chapéu de forma a insinuar o tamanho da sua genitália, o que lhe valeu a expulsão do recinto. Por fim, o garçon se aproveitara do estado etílico da maioria e dobrara o valor da conta, alegando que o "Bad" engolira o "gusano" da garrafa de tequila, por acreditar  tratar-se de afrodisíaco. 

A ação de indenização contra a taqueria ainda estava sendo minutada, pois os sentimentos corintianos do Sr. Abdalla haviam sido feridos; o "Sr. Fraga" se resfriara em razão da temperatura do piso, e o gusano provocara diarréia no "Bad". E, no entanto, " O Bando" já aprontara novamente. 

 - Talvez agora, que o Fraga e a Ilde se envolveram nos imbróglios, eu consiga melhorar meus recebimentos! Calculou o Dr. Armando Rhollus, que, respirando fundo para adquirir ânimo, passou a olhar os registros do último evento, que se dera numa casa de shows e danceteria, cujo nome é a tradução para o inglês de "amigos".

A questão de fundo, subliminar, que intrigava o advogado era o constante sumiço do "Bad" e do "Ed", que, sob o pretexto de viajarem de motocicleta, desapareciam com frequência, e voltavam a desoras, abatidos, enregelados, "amarrotados", quando não arranhados, a gerar inquietude, pois, as respectivas esposas já haviam lhes posto "rédeas curtas", através do sequestro dos cartões de crédito e sugestivo exibir de escumadeira e  "pau-de-macarrão", também conhecido por "ensina-marido". Em segredo, o advogado suspeitava que a calvice de ambos se devia a fatores outros, além do etário e desleixo, tendo conexão com as atitudes de "rédeas curtas".

O fato é que "O Bando", em avançado grau de ebriedade, comparecera no influído comungatório, contudo,  desfalcado das presenças do "Ed" e do "Bad",  supostamente em viagem motociclística.

O Sr. Fraga, como de costume, alardeara em altos brados as propriedades do "seu bitelão" e do seu poderio econômico/financeiro, angariando a libido dos concupiscentes e a ganância dos profissionais da mercância sexual. A Sra. Ilde, como de praxe, esbanjara simpatia e comentários lúdicos com o Sr. Abdalla, que, por sua vez, lastrado em vasto e lastrado empirismo, dirigira seu treinado e avaliativo olhar às possibilidades existentes no recinto.

As esposas "Ci e Adri", de feições sisudas, olhos abertos, orelhas em pé e soturno silêncio, perscrutaram os recônditos escaninhos externos do estabelecimento, pois, ali e acolá, quiçá alhures, motocicletas eram vistas e auscutadas. Em discreto, porém não secreto desígnio, acariciavam, cada qual e respectivamente, a escumadeira de ferro fundido e o "rolo de macarrão".

Na portaria do estabelecimento, a entrada do Sr. Abdalla foi de imediato franqueada, por fundador e sócio-remido da entidade, além de presença constante e conhecida por todos os serviçais. A entrada das esposas "Ci e Adri" recebeu óbice, por armadas, sendo necessário o incisivo argumento de que as armas poderiam ser opostas "erga omnes" (contra todos ou qualquer um individualmente), e pequeno acréscimo pecuniário no valor do ingresso.  

O ingresso do Sr. Fraga fora classificado de "sui generis", já que alentada criatura do sexo feminino, com altura não inferior a 1,90 mts., 8 arrobas de peso (120 kgs.), cor de ébano, gaforinha black power, e musculatura denunciadora de fisiculturismo, dispensado o depilar,  ao arrebatá-lo para dentro do antro, qual folha em tempestade, emitiu tonitroante noticiar:

- Debita a despesa do meninão na conta da " Velha Eb"! Que vai conferir de perto o "bitelão"...!!!!! Vem cá!!! Meu "spaghetti sem molho" !!! Nós vamos para a "salinha privê" !!!!!

A Sra. Ilde, ouvindo os apelos do Sr. Fraga, cada vez mais longínquos, e conhecedora de que, em breve, cessaria o débil "jus esperneandi", "furara a fila" de entrada e entrara sem pagar, correndo em direção aos já apagados apelos do Sr. Fraga, que choromingara:

- Cashemeere Bouquet odor rosas me subtrai as forças!!! Vou desmaiar!!! Heelllllppp !!!! 

E então, de abrupto e inopino, estavam todos (menos o apresado Sr. Fraga), no salão de dança, iluminado apenas pelo alucinante reflexo nas luzes estroboscópicas nos globos multifacetários, sendo visíveis distintamente apenas, os "gogo boys", que, em elevados púlpitos, iluminados por feéricas e multicoloridas luzes, se contorciam em sugestivos gestos, ao ensurdecedor som da música "Macho Man", que alternada por força de especializada mixagem, com Michel Teló: "Ai! Se eu te pego! Ai! Que delícia!"

A Dona Ilde, em desesperado e desordenado procurar e perquirir do covil denominado "sala privê" , na esperança de salvar, ao menos, os escombros do Sr. Fraga, abalroou verdadeira parede humana, e, ao levantar os olhos e deparar-se com a banguela versão masculina da "Velha Eb", gritou: - GZUIS!

A "parede humana", abrindo largo sorriso "estilo 10001", dissera à Dona Ilde:

- JEsualdo SUSpirinho ao seu dispor minha flor! Há tempos que lhe espero! O Zé Badó falou muito numa dama que se parece com voce! Venha aqui, mais pra perto! Por R$500,00 eu danço a próxima música com voce, e não se fala em te prender por ter entrado sem pagar! Passa grana e chega pra cá...!!!   

No meio do salão, as esposas "Ci e Adri" teceram misteriosos e sinistros comentários e planos:

- Sinto o cheiro do "Ed" por aqui! É o tipo da espelunca que ele gosta! Aquele loirinho ali, de gravata borboleta, com crachá de "Dançarino da Casa", que está dançando com aquela "bem idosa", tá me parecendo ele!  Se for.., tá morto!!!

- Dei um "bico" numa caipirinha que estava sem dono, e me pareceu a do "Bad", e aquela "pança dançante" de peruca e cuequinha "porta-jóia", me é familiar! Se for ele.., que Deus tenha piedade da sua pobre alma...!!!

Dr. Armandho Rollus sempre soube que, neste mundo tudo é possível, e que milagres acontecem, mas, pelo que lera, até o momento, seria preciso um grande milagre para salvar "O Bando" do embrulho em que se metera.

E o milagre aconteceu! A banda e o "djay", em uníssono, iniciaram a execução do "Hino do Corinthians", ao mesmo tempo que houve a aparição do Sr. Abdalla, sambando, num dos púlpitos dos "gogo-boys". Dona Ilde, saindo do estado apoplético, aos gritos exigira a presença de seu advogado: "Dr. Gus Tavo", que, surgido não se sabe de onde, brandira um Código de Defesa do Consumidor, e exclamara: - "Dura lex, sed lex!".

Porém, nem os milagres são perfeitos! Mesmo com o ensurdecedor Hino, ouviu-se um grito de revolta: - Não aperta minha bunda não! Tem que pagar o "caixinha extra" primeiro! Era o "Ed" ! Que, porém, no revolutear para escapar do aperto nas nádegas, fora colocado frente a frente com a "Ci".

"Ed", prudentemente, não se atrevera a levantar o olhar para a "Ci"! Lentamente, tirou a gravata borboleta e o fraque completo; os entregou no balcão do almoxarifado, e, de corpo e alma desnudos, disse apenas: - Foi por amor! Eu não quis que voce soubesse que "também estou na merda"! Fiquei com medo de te perder...! Faça o que voce achar melhor, porque se voce fizer o que eu mereço, a eternidade é curta para expiação de meus pecados!   

Som contínuo, outro grito lancinante: - Minha moto não! Tire tudo! Menos minha moto! Prometo até andar no Zerão, te comprar as botas de avestruz, ser trocado pelo meu pai no Bando,  mas não tire minha moto! Trabalhei como "gogo boy" para ter dinheiro para andar de moto e equipá-la.., voce tomou meu cartão de crédito..! Perdão...! Clemência...!

Na sequência, o som de um corpo voando e aterrizando em meio ao salão! Espatifado no chão, gemendo e reclamando de dores na sobrecoxa,  jazia o Sr. Abdalla, que, por empolgado, "apertara  as nádegas da pessoa errada".

Outro som angustiado a se sobrepor ao Hino, cortara os tímpanos dos presentes: - Tenho imunidades....!!! Devolve o meu Código de Defesa do Consumidor! Não vai fazer isto com ele não...! Escorrega...! Sai tinta....!

Mas, sobrepondo-se à todas as circunstâncias, a tudo e à todos, ouviu-se o tonitroar da " Velha Eb"!!!

- Some daqui com essa mixaria mole! Preciso de lupa e pinça pra essa "coisica de nada" que, se funcionasse, não faria nem cócegas numa anã virgem! "Bitelão"? O "curtinho" aí não serve nem como minhoca pra isca de lambari..!!!

O Dr. Armando Rhollus leu o último registro, relativo à retirada do "Bando" do estabelecimento, apontando lento, desnudo e cabisbaixo caminhar dos marmanjos em direção aos veículos. As mulheres: "Ci e Adri", confabulando em baixos decibéis sobre as condições à serem impostas para a rendição e perdão dos maridos, e a Dona Ilde, em indisfarcável pressa de sair daquela localidade, consolava o Sr. Fraga, o  Sr. Abdalla e o jovem e intrépido causídico, Dr. Gus Tavo: - Não se pode impressionar a todas! Não se pode apertar a todas! Não se pode ganhar todas!.

O refletir do Dr. Armando Rhollus sobre o que reclamar judicialmente do estabelecimento,  foi interrompido pela voz aguda da Dona Lasciva (usado em ocasiões de terror):

- Dr. Armando! Estão aqui na recepção: a Sra. "Velha Eb" e o Sr. JEsualdo SUSpirinho! Estão falando em processar o Sr. Fraga e a Dona Ilde para receberem as entradas da casa de show, e querem saber se há possibilidade de acordo pela propaganda enganosa do Sr. Fraga! E estão querendo entregar um Código de Defesa do Consumidor todo sujo e fedido! Eu não vou pegar não! E no telefone, tem o advogado da casa de shows, querendo processar os Srs. "Ed" e "Bad" por abandono de emprego.

Dr. Armando Rhollus, então, lembrou que ainda não almoçara, e que a tarde seria longa. E instruiu a secretária: - Diga que não estou! Que voltem amanhã às 10:00 hs para uma reunião com todos! Vou sair pela escada de serviços.     

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EL JUEGO!

Aquela manhã de quinta-feira nada teria de insípida, pois, na noite anterior houvera jogo futebolístico, em que a notória  paridade entre paixões, calor das torcidas e formas de manifestações se confrontaram. O fato de o jogo ter ocorrido no exterior, território do adversário do time nacional, somado a grande rejeição deste no cenário pátrio, em tudo contribuía para conturbar ainda mais a vida em sociedade, quiçá, com características de incidente diplomático.

O Dr. Armando Rhollus, de discreta atuação político partidária, e mais ainda esportiva, iniciou sua manhã determinando que Dona Lacívia retirasse a bandeirinha do time de futebol de sua preferência de cima da mesa, no que foi atendido com discreto resmoneio: "É inveja! São 40 milhões de torcedores! Não há calor! Não há PAIXÃO! O Romarinho é melhor que o Neymar!".

- Dona Lacívia! A liberdade de agremiação e expressão é constitucionalmente assegurada, contanto que seja para fins pacíficos e não ofenda direito alheio! Deve ser exercida nos locais e formas apropriados!  No caso, faltam-lhe todos os requisitos! Prefere que eu ratifique a minha determinação por escrito?

Dr. Armando Rhollus já vinha burilando uma tese jurídica, na qual, os partidos políticos e as agremiações (especialmente esportivas), serão responsáveis civilmente pelos danos causados por seus seguidores, especialmente, quando os dirigentes - até mesmo de núcleos locais -   sabedores dos CALORES E PAIXÕES, nada fizeram para apaziguá-las, preferindo, ao contrário, insuflar ânimos e discórdias.

Neste pensar, estudar e pesquisar se encontrava, quando a voz rascante (timbre utilizado em ocasiões de calundu) de Dona Laciva,  pelo interfone informou que o primeiro cliente chegara.

A fisionomia assustada e preocupada do casal, os arranhões nos braços e roupas danificadas, e as cascas de bananas grudadas pelo corpo, conotavam atropelamento por um caminhão de hortifrutigranjeiro, ou, quando nada, supreendimento em flagrante delito de ato libidinoso em feira livre.

Munindo-se da paciência necessária, adquirida e cultivada no zen budismo, e do ceticismo ensinado pela advocacia e trato com as pessoas, o Dr. Armando Rhollus, de ânimo forte, principiou a ouvida do casal:

-  O Zé mentiu pra eu! Disse que ía lá na construção do estádio, reunir com a corja pra assistir o curingão jogar com os "estranja", e foi pra zona, na casa da Dona Argentina! Deu briga lá e bateram nele, o que eu achei muito bom, pra ele aprender a não ser safado! Mas não deviam ter feito em nóis o que fizeram com as bananas. Judiação! Tanta banana boa... 

-  Eu só fui assistir o jogo, UAI!             
 
Neste ponto, Dr. Armando Rhollus interferiu, pois vários caminhos judiciais se abriam, sendo indispensável explicações: - Dona Creuza! A Sra. quer se divorciar do Sr. José por ele ter ido assistir o jogo no lupanar explorado pela Sra. Argentina? Ambos querem processar a Dona Argentina, por ela não ter mantido a ordem no estabelecimento dela? Quem os agrediu com bananas, e de que forma se consubstanciou a agressão?

- Óia, Dotô! O Zé até merece que eu "plante o pé no rabo dele"! Mais ele até que é um "homi bão"! De defeito memo, é só esse tar de curingão, que vivi jogando ele em fria! Já chegou preso, machucado, assaltado, comido,  aprendeu o que não presta, mas não adianta! É PAIXÃO! Ele foi lá assistir o jogo, pois de mulher, quando tem jogo do curingão, ele não quer nem saber.., essa foi só mais uma vez que tive que ir salvar ele. Eu quero processar o Curingão e as putas gringas, que bateram nele e fizeram a "mardade das bananas" com nós dois!

- Eu, Creuza, quero também processar esse povinho do curingão que fica  fazendo arruaça nas rua, nos computadô, tirando os "pai de famia" de casa pra vê jogo. Ainda se o porquera do Curingão já fosse campeão da tal de Libertadores... 

- E eu, Zé, quero processar o governo argentino por "discriminação religiosa", pois deixou as puta argentina fazerem nóis engolir um cacho de bananas, por cima e na "moda pirambóia", e o empate foi justo.., o que o Romarinho jogou...

Dr. Armando Rhollus, então, sentiu que sua nova tese ganhava vulto, e colheu a procuração do casal, prometendo manter contato nos próximos dias, e se despediu do casal. Em seguida, mandou entrar o próximo cliente, cuja fisionomia era a de quem assistira a pré estréia do apocalipse e coxeava fortemente, e não tardou a contar seus fatos:

- Dr., eu fui buscar minha namorada no trabalho dela, lá na periferia, lugar muito perigoso, com aqueles botecos de esquina, gente morta e ferida na calçada, enquanto os manos e minas decidem uma partida de sinuca e TUDO corre solto; era por volta das 22:00hs e ía começar o tal jogo de futebol.

- Até a polícia militar sumiu dali, quando começou o fim do mundo: os manos e minas saíam dos botecos, entravam em corcel, chevette, fusca, e pegavam mobilete, colocavam funk no último volume e saíam desmontando aquelas tranqueiras pela rua à fora. Tudo bêbado, bermudão no meio da bunda, óculos escuros à noite, chinelas. Davam voltas no quarteirão, paravam, "se reabasteciam" e começavam tudo de novo.

Dr. Armando Rhollus, conhecedor dos usos e costumes notórios, atalhou: Onde o prezado cliente foi prejudicado?

- Só eu não! A população ordeira se trancou nas casas e apagou as luzes! Eu, que esperava minha namorada na calçada, pulei o muro para dentro do colégio para me proteger daqueles loucos. Quando estava em cima do muro, os alucinados me viram e encomendaram: Não esquece de dar nossa parte do "trabáio" aí cumpadi! A área é nossa!

- Quando caí pro lado de dentro do colégio, fui atingido por um tiro de sal grosso na bunda! O pessoal do colégio me confundiu com um "mano". Fui salvo por minha namorada, com quem comentei: imagine se o tal time perder o jogo! E ela respondeu: se ganhar, eles farão a mesma coisa! E hoje, não sei porque, não li os jornais, está cheio de cascas de bananas jogadas na rua..., o que será que banana tem a ver com isto?

- Sabe Dr., tenho ouvido muito uma frase: os dirigentes e líderes desses "coisos" são culpados por não tentar acalmá-los; ajudar a arrumar internação em hospícios, tratamentos de choque, etc.. Mas, eles ficam incentivando brigas e arrumando discussões com todos. O que o Sr. está digitando aí?

E o Dr. Armando Rhollus estendeu uma procuração para o distinto cliente assinar, sentindo, mais do que nunca, que seu faro jurídico está certo. Após despedir-se do cliente, Dona Lascivia foi chamada paras receber precisas instruções:

- Dona Lacívia! Quero a relação dos torcedores que estiveram em Buenos Ayres e tomaram bananadas! Vamos ampliar nossa atuação, aproveitando que por lá estarei em breve! Creio que a direção daquele time de lá, também merece as "barras dos Tribunais". Como é que vcs o chamam? "Bueca Júniors", é isto?


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O PELADÃO!

       As reflexões do Dr. Armando Rhollus sobre a audácia de um corretor de imóveis em propor-lhe a venda de imóveis, sem antes indicar-lhe a contrapartida, foram interrompidas pelo agudo grasnado da Dona Lacivia, que atendia a chamada telefônica: 

- COMO? O SR. ABDALLA PRESO? PELADÃO? QUE HORROR..!!! 

        Embora Dona Lascivia não fosse exemplo de pudicícia, fato demonstrado por algumas manchas roxas em locais estratégicos, escondidas por meias,  lenços e cachecóis, em pleno verão, também tinha sua medida de pundonor, preferindo relatar ao Dr. Armando Rhollus apenas o motivo principal da prisão e o local onde fora recolhido o cliente.   
    
      E assim, após a entrevista com o cliente e retirada do processo de Cartório, naquela chuvosa e fria manhã de terça-feira, o Dr. Armando Rhollus compulsava os autos da Ação Penal intentada pelo Ministério Público contra o considerado Sr. Abdalla, inteirando-se do efetivamente registrado, vez que, segundo sua vasta experiência: PALAVRAS VERBAIS O VENTO LEVA! E MEMÓRIAS AUDITIVAS E VISUAIS SOFREM DE AMNÉSIA!

       As acusações eram várias: a) atentado ao pudor mediante fraude; b) evasão do local do delito; c)ato obsceno; d) omissão de socorro; e) desacato; f) invasão de domicílio, e, g) pouco caso e gozação contra agente público.

         Intrigado com o teor da denúncia, pois contrário à índole do Sr. Abdalla, de normal, pessoa de lhano trato, com laivos de cavalheirismo, primando pelo escorreito comportamento, passou o Dr. Armando Rhollus ao teor dos depoimentos prestados nos autos: 

Sr. Abdalla - detido

          A moça em questão é uma pessoa maravilhosa, com quem tenho contato via internet, e a encontrei por vezes em locais públicos. Ela percebeu que eu estava com dificuldades para andar, e se dispôs a me fazer massagens localizadas, notadamente na minha sobrecoxa, na residência dela. Em lá chegando, eu me despi, mantendo contudo, uma toalha de rosto sobre minhas "partes pudentas", a bem da moralidade e bons costumes. Eu jamais poderia imaginar que ela fosse casada. Quando estávamos entretidos no afã massagístico, adentrou no recinto um cidadão, que me é desconhecido, e que afirmou raivosamente: -  Vou acabar com os dois no cacête! Sendo um cidadão pacato e da ordem, me retirei imediatamente. Por estar em trajes menores e assustado com o clamor público, busquei refúgio na residência de um amigo, localizada nas redondezas. Por infelicidade e estar coberto de óleos, cremes e gel, não fui reconhecido e por isto agredido. Em legal estado de necessidade, obriguei o meu ex-amigo a transportar-me na motocicleta de propriedade dele, até a minha residência. No caminho, o agente da guarda municipal nos deu "voz de prisão", apontando-nos o cacetete. Ato contínuo, em estado de desespero e legítima defesa, lhe apontei o meu cacetete, e, sempre por estar em trajes menores, recolhi-me em minha residência, onde fui preso. Desconheço a sorte e paradeiro dos demais envolvidos. 

Sra. Massagista - queixosa

Conheço o Sr. Detido da internet e de alguns encontros em locais públicos; depois de algum tempo o detido, de fina educação e igual simpatia, queixou-se de fortes dores na região da sobrecoxa esquerda, que irradiava para a virilha; sendo da minha profissão aliviar tais incômodos, me propus a atendê-lo em meu domicílio. Em lá chegando, ele se despiu e apliquei-lhe óleos aromáticos, cremes, unguentos e sinapismos, destinados a minorar-lhe o sofrimento, passando a fazer-lhe massagens localizadas porém abrangentes; Neste afazer estávamos, quando adentrou no recinto meu marido, que, tomado por inexplicável ciúmes passou a portar-se agressivamente, e, diante das minhas explicações profissionais, me retorquiu: - Veja se o que voce está massageando é sobrecoxa! Neste momento, percebi que o Sr. Detido, de forma insidiosa e fraudulenta me fizera massagear "aquilo". Neste momento, o Sr. Detido evadiu-se do local, deixando-me entregue à propria sorte nas mãos do meu cruel marido e algoz. 

Do Sr. marido da massagista. 

Ao adentrar na minha residência, ouvi risinhos e sussurros, e indo até meu quarto conjugal, deparei-me com minha esposa massageando as "partes íntimas" do Sr. Detido. Ao reclamar, com justa razão, o ameacei com um pedaço de pau, havendo imediato revide, com ele me apontando o pênis e indagando: - Voce também quer? Ao tentar agredi-lo, ele se evadiu do local, e, preferindo acreditar na fidelidade da minha esposa, mantive relações sexuais com ela. 

Do vizinho 

Estava eu, na data e local relatados no inquérito, catando o cocô do meu cachorro na calçada, quando passou por mim, em desabalada carreira, mas coxeando, o Sr. Detido. Notei que o mesmo trajava somente uma toalha de rosto, que ora usava para encobrir a gernitália, ora as nádegas. Procurei não chamar a atenção do Sr. Detido e fiz calar meu filho, que assustado gritou: - Pai! Um saci branco pelado! Minutos após, ouvi gemidos na residência vizinha, não sabendo explicar a natureza e motivos dos mesmos.

Da ex-amiga
Eu estava varrendo a escada, quando adentrou um homem coxeando, mas correndo, pelado, cheio de óleo, creme e gel perfumado; estava todo desgrenhado e parecia assustado; percebi que havia caído na areia e tinha a aparência de um bife à milaneza; não reconheci a pessoa de imediato, mas tendo ela se deslocado em minha direção, apliquei-lhe umas vassouradas, colocando-a em fuga. A pessoa correu em direção ao meu marido e sob a ameaça de urinar na motocicleta, fez com que meu marido se dispuzesse a dar-lhe fuga; Nunca esperei tal comportamento do Sr. Detido. 

Do ex-amigo

No dia em questão, eu estava alisando minha motocicleta, dizendo que a amo, quando ouvi minha esposa gritar: - TARADO! Ato contínuo, me dirigi à ela para explicar que nada há de sexual entre eu e a moto, quando, avistei o Sr. Detido correndo em minha direção, desgrenhado e pelado. Assustado, desferi-lhe uma porrada, que não acertei, e ele, então, ameaçou urinar na minha moto, caso eu não o transportasse até a residência dele, o que, fiz, diante de tamanha ameaça; no caminho, fomos abordados pela guarda municipal, armada com cacetetes, e que nos deu voz de prisão. Neste momento, o Sr. Detido exibiu as "partes íntimas" para os policiais e disse: - Isto sim é cacetête! Em chegando na residência dele, o Sr. Detido desceu da moto, e sem ao menos agradecer, adentrou na residência dele, e deixou o banco da minha moto melecado de gel.

Do guarda municipal

Estávamos fazendo a ronda, quando avistamos uma moto em alta velocidade, com uma pessoa pelada na garupa; por dever de ofício, demos voz de parada, e ao constatarmos a nudez e aparência suspeita do garupa, lhe demos voz de prisão, apontando nossos cacetetes, pois é tudo que temos capacidade para usar; ato contínuo o Sr. Detido nos ofendeu, mandando-nos enfiar nossos cacetêtes em local que preferimos não dizer; na sequência, o Sr. Detido balançou as partes íntimas em nossa direção, afirmando: - Isto sim é cacetête! Em seguida, evadiu-se do local, se dirigindo até a residência dele, onde, após acautelada perseguição, e com o auxílio da Polícia Militar, conseguimos apreendê-lo, sem resistência.

   Ao acabar a leitura, o Dr. Armando Rhollus já tinha a defesa pronta, capaz de obter a imediata libertação e absolvição para todos os crimes imputados, menos um: pouco caso e gozação contra agente público!  

    E já havia a certeza nítida quanto à estratégia à ser usada: O Sr. Abdalla não será ouvido em audiência, pois se apontarem o microfone para ele, as consequências serão funestas.  

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A Mudança do Zé Badó: Nome completo: Zéca Badó ou Zé Cabadó?

Os pensamentos do Dr. Armando Rhollus vagavam entre a lembrança da beleza "mignon cor de jambo" de Veneza, sua nova amada,  os dois prazos judiciais de somenos importância, mas sempre prazos a correr, e os acontecimentos da última madrugada.

Dona Lascivia, a secretária, percebendo o estado de espírito do patrão, quis "enrolar", desviando a atenção das cartas de cobrança dos devedores de um "brechó" (cliente recém admitido), para as tentativas de adentrar no facebook, sabedora de que o bloqueio de sites interessantes, mandado instalar, era de categoria inferior.  No entanto, foi reconduzida ao desagradável labor pela voz calma e tranquila do Dr. Armando, que lhe indagou: - Dona Lacivia, já comentei com a Sra.,  o artigo 482 da CLT?  É aquele que fala da "justa causa para demissões".
                                                               
Dr. Armando disciplinou seus pensamentos, remetendo, com um profundo suspiro,  as lembranças de Veneza aos recôndidos da alma; Comprometeu-se consigo a cumprir os prazos na manhã seguinte, e focou sua atenção nos acontecimentos da madrugada.

O coração generoso do Dr. Armando Rhollus não mais guardava mágoa da grave ofensa que lhe fizera aquele cliente: Tentara fazê-lo trabalhar por quantia pequena! Mas o cérebro registrara a informação e a decisão: Ai! Se eu te pego! Ai! Se eu te pego...!

Por sigilo e ética profissionais, sequer pensava no nome outrora utilizado por este cliente. As mudanças geográficas da residência com as consequentes psicológicas, impunham a nova identidade.

Como bem dizia o "ícone empírico", o "reprodutor árabe", jornalista  e amigo querido por todos, ao referir-se a "proteção da fonte" (pelo perfil do amigo, acredita-se em fonte de tudo, a iniciar pelas de prazer): - Jamais entrego a fonte! Nem sob tortura!
                                                                 
Zé Badó  incorporara bem por demais o estilo, gostos, hábitos e ideologias da região da cidade onde fora morar . Segundo ele próprio: Já caindo pra fora do mapa de Londrina, na divisa com Sertanóspi!  (Sertanópolis).

Ao ir para casa, na madrugada, em sua motóca, reestilizada com o símbolo daquele time de futebol (aquele que nunca ganhou uma Copa Libertadores), e ouvindo Michel Teló na caixa de som que mandara acoplar (moto-falante),  Zé Badó caíra numa "blitz policial" da guarda urbana, que "carrapateava" o trabalho da Polícia Militar!

- Desliga a moto! No muro, já! Mãos na parede! Pernas abertas! Berrou o capitão!
- Documentos da moto! Os teus também! Gritou o sargento!
- Desliga a porra dessa música, antes que eu dê um tiro nessa bosta! Guinchou o cabo!


Zé Badó, sem saber a quem atender em primeiro lugar, "deu bobeira" e os "meganhos" viram a reestilização da moto, o símbolo "daquele time".  E ocorreu o pior:

- TEJE PRESO! Disse o capitão!
- TEJE PRESO! Confirmou o sargento!
- TEJE PRESO! Ratificou o cabo!
- TEJE PRESO! Imitou o soldado!

E "para averiguação" lá se foi o Zé Badó, encaminhado ao 5o. Distrito Policial em Londrina (aquele, bem distante aqui do centro).

Na presença do Delegado e Escrivão, Zé Badó lembrou-se dos áureos tempos, em que transitava com naturalidade entre pessoas tranquilas, sabedoras do mínimo legal indispensável, e criou coragem:

- Sou motoqueiro de Jesus! Exijo a presença do meu advogado, Dr. Armando Rhollus, e não vou "tocar piano" (identificação datiloscópica), porque tenho identificação civil! Protesto contra a discriminação do meu time de "manos e minas"! Exijo a presença do Presidente, Sr. Nalin Ybos!

E o Delegado decretou:

- Motoqueiro de Jesus? Botem este pilantra na cela do JEsualdo SUSpirinho! Advogado? Espere te acharem primeiro! Tocar piano? Voce vai tocar "algo muito pior", que tal "flauta"? O Jesus daqui adora! Teu timão? Acho que lá na cela voce trocará de time, vão te "botáfogo" voce sabe onde...! E o teu Presidente, deve estar se cuidando para não ir junto com o chefe da torcida organizada!

Mais tarde, mantendo a legalidade, Zé Badó foi levado para prestar depoimento e "deliberações ulteriores":

- NOME?
- Zé Badó!
- NOME COMPLETO, CACÊTE!
- Zéca  Badó!
- VOCE TÁ MAIS PRA ZÉ CABADINHO! PROFISSÃO?
 - Corretor!
- CORRETOR DO QUE? TAVA EM ALTA VELOCIDADE! PRA MIM É METIDO A CORREDOR! ENDEREÇO?
- De seguros! Moro lá no Conjunto Habitacional ...........
- CACÊTE! TINHA QUE SER DA ZONA........! E TORCEDOR "DAQUELE TIME"! VOCE FALOU O NOME DE UM ADVOGADO AÍ! REZA PRA ELE ESTAR DE BOM HUMOR! PODE TELEFONAR! A LIGAÇÃO TELEFÔNICA DAQUI SAI POR R$200,00. SE NÃO ATENDEREM OU DER OCUPADO, AZAR TEU! É MAIS R$200,00!
- Posso ligar do orelhão aqui da frente do DP?

..........
- MANECÃO! LEVA ESTE  "MÃO DE VACA, MUQUIRANA, PECHINCHADOR" PRA NEGOCIAR LÁ NA CELA! QUANDO ELE MUDAR DE IDEIA, TRAZ ELE DE NOVO PRA CÁ!
                                                                     
E agora, Dr. Armando Rhollus olhava pensativamente para o seu celular, vendo o número que lhe chamou, já sabendo por terceiros do que se tratava, e tentava decidir:

- Eu nem gosto de motocicleta! Mas perder dinheiro é pior ainda! Ai que saudade da Veneza! E aqueles prazos judiciais que se f.....!

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"O Cachorro Legal"

A firma de advocacia Dr. Armando Rholus & Cia. oferece consultas gratuitas para novos clientes. Envie o seu caso por escrito, bem explicado, e nós o avaliaremos. Esclarecemos que a consulta é gratuita, mas que a representação se dará pelo preço de mercado. 

Caro Doutor, 

O meu caso é o seguinte: o meu vizinho de casa tem um cachorro grande, que vive latindo e me incomodando. Mais de uma vez, eu e o cachorro tivemos um "tête-à-tête", e se eu chegar um pouco mais perto, ele vai me morder com certeza. Que posso fazer ? 

Primeiramente, como o cachorro também tem direito à liberdade de expressão, devemos tratar as partes – o Sr. e o cachorro – igualmente, para evitar problemas de parcialidade. Jamais reclame do teor ou assunto tratado nos latidos, atenha-se à sua quantidade e número de decibéis, para não configurar discriminação. Há outras coisas que o cachorro faz, ou é só o latido que lhe incomoda? Se fôr só o ladrado, lamento informá-lo de que o cachorro pode invocar as dezenas de barulhos que o Sr. faz e que incomodam, sem que ele tenha ido reclamar, até agora. 

1-Se eu chegar mais perto e o cachorro me morder, posso pedir indenização? De quem? 

Do dono, desde que o cachorro não indeniza no nosso pecúlio favorito que é money cash. A indenização só será possível, se a mordida se der fora do domicílio do cão. Caso contrário, o dono do cachorro é que terá direito à indenização, a qual se reverterá em prol do canino. Se o lar é o asilo inviolável do homem, o quintal o é do cachorro, principalmente, se nele estiver a casinha dele. Não entre no quintal, e muito menos na casinha, sem o convite expresso do cachorro. Não coma e nem roube a sua ração, e jamais o morda, a não ser em legítima defesa. Se o Sr. for mordido na rua, podemos pedir indenização - dar uma dentada neles. O critério seria o número de dentes do cachorro, sendo a mordida de um cachorro banguela menos dolorida na pele, mas também menos rendosa aos nossos interesses conjuntos. 

2-Cachorro tem personalidade jurídica? 

Tem, na Cachorrolândia. Por aqui, os cachorros são tidos por incapazes, muito embora seja admirável do que são capazes. É o contrário dos políticos. Mas, mesmo fora da Cachorrolândia, têm os seus direitos assegurados. Cachorro chia sim, quero dizer, late!

3-Se houver indenização, e eu conseguir convencer a minha mulher a também ser mordida pelo cachorro, a indenização dobraria, ou seria a mesma desde que somos casados? Se a minha mordida for maior do que a dela, posso usar isso como argumento para ela me dar parte da indenização dela? 

O fato do cachorro ter lhe mordido não é motivo para o senhor também querer mordê-la. Veja ainda o aspecto de que, induzir sua mulher a ser mordida, ainda que pelo Sr. – salvo em casos consensuais e com moderação, poderá caracterizar conduta desonrosa sua e autorizá-la a pedir o divórcio, o que implicará numa substancial e infecciosa mordida dela no Sr., além de uns merecidos tabefes, em legítima defesa. 

4-Se o cachorro me morder e a mordida infeccionar, a indenização seria maior do que se a mordida que não infeccionar? 

Tudo dependerá das circunstâncias. O melhor cenário para a nossa nobre causa seria uma mordida fora do domicílio do barulhento, na rua por exemplo, e que infeccionasse, desde é claro, que o Sr. sobrevivesse. Como a higiene oral dos cachorros em geral deixa a desejar, devemos fazer um contrato detalhado entre nós dois, para cobrir um evento desafortunado para o Sr.

5-O dono do cachorro disse que eu estou provocando o animal, o que é uma calúnia. Ele diz que pode provar, e que a qualquer hora me dá uns tiros. Como seria essa prova? Ela teria valor em juízo? 

Embora os cachorros, costumeiramente, não sejam ouvidos em Juízo, ainda que por intérprete, penso que uma audiência, onde o Sr. e o cachorro possam estar próximos, comprovará a antipatia recíproca. Sim, a prova teria valor em Juízo, mesmo o Lupus domesticus não tendo prestado o juramento de dizer somente a verdade. 

6-Se houver um acidente, e o cachorro aparecer, digamos, envenenado fatalmente por uma bola de carne com estricnina, o senhor acha que as pessoas desconfiariam de mim? Que tipo de prova seria necessário para me condenar, por exemplo? 

Penso que o Sr. seria a segunda pessoa a ser ouvida, logo após o dono do cachorro. Fatores contra o Sr. seriam as conhecidas hostilidades entre o Sr. e o canino; as testemunhas; o dono do açougue e o da casa que vende estricnina, enfim, a somatória de tudo isto. E desde que documentos psicografados já estão sendo aceitos como prova, o cachorro também poderia voltar do Além e o denunciar.

7-No caso acima, o senhor me defenderia? No momento estou fraco de numerários, então o senhor poderia fazer pro bono? Ou com o pagamento a perder de vista, sem juros (cinco anos ou mais)? 

Penso que esta informação e pergunta deveriam ter vindo em primeiro lugar. O Sr. poderia, amigavelmente, me informar o nome e o endereço do Sr. Canino? Queremos oferecer os nossos préstimos, no caso dele estar interessado em processar alguém que o esteja incomodando.

Saudações cordiais, 
Seu cliente
Cordiais saudações
Dr. Armando Rhollus - Advogado.

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O DESPEJO

A voz estridente de Dona Lacívia, a dispensar o interfone, avisou o Dr. Armando Rhollus que o cliente das 17:15 hs. - classe econômica: sem direito a cafezinho e revista, chegara.

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- Doutor Armando, quantas perguntas posso lhe fazer, pelos R$50,00 da consulta ?

- Três....

- Não é muito caro..?

- Não ! Por favor, qual sua última pergunta ?

- Credo Doutor....!

- Caro consulente, tempo é dinheiro, na medida em que o primeiro é utilizado na obtenção do segundo...., como estamos nos alongando no assunto, está havendo inversão da ordem natural do fluxo financeiro. Vamos ao seu problema..!

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- Doutor, estão querendo me despejar...

- Há severas proibições no direito quanto a despejo em fundos de vale e áreas de preservação ambiental.., não é em qualquer lugar que se despeja...

- Estão querendo me jogar no “ olho da rua” ....

- Esteja ciente de que obstruir via pública é uma contravenção penal, e pode dar complicação mais séria se alguém tropeçar no Sr. , cair e se machucar..!

- É minha namorada, que me deu o fora e ainda quer que eu desocupe o apartamento dela.., até falou em deixar de pagar o aluguel...

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- Qual a sua profissão?

- sou um Independent Personal Turistic....

- OH yes...! No que consiste exatamente sua atividade?

- explico: eu freqüento restaurantes, hotéis, boites, spas, e depois, mediante uma retribuição em dinheiro, publico uma nota em jornais – na seção de Carta ao Leitor, dando a minha exata e criteriosa opinião sobre os produtos e atendimentos recebidos.., sou muito exigente e incorruptível..!

- E quem custeia a sua freqüência nesses lugares? Sua profissão é rentável?

- O custeio corre por conta do cliente, que no final, receberá minha aprovação ou desaprovação. A profissão é nova, sou pioneiro, e por isso ainda sofro a incompreensão do mercado e de mentalidades atrasadas, que ainda não estão prontos para receberem uma opinião abalizada, honesta e imparcial.

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- Poderíamos pensar numa reclamação sua contra um dos estabelecimentos que o Sr. avalia, mas creio que a sua condição de “não pagante” será um entrave legal, pois não poderíamos pedir a restituição do preço pago...

- Dr. Armando...? E se pedíssemos devolução dos juros cobrados por um banco de quem tenho queixas? Eu gastei além do limite do cheque especial da minha namorada e o banco devolveu cheques dela, sem levar em conta a minha desaprovação e a bronca que levei.. Eu fui lesado! Fui mais uma vítima da cruel ganância dos banqueiros..!

- Eu diria que o Sr. está se aproximando muito de avaliar estabelecimentos penais...

- O Sr. quer usar o que ganharmos do banco para teste de travesseiros de penas, ou pensa em “chiken in” ? Posso me tornar alérgico...

- Não exatamente..., muito embora haja movimentos para melhoria das condições nas cadeias...

- de hotéis ou de restaurantes?

- Não exatamente..., os estabelecimentos penais são mantidos pelo Governo, ou seja, por nós contribuintes.., quando não conseguimos escapar...

- É o que digo DR! Se o Estado toma conta de tudo é fatal para profissões incipientes como a minha.., por isso eu não progrido...! Cabe uma ação contra o Estado? 

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- Voltemos ao despejo..., caríssimo consulente.., como são as posses da sua ex-namorada?

- Eram muito boas quando começamos.., tinha até gel perfumado.., depois as brigas estragaram o clima.. Supressão ou redução de “posses” configura descumprimento dos deveres conjugais? Posso pedir pensão pra ela? 

- Eu me refiro a patrimônio...

- O pai dela nunca me suportou.. Poderíamos tomar o fusquinha 1.965 dele?

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- Por que sua ex-namorada o deixou? Ela trabalha em que?

- Acho que ela tem ciúme do meu trabalho.., eu consegui por cliente uma casa de massagens eróticas.., e ela não entendeu o meu profissionalismo..

Ela é assessora num alto escalão do governo, é muito bem relacionada.., participa de muitas associações, sindicatos e movimentos sociais e políticos.., tome um cartãozinho de visitas dela... Diga-lhe que tenho os meus direitos e mostre-lhe que não estou brincando..!

- Calma...! Einstein já dizia que tudo é relativo...Calma..! Vocês ainda estão conversando? A separação é pra valer?

- Conversamos sim! Eu conto a ela tudo o que faço e converso, não quero que ela pense que tenho uma vida fácil. Mas, eu acho que ela só conversa comigo pra ver se eu saio do apartamento numa boa. Ela tem pavor de briga. Ela pode perder o emprego dela.., sabe ? Já pensei até em ir falar com o chefe dela... Ela não me conhece, quando fico bravo e luto por meus direitos...!

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- O Sr. já pensou em se especializar no exterior ? Ampliar os seus horizontes.., investir em know-how, divulgar o seu trabalho. Sua ex-namorada vendo seus esforços e sucesso poderá reconsiderar a decisão dela, ou o Sr. poderá encontrar um apartamento melhor, quero dizer, uma namorada mais compreensiva e perceptiva. 

- Puxa Dr.! Que idéia boa...! Eu posso começar por avaliar uma Cia. Aérea que faça transportes internacionais.., o Sr. conhece alguma ?

- Sim.., a “ Cia. Aérea Vaya con Diós ”, e eles também indicarão uns hotéis no exterior que o Sr. poderá avaliar...! Mas só informe aos hotéis do seu trabalho e objetivos depois de um certo tempo, certo?

- Obrigado Dr. Armando, vou fazer isso sim.., desculpe tomar tanto o seu tempo.., o Sr. é um homem de visão...

- Não se preocupe com isso.., assim como o Sr., eu não sou imediatista, acredito em investimento indireto. Recomendações à sua ex-namorada...!

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- Dona Lacíviaaaaa...! Telefone para o Miguelito da “ Vaya Com Diós” e informe que aquela passagem só de ida vai ser usada por esse Sr. que acabou de sair daqui, e que nós não o conhecemos.

Depois, coloque a nossa música de fundo para clientes especiais e telefone para o número que está neste cartãozinho...

29.05.08.

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O ZÉ E O CAVIXÍ 


Na vida comum se chamava Zé, de figura simples: 1,70 mts. de altura, e outro tanto de barriga, motivo de piadas veladas, porque de feição sisuda, não dava trela e nem se misturava a disque-disque. 

Costeletas Elvis Presley e bigodão liso, cheio e preto.

Oculto e incansável pilar da empresa, fazendo as tarefas rejeitadas e as não divulgadas, as que apareciam prontas a tempo e a contento.
Boi de carro confiável, amigo, discreto e de boa paz. 
Assim era o Zé ! 
Os que enxergavam, viam o Zé atender os de real mando. Os demais, o olhavam com desdém, impressionados com salas, cargos, gráficos e palavras. 
Esses passavam, o Zé permanecia!

* * *

Cavixí, não foi apenas o apelido que lhe deu o Dr. Armando Rollus, amigo e companheiro de trabalho, e usado somente por este, em situações especiais, e só por eles entendido. 

Cavixí, também era código de alerta: rabo na parede, olho vivo, boca fechada, e pronto pro pior. Era ainda, a reafirmação da confiança entre ambos, provada por duas décadas de lealdade em situações hostis, dúbias e de risco, que atravessaram juntos. 

Cavixí ! Arreia o burro, bota a estrela do jurídico, que saímos em missão de guerra..
Quem ? Quando ? O de sempre ?

- Fulano.., na 5a., o de sempre..

Isto queria dizer que: todas as informações sobre o réu deveriam ser colhidas, e sigilo absoluto sobre tudo – já haviam sido traídos pelos companheiros de empresa, e que, tinha Fórum pelo meio e dificuldades eram esperadas. 

Significava também, que o carro e dinheiro deveriam ser providenciados, e que a saída seria às 03:00 hs. da casa do Dr. Armando.

* * *

O bigodão do Cavixí, além de ornamento - de gosto duvidoso - tinha vida própria. Era um termômetro emocional. Eriçava-se como um ouriço, quando o Cavixí passava por uma agitação interna, ou murchava como ameixa seca, quando frustrado. 

O bigode ainda servia de sismógrafo, sendo indicador seguro de confusões de maior porte. 

Por sua vez, o gesto de alisar o bigode, acompanhado de um estufar de peito, significava que Cavixí havia tomado uma decisão importante que seria posta em prática. 

Certa feita, voltavam lá das bandas de Guaíra, após o almoço, e o Dr. Armando cochilava no banco do carona, quando foi despertado por um arranque brusco do carro. Olhou para Cavixí, que acabava de alisar o bigode e ainda estava com o peito estufado. 

Que foi, Cavixí ?! Isso é jeito de me acordar..? 

- Duas loiras, numa caminhonete importada..., passaram por nós “a toda”.., e mexeram com a gente...! Vamos pegar...!

- Cavixí ! Por 3 razões, nós não vamos fazer isto: 1a) não temos carro para tanto; 2a) não temos motorista pra isso, e 3o.) se pegarmos e as loiras toparem, nós vamos correr da raia. Então, volta pro 120 e me deixa dormir...!

E o Dr. Armando ficou vendo o bigodão murchar. 
Noutra, estavam numa imissão de posse de uma área rural, quando foram cercados por vários trabalhadores, portando foices e enxadas.

‘cê qué vê o estrago da foice, na sua pança ?! E num vem arrepiando o bigode não..!

Olha aqui..! Nós estamos na Lei e vocês têm que obedecer..! Vamos saindo..! 

Depois de cessado o furdunço, conversaram: 

- Ô Dr. Armando ! Achei que dessa vez, a gente tinha encontrado a “forma para o pé”...! 


Não só para o pé..! Caramba..! Esse seu bigode, de ponta-cabeça, ficou um sarro..! Escuta..! No Congresso Nacional, pagam “auxílio-terno”, vou tentar conseguir um “auxílio-bigode” pra você..! 

Por que, você não vai à ....

E noutra, estavam numa churrascaria, lá pro Centro-Oeste, e mantinham o trato: comida pesada e álcool, só depois de encerrado o expediente e guardados o carro e a pasta. Durante o dia, era “misto-frio” e coca-cola, pra não dar peso e sono.

Ofereceram pinga de mandioca para os dois, e o Dr. Armando, que já conhecia o artigo, incentivou: 

Eu quero..! Olha lá, Cavixí..! Esse troço é forte pra burro...! 

Tenho medo de cachaça não..! Venha a tal pinga de mandioca..

E aí, Cavixí ?! Boa a pinga ? 

Tran qui lo ! ssssssssssshhhhhhhhhhhh ¡ 

Não é por nada não...! Mas seu bigode tá ouriçado...! Isso..! Toma esse copo de cerveja..! 

* * *

Cavixí era um gourmet, e de cardápio universal. Já que passava uma boa parte da vida na estrada, conhecia os bons restaurantes e a especialidade de cada um.

Porém, a idade de risco, o excesso de peso e o volume da pança, levaram o Cavixí a uma séria decisão: - Vou fazer regime ! Anunciou. 

Na próxima viagem, Cavixí discorreu longamente sobre os benefícios de uma alimentação frugal, sadia, e da importância de manter-se no peso.

À noite, foi escolhida uma churrascaria, onde Cavixí comeu vagarosamente uma folha de alface, e na seqüência, devorou o balcão de frios, as entradas todas, meia dúzia de pães e se serviu fartamente de todos os espetos que foram trazidos à mesa, sem prejuízo das cervejas e do “quebra-gelo”. 

Ao término, anunciou que iria tomar uma coca-cola, para ajudar na digestão. Chamou o garçom, requereu a bebida, e instruiu, muito circunspeto: 

- Diet, estou de regime !

* * *

Cavixí, não era valentão, mas nada tinha de covarde ! Era um homem respeitador da Lei, muito embora tivesse idéias próprias sobre aqueles que a aplicam! 

No entanto, percebia-se que tinha lá “um certo receio” de sua mulher, de quem estava se divorciando. 

Sendo de natural fechado, nada se poderia fazer, enquanto Cavixí não abordasse o assunto, que já era de público e notório conhecimento. 

estou me separando da minha mulher.., eu queria saber se ela pode fazer alguma coisa contra mim...

dizem por aí.., não leve a mal.., que você tem uma namorada, há uns 6 anos...

pois é...., se ela sabe e não fez nada.., ela concordou.., não é ? Por mim, eu ficaria com as duas...! Mas elas não querem...

creio que não..., mas me conta uma coisa..,vocês se separando e morando na mesma casa.., não tem risco de violência..? Sabe como é, né ? Isso pode virar coisa séria...! 

Bom..! Eu durmo no quarto dos fundos.., e coloco a cadeira escorando a maçaneta da porta.., e evito passar perto dela, quando está cozinhando..., ontem mesmo, eu cheguei em casa e fui entrar pela cozinha..., ela estava picando tomate com a faca grande...

E.. ?! 

Dei a volta e entrei pela porta da sala... 

Vamos tentar a separação consensual, ok ?!

- Ta !


* * *

Numa ocasião, estavam no Mato Grosso do Sul e pararam numa lanchonete de beira de estrada para tomarem um refrigerante. O calor estava terrível. 

Atendendo o balcão, cheio de locais mal encarados, um ser indefinido: magro, com roupas folgadas, cabelo curto, sem barba, voz fina e estridente. 

Pediram o refrigerante, tomaram, e pediram mais: 

Senhora, por favor, mais duas cocas...! 

SENHORA ???!!! Guinchou o ser! 

O ser era masculino! E os do local foram se levantando, para acertarem as contas com o Dr. Armando e o Cavixí, que nestas alturas, tinha o bigode totalmente eriçado. 

Dr. Armando enfiou a mão dentro da pasta, em atitude decidida, ao mesmo tempo em que encarava os locais, e dizia ao Cavixí: 

Cavixí.., sai primeiro e liga o carro...

- É pra já...

E pro ser, que continuava indefinido, mesmo tendo se identificado: 

É ! Duas latas.., pra viagem..! 

O Dr. Armando pagou, mantendo a mão dentro da pasta, e saiu com as latas de Coca-cola. 

Quilômetros adiante: 

Ô Armando ! Tinha que chamar o cara de Senhora ? 

E como é que eu ia saber que era um cara ? Não tinha indicação nenhuma...

Chamasse de você.., oi, psiu, sei lá ! 

Ta bom ! O próximo esquisito é teu...! 

E ficamos sem o lanche e banheiro...! 

Para de reclamar Cavixí, era pra gente tá apanhando até agora...! Na próxima cidade a gente para. 

Você não ta armado ? 

Não, eu não, e você ? 

Puta que pariu ! Vamos logo, antes que os caras venham atrás., e na semana que vem, tenho que voltar aqui.

Traga flores...! 

* * *

Para Cavixí, não tinha empecilho ou timidez que o impedisse de realizar as tarefas.

Uma vez, entrou num galinheiro, para retirar um veículo que havia sido escondido. O réu não conhecia Cavixí.

Ô moço, você num pode mexe com minhas galinhas não...! Vô te levá pro Fórum...

Então o Sr. tira as galinhas da frente do carro...

Tiro não...! E se machucar minhas galinhas, vai dar rolo...! 

Então o Sr. vai buscar suas galinhas no Fórum...

E saiu com o carro de dentro do galinheiro, arrebentando tudo. Dois dias depois, ainda catava penas e titica pelo corpo.

Noutra, sabendo como funcionam os Fóruns, pediu o imediato deferimento de uma petição e foi encaminhado ao Juiz. 

Ia saindo, depois de obter o necessário, e lhe perguntaram se ele era o advogado que tinha assinado a petição. 

Por economia de tempo e medo de um eventual entrave, disse que sim, cumprimentou formalmente a todos e se retirou.

* * * 

Dizem, que um motorista para ser tido como experiente, deve ter dirigido, pelo menos, 350.000 kms. na estrada. Cavixí, segundo as estatísticas feitas pelo Dr. Armando, já completara os 5 milhões de quilômetros rodados, nas estradas brasileiras, sem um único acidente. 

Na humildade dos seus 500.000 kms., o Dr. Armando tinha a confiança de Cavixí, a ponto de se felicitarem mutuamente, quando escapavam de acidentes certos: 

Cavixí ! Se eu tivesse na boléia, não tinha sobrado nem os documentos! Cara ! Sair por cima do canteiro, para escapar daquela dona parada no asfalto, foi 10. Para num posto, que eu preciso de um café..! 

Primeiro um banheiro...! Não sei qual de nós dois se borrou..., mas tá fedendo...! 

Os dois...! 

Noutro: 

Cavixí, cacete ! O caminhão desceu o barranco do lado de lá, e vai sair na nossa frente...! Vai dar o “L”. Vo pro barranco...

Sei lá, meu...! Voce é quem tá dirigindo....! Cacete...! O caminhão tá vindo....! Vai dar o “L” ! 

Peraí.. ! Vou tentar espremer na pedreira.....! Escorrega não, merda....! Vixe...! Essa foi por pouco...! 

Cara ! Se é comigo..., a gente tava pregado no pára-choque do caminhão...! Valeu...! 

Isso aí, Cavixí ! E aí? Vai um banheiro? 

Pra dois..! 


* * *

Ao ir embora da empresa, o Dr. Armando não quis se despedir do Zé, e muito menos do Cavixí. 

Anos depois, o encontrou na rua e se abraçaram. Ficaram mais de 2 horas conversando. E Cavixí disse:

Você me deve uma explicação, que eu te pedi há anos, e você disse que um dia contaria. O que quer dizer, Cavixí? 

Há um livro, antigo, chamado “Os Irmãos Leme”, eu não me lembro o autor. E um dos irmãos, o João Leme, tinha um amigo, de inteira confiança, a quem ele confiava a vida e tudo o que tinha. Esse amigo se chamava Cavixí. E quando ele dizia: - Cavixí, arreie a tropa e arreúna os homens, que é missão de guerra ! Era um Deus nos acuda! Veio daí! 

Por que, você não me contou antes ? Você também é Cavixí pra mim...! 

Sempre...! Um nunca deixou o outro sozinho na fria ! É uma honra merecer a sua confiança! 

Uma vez, alguém tentou brincar, chamando-o de Cavixí, e recebeu em troca um olhar frio de advertência.

Era tratamento pessoal e privativo!

Este era o Cavixí ! 

Alan – 19.11.06

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